As populações do semiárido brasileiro, região que ocupa cerca de 18% do território nacional, enfrentam diversos desafios socioambientais, como ciclos de chuva escassos, solos degradados e altas temperaturas. Em conjunto com políticas públicas específicas para a região, ideias inovadoras e sustentáveis podem ajudar a amenizar o impacto destas características locais - e ainda gerar benefícios para as pessoas e o meio ambiente.
Esta é a visão do arquiteto brasileiro Bernardo Andrade, usar a bioconstrução para reduzir os impactos ambientais da construção civil enquanto apoia o desenvolvimento e a segurança alimentar e hídrica das famílias. Ele criou um protótipo chamado “Casa do Semiárido”, de baixo custo, que utiliza recursos locais, como madeira e terra, e se adapta às necessidades específicas do Semiárido. O modelo foi projetado para minimizar o uso de recursos, reutilizar água e materiais e integrar práticas agrícolas regenerativas e sustentáveis.
Bernardo é um dos cinco finalistas da América Latina e Caribe no prêmio global Jovens Campeões da Terra e conversou com a ONU Meio Ambiente sobre sua trajetória e projeto.
O que despertou seu interesse por habitação sustentável?
Quando estava na universidade, assisti um documentário de Michael Reynold que teve um grande impacto na maneira como eu pensava a arquitetura. Então, decidi ser voluntário no instituto dele, no Novo México, Estados Unidos, para aprender algumas das técnicas mostradas no documentário, como o uso de materiais considerados resíduos em projetos de alvenaria e incorporação de plantas que realizam serviços ecossistêmicos de saneamento. Também fiz outros cursos sobre agricultura sustentável e princípios da permacultura, assuntos que me interessavam. Ao concluir a minha graduação, todos esses elementos faziam parte da minha concepção de habitação tanto quanto a que havia aprendido no curso de arquitetura.
E o que fez você decidir usar essa abordagem voltada para o Semiárido brasileiro?
Fui criado em um centro urbano, mas parte da minha família vem do Semiárido. Desde cedo tive contato com as dificuldades da região. Além disso, estava conectado a uma ONG internacional que atua na região para melhorar os meios de vida das comunidades locais. Foi então que decidi fazer uso de meu conhecimento para tentar introduzir aspectos sustentáveis no trabalho que era feito no Semiárido.
Ao desenvolver um projeto, como as características ambientais locais são consideradas?
A escassez de água é provavelmente o maior problema do Semiárido. Assim, ao planejamos a casa modelo, pensamos em expandir os reservatórios tradicionais de captação de água. Também criamos mecanismos para armazenar e reutilizar este recurso, separando a água destinada às pias e chuveiros (água cinza) daquela que abastece a descarga de vasos sanitários.
Na casa do semiárido adotamos mecanismos de baixo custo. A água cinza é filtrada com o uso de bananeiras e é reutilizada, por exemplo. Já a água da descarga passa por uma câmara subterrânea com múltiplas camadas de plantas, como o mamão, que absorvem seus nutrientes. Além de fazerem o tratamento da água, estas plantas ainda produzem alimento para as famílias e animais. Além disso, construímos todo o entorno da casa de forma que retenha o máximo de umidade possível, preservando a vegetação local sem perda da fauna original, regenerando gradualmente os solos degradados e possibilitando a produção agroflorestal para consumo e renda.
Quais são os próximos passos para a Casa do Semiárido?
Pretendemos criar um manual didático e acessível que possa transmitir às comunidades locais os conhecimentos e técnicas implementados. Ao mesmo tempo, no nível local onde a construção está sendo realizada, queremos promover cursos gratuitos de permacultura e incentivar uma troca orgânica de conhecimentos, com o objetivo de fortalecer os laços comunitários. Acreditamos que grande parte dos desafios ambientais que se apresentam possuem solução humana, seja por meio de interação diária ou seja mostrando às comunidades as diferentes alternativas para melhorar os meios de subsistência, promovendo benefícios econômicos e ambientais.
O Prêmio Jovens Campeões da Terra, apoiado pela Covestro, é a principal iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente para jovens com soluções inovadoras para enfrentar os principais desafios ambientais do nosso tempo.
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Roberta Zandonai, Gerente de Comunicação Institucional, roberta.zandonai@un.org