A água é um recurso fundamental para a vida no planeta.
Porém, o acesso à água potável ainda não é uma realidade para mais de um quarto da população mundial. Mais de 60% das zonas úmidas naturais foram perdidas para a atividade humana no último século. Em várias regiões do planeta, a insegurança hídrica está cada vez mais intensa por causa das mudanças climáticas.
Além da escassez, estima-se que 1,8 bilhão de pessoas em todo o mundo bebam água imprópria para o consumo humano, o que tem impacto direto na saúde.
Em 2010, a Assembleia Geral das Nações Unidas reconheceu o direito à água e ao saneamento como um direito humano. Em 2015, os Estados membros da ONU adotaram um novo plano de ação para o desenvolvimento sustentável, a Agenda 2030, que estabeleceu entre seus 17 objetivos o de assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos e todas (ODS 6).
Diante disso, Anna Luisa Santos, uma jovem brasileira apaixonada por ciência, decidiu agir. Aos 15 anos, inscreveu-se no Prêmio Jovem Cientista com a proposta de solucionar um problema comum na região onde morava, a escassez de água potável no semiárido do nordeste brasileiro. Ela não venceu, mas continuou aperfeiçoando sua ideia.
Em 2018, Anna Luisa participou do Camp de Ecoinovação, promovido pela ONU Meio Ambiente, SEBRAE e Greennation, durante o Fórum Mundial da Água, e venceu na categoria ‘ideias’. No mesmo ano, com apoio do Instituto TIM, lançou os primeiros modelos do Aqualuz, uma tecnologia que purifica a água por meio de radiação ultravioleta.
O dispositivo é acoplado às cisternas (reservatórios de coleta de chuva comumente utilizados no semiárido brasileiro) e elimina 99,9% das bactérias, sem usar nenhum produto químico tóxico. Além de uma vida útil de 20 anos, a manutenção é simples e o custo é de três centavos a cada 10 litros de água tratada.
O Aqualuz já está presente em 53 residências, em cinco dos nove estados do semiárido brasileiro.
A Anna Luisa Santos é uma das finalistas do prêmio Jovens Campeões da Terra e conversou com a ONU Meio Ambiente sobre a sua empresa Safe Drink for All / Aqualuz e sobre a questão da segurança hídrica para as próximas gerações
Quando surgiu a ideia do Aqualuz e como você conseguiu torná-la realidade?
Sempre lembro de um dia na escola quando vi o cartaz para o prêmio de jovem cientista. O tema era a água e, por coincidência, aquele ano (2013) tinha sido estabelecido pela UNESCO como o Ano Internacional de Cooperação para a Água. Como eu estava muito interessada em ciência, decidi elaborar um projeto, olhando para tecnologias sustentáveis de tratamento de água. Eu não ganhei o prêmio, mas o projeto foi tão especial que segui trabalhando nele. Alguns anos depois, quando comecei a cursar Biotecnologia na Universidade Federal da Bahia, um dos professores me incentivou a melhorar e desenvolver a ideia. Acho que sair dos círculos científicos e começar a olhar de maneira empreendedora também criou possibilidades que permitiram tocar o projeto. Em 2015, fundei a startup Água Potável e Segura para Todos (Safe Drink for All, em inglês). Cercada por muitos parceiros, membros de equipe e sonhando em transformar o mundo por meio da água, o projeto alavancou.
Em que ponto você decidiu redirecionar a ideia para a região do semiárido? Como isso aconteceu?
Cresci no estado da Bahia, que abriga uma grande parcela do Semiárido brasileiro, e sempre ouvi falar muito das dificuldades da vida nas regiões mais pobres - da insegurança alimentar à escassez de água. Com o fortalecimento do projeto, ficou evidente que a tecnologia era mais adequada para aquela região. Ficamos realmente muito felizes quando vimos que a ideia poderia desempenhar um grande papel em regiões com maior vulnerabilidade hídrica. Ao desenvolver uma tecnologia inovadora, além de pensar na eficiência técnica devemos sempre pensar nos usuários finais, de forma a criar algo que possa integrar-se aos valores e costumes locais.
Como as premiações, os processos de aceleração e os mecanismos de apoio ajudam o Aqualuz?
Eles nos ajudam muito! Por exemplo, ganhamos o Camp de Ecoinovação organizado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pelo SEBRAE no Fórum Mundial da Água em 2018. Isso nos deu muita credibilidade e abriu portas para buscarmos financiamento e assistência. As parcerias nos permitiram implementar os primeiros projetos, receber orientações e mentorias, além de contar com uma rede com potenciais parceiros.
Como você imagina o futuro e os desafios para o projeto?
Nosso objetivo no curto prazo é alcançar todos os estados semiáridos brasileiros. Ainda faltam quatro de nove. No longo prazo, queremos que o Aqualuz esteja presente em todas as regiões semiáridas do mundo, seja na América Latina, na África ou na Ásia, atendendo todas as pessoas que demandam essa tecnologia. Ao mesmo tempo, na Safe Drink for All, pretendemos desenvolver outras tecnologias para saneamento, gestão de resíduos e fazer análises sobre outras questões relacionadas com a água.
Que conselho você daria aos jovens inspirados que querem enfrentar os desafios ambientais e sociais do nosso tempo?
Do que eu aprendi, resiliência é a palavra-chave. Nesses anos de desenvolvimento da ideia, tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas brilhantes, negócios sociais empreendedores, e a diferença entre aqueles que fazem isso e aqueles que estão estagnados é a persistência. Às vezes não é suficiente ter uma ideia interessante, você também precisará mostrar que ela é realmente viável, seja testando ou aperfeiçoando. Dificuldades sempre aparecerão, mas se você realmente acredita na ideia e tem o sonho de mudar o mundo, permaneça resiliente e esse sonho se materializará.
O Prêmio Jovens Campeões da Terra, apoiado pela Covestro, é a principal iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente para jovens com soluções inovadoras para enfrentar os principais desafios ambientais do nosso tempo.
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