Quando a etno-conservacionista Adjany Costa, de 29 anos, era mais jovem, a praia era o único lugar natural seguro para ir. A guerra civil, que afligiu a Angola por três décadas (até 2002), tornou a exploração de novos espaços impossível.
"Não podíamos ir muito longe por causa dos combates e das minas terrestres", lembra Adjany. "Mas todos os finais de semana, meu pai me levava à praia, que se tornou meu lugar preferido. Isso despertou em mim um grande respeito pela natureza".
Desde então, muita coisa mudou. Após o fim da guerra, e à medida que as comunidades regressaram a seus lares, Costa se sentiu na obrigação de explorar a selva.
Surgiu então a oportunidade de se unir à exploração sem precedentes da National Geographic no Delta do Okavango, em Angola. Uma jornada da qual ela nunca retornaria totalmente.
O que encontrou na remota comunidade de Luchaze, que vive nos planaltos angolanos e nas florestas de Miombo, nas cabeceiras de um dos maiores sistemas fluviais da África, o Okavango, foi um mundo curando suas feridas.
"O rio Cuito, onde vive a comunidade Luchaze, é fundamental para a manutenção dos níveis de água do Okavango em três países", explica. "Estudando biologia, o que mais me impressionou foi a forma como toda a natureza está interligada.
"Percebi, trabalhando com a comunidade, que se eles protegem as áreas florestais e os rios e nutrem sua vida selvagem, isso é fundamental para a manutenção de todo o ecossistema. Mas também me chamou a atenção que, por causa da guerra, essas comunidades perderam a conexão com seu entorno".
“Algumas crianças nunca viram um elefante, um grande ícone da região. A comunidade só está começando a se sentir em casa novamente agora e as gerações mais jovens estão explorando a paisagem e entendendo como ela funciona e se encaixa nesse momento”, reflete.
"Se você perguntar a qualquer pessoa da comunidade o que ela quer, escutará: sal, sabão, óleo, uma enfermeira e uma professora. Mas, com o tempo, percebi que o que eles realmente querem é um futuro".
"Estas comunidades não tiveram acesso à saúde e ao saneamento. Elas foram retiradas de suas terras e levadas a acreditar que seus valores, remédios e cultura eram inúteis. É difícil tomar decisões sobre o futuro, quando você está focado em fazer com que o dinheiro chegue no presente".
E é isso que Adjany Costa quer mudar. "Proteger a paisagem e trabalhar com as comunidades para um futuro a longo prazo é meu objetivo", explica. "Estou trabalhando com elas para devolver a terra de onde foram retiradas".
Parte deste trabalho é feito por meio de uma narrativa visual. Costa está trabalhando em uma série de gráficos e livros para documentar a herança da comunidade e educar os membros mais novos.
As "Histórias Mitológicas do Valor de Conservação", é um projeto de livro desenvolvido junto aos povos mais antigos da comunidade, para documentar narrativas orais sobre rios míticos e guardiões florestais, relacionando a poderosas mensagens ambientais. Será feita uma adaptação para que as pessoas mais jovens sejam ensinadas sobre diferentes histórias dos rios e florestas, para assim ajudá-las a se reconectarem com seu ambiente.
Uma foto do meu livro anterior mostra elefantes fugindo das florestas durante o conflito. As comunidades podem se relacionar com isso e construir uma conexão mais próxima com a paisagem", diz. "Mas, na verdade, deve ser o contrário: as gerações mais jovens devem contar suas próprias histórias.
Parte do trabalho de Adjany Costa envolve trabalhar com a comunidade por um período e estabelecer confiança. Dessa forma, pode capacitá-los a retomar o controle sobre seus recursos. “Só quando eles acreditarem que a terra é deles, eles realmente irão protegê-la”, afirma.
Em média, 200 espécies são extintas todos os dias. Um relatório recente da Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Serviços de Biodiversidade e Ecossistemas adverte que mais de um milhão de espécies está em risco, o que ameaça os últimos espaços selvagens e comunidades de povos indígenas que dependam delas.
Mais de um milhão de pessoas depende do rio Okavango, que é compartilhado por Angola, Namíbia e Botsuana. Seu delta, no Botsuana, abriga uma abundância de vida selvagem e icônica, incluindo uma das maiores populações mundiais de elefantes.
"Dependemos dos ecossistemas para a sobrevivência e as comunidades rurais mais vulneráveis ainda mais. Devemos estar conscientes de como nosso modo de vida impacta nosso meio ambiente e trabalhar com comunidades indígenas que dependam delas", observa.
"O que a comunidade de Luchaze mais quer é futuro. Ela cuida do meio ambiente há gerações. Este é o lugar que as pessoas querem que suas futuras gerações herdem".
Maxwell Gomera, Diretor de Biodiversidade e Ecossistemas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, disse: "O trabalho de Adjany mostra que indivíduos podem sim fazer a diferença".
"Vivemos em uma época que precisamos de mais ação para evitar crises da natureza e do clima. As escolhas são difíceis, mas podemos enfrentar o desafio agindo, com um interesse em comum para ajudar a natureza e as pessoas a prosperarem juntas".
O Prêmio Jovens Campeões da Terra, promovido pela Covestro, é a principal iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente para envolver os jovens na resposta aos desafios ambientais mais urgentes do mundo. Adjany Costa é uma das sete vencedoras anunciadas este ano! Fique atento para se candidatar em janeiro.
* This story was updated on 23 October 2019 in line with most recent statistics.