Felipe Vilella: jovem brasileiro é finalista de prêmio da ONU por seu trabalho com agroflorestas

A população mundial está crescendo e deve atingir 9,7 bilhões em 2050. Isso coloca uma série de desafios socioambientais, como atingir padrões mais sustentáveis de produção e consumo, especialmente para atender a maior demanda por comida.

Atualmente, a produção global de alimentos responde pelo uso de mais de dois terços de toda a água doce consumida no mundo. Em algumas regiões também está ligada ao desmatamento e perda de biodiversidade. Ao mesmo tempo, o setor responde por mais de um quarto dos empregos no mundo e é também um dos mais vulneráveis às mudanças climáticas.

Práticas agrícolas sustentáveis têm sido uma alternativa bem-sucedida para regenerar solos e aumentar a produtividade agrícola enquanto protegem a saúde do meio ambiente e dos consumidores.

A agrofloresta é um destes sistemas, que combina diferentes espécies e culturas para viabilizar diversos serviços ecossistêmicos. Entre os benefícios estão o ganho de produtividade, menor uso de recursos e maior riqueza de nutrientes dos solos a longo prazo.

Encantado pela agrofloresta, Felipe Villela, um brasileiro residente na Holanda, criou a reNature, uma empresa que tem a missão de popularizar a prática. Agora, é um dos cinco finalistas europeus do prêmio Jovens Campeões da Terra. Conversamos com ele sobre seu engajamento e sua trajetória como empreendedor sustentável.

Felipe Villela

O que te inspirou a trabalhar com agrofloresta?

Tudo começou com meus pais. Meu pai sempre trabalhou com finanças e minha mãe era professora de yoga, sempre muito ligada à natureza. Acabei desenvolvendo um grande interesse pelos negócios e pela importância do meio ambiente. Além da minha educação, também identifico uma viagem de carro que fiz com um amigo como o fator gerador do meu interesse pela agrofloresta. Viajamos do sul do Brasil até a Amazônia e ficamos maravilhados com o estilo de vida e o conhecimento dos povos indígenas. A capacidade de produzirem medicamentos, roupas e alimentos contrastava com o desmatamento que observamos no caminho. Essa experiência me fez olhar as coisas sob uma nova ótica e me levou a estudar sobre como explorar os recursos naturais, principalmente a agricultura, de forma mais compatível com o bem-estar da natureza.

Este caminho que me levou à agrofloresta. Como foi criada a reNature?

Decidi me mudar para a Holanda porque senti que o assunto estava ganhando força aqui. Depois de alguns anos aprofundando meu conhecimento e construindo relacionamentos, decidi lançar a reNature, que é tanto uma fundação quanto uma empresa. reNature é a abreviação de restauração da natureza, e nosso objetivo à longo prazo é restaurar um milhão de hectares por meio da agrossilvicultura até 2030. Organizamos nossa ação em três diferentes esferas. A primeira é o mapeamento as principais commodities ligadas ao desmatamento no mundo. A segunda está em nosso contato com os empreendimentos. Oferecemos aos empreendedores a oportunidade de testemunhar em primeira mão nossas fazendas modelo em suas propriedades, e neste processo também criamos escolas modelo que capacitam os trabalhadores em técnicas agroflorestais. O terceiro ramo é o programa "change makers", que traz jovens de todo o mundo para desenvolver uma agrofloresta em área degradada. Este ano, o programa acontecerá na Amazônia e na Indonésia.

Quais são os maiores desafios para migrar de práticas agrícolas tradicionais em larga escala para a agrofloresta?

Acho que há dois conjuntos de desafios. A viabilidade de escalar a produção agroflorestal, por exemplo, ainda é questionada. Estamos desenvolvendo modelos que provam que a agroflorestal em larga escala pode ser bem-sucedida e também tem o potencial para ser mecanizada. O segundo desafio é de viabilidade econômica. Estamos estudando as principais mercadorias que garantem a rentabilidade de um modelo produtivo agroflorestal. O cacau e o café, por exemplo, têm sido especialmente adequados.

Quais é o caminho para mostrar os benefícios de produtos agroflorestais aos consumidores finais?

Esta é outra questão desafiadora. Eu acho que quando consideramos os princípios de valoração e contabilidade ambiental, podemos defender mecanismos de incentivos governamentais e de consumo que recompensem financeiramente os produtores agroflorestais pelos serviços ecossistêmicos que estão gerando em nível local, regional e global. A segunda questão é a das certificações. Hoje, a maioria das certificações são limitadas aos produtos orgânicos. Certificações específicas para produtos agroflorestais seriam bem-vindas para agregar valor aos produtos agroflorestais.

Olhando para trás em sua trajetória, que conselho você daria aos jovens que querem enfrentar os desafios ambientais de nossos tempos?

Tenho percebido cada vez mais que a geração mais jovem realmente quer fazer mudanças colocando energia na geração de impactos positivos. Penso em dois conselhos que posso dar. O primeiro é consumir produtos que sejam sustentáveis e trabalhar para associar um estigma positivo a estilos de vida sustentáveis. Quando você vê alguém agindo de forma sustentável, você deve reconhecer o mérito nisso e divulgar. Outro conselho que eu daria aos jovens é tentar reagir às previsões alarmantes ligadas às mudanças climáticas com ações. É importante identificar as oportunidades de forma empreendedora. Focando em soluções e unindo esforços com pessoas de mente positiva, podemos dimensionar ideias que podem ser realmente a mudança necessária e, ao mesmo tempo, gerar ganhos econômicos ao longo do caminho.

reNature

O Prêmio Jovens Campeões da Terra, apoiado pela Covestro, é a principal iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente para jovens com soluções inovadoras para enfrentar os principais desafios ambientais do nosso tempo.

 

 

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