- Novo relatório do PNUMA apresenta um guia para aumentar a eficiência de recursos nas cidades por meio da economia circular, melhor conectividade, restauração de ecossistemas, entre outras ações.
- Se medidas não forem tomadas até 2050, as cidades da região excederão de duas a quatro vezes o limite do uso sustentável de recursos.
Panamá, 13 de dezembro de 2021 — Se uma transformação sustentável for adotada ainda nesta década, as cidades da América Latina e do Caribe podem reduzir o uso de recursos naturais pela metade, como os combustíveis fósseis, os minerais e os alimentos, ao mesmo tempo em que progridem no combate à pobreza e desigualdade, de acordo com um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O documento, de coautoria do Painel Internacional de Recursos (IRP, na sigla em inglês), estima que, até 2050, as cidades da América Latina e do Caribe gastarão de duas a quatro vezes mais recursos do que o que se considera sustentável, caso não adotem um planejamento abrangente e não invistam em sistemas de eficiência e economia circular. Esse cenário resultaria em uma degradação severa dos ecossistemas vitais.
O relatório O Peso das Cidades da América Latina e do Caribe: demanda futura de recursos e possíveis linhas de ação indica o caminho rumo a um planejamento urbano mais sustentável com recomendações que se dividem em quatro eixos — transporte e mobilidade sustentável, edifícios eficientes e sustentáveis, resíduos, e água e saneamento — para uma redução de consumo de recursos, desperdício, danos ambientais e emissões de gases de efeito estufa (GEE).
A nível mundial, as cidades geram até três quartos das emissões de GEEs. Segundo o IRP, a eficiência de recursos poderia reduzir a demanda de matéria-prima entre 15% a 25% e resultar na diminuição das emissões do setor industrial em até 30%.
O estudo revela que essas áreas urbanas na América Latina e no Caribe utilizaram anualmente entre 12,5 e 14,4 toneladas de recursos per capita em 2015 (ano mais recente com o maior volume de dados), sendo que mais da metade do armazenamento urbano de matéria da região está concentrada nas cidades brasileiras (38,1%) e mexicanas (21,1%).
Até 2050, contando com uma população regional de 680 milhões de pessoas, o uso de matéria doméstica urbana poderá chegar a 25 toneladas per capita, um número muito acima do limite de sustentabilidade considerado pelo IRP de 6 a 8 toneladas.
“Hoje, muitas pessoas da América Latina e do Caribe sofrem com os impactos do uso insustentável de recursos: degradação ambiental, falta de acesso a serviços e, por consequência, enfrentam um futuro sombrio. O planejamento de uma transformação sustentável é fundamental caso queiramos uma vida em harmonia com a natureza, sem deixar ninguém para trás, e uma recuperação sustentável após a pandemia de COVID-19”, disse Jacqueline Álvarez, Diretora Regional do PNUMA para a América Latina e Caribe.
Os autores e autoras do relatório reivindicam que a região busque uma intensificação de estratégias urbanas que, diferentemente da abordagem da expansão horizontal das cidades, consistam no aumento da densidade demográfica, do emprego e dos serviços dentro de um conjunto de centros urbanos conectados pela eficiência e pelo transporte público de baixo custo.
Ademais, esses territórios demandam edifícios mais sustentáveis que promovam a economia circular, coletem o lixo orgânico e melhorem o tratamento de água de modo a incluir o tratamento e a reutilização deste recurso, assim como a restauração de ecossistemas de água doce.
Se a gama de ações propostas nesse relatório for implementada, é possível que as cidades na América Latina e no Caribe reduzam o consumo anual de matéria per capita entre 6 e 7 toneladas até 2050.
O documento também destaca medidas que já estão em curso, como o melhoramento do transporte público em Fortaleza, com mais espaços urbanos para bicicletas e pedestres, o aproveitamento de águas pluviais na Cidade do México e o projeto de aquecimento distrital em Temuco (Chile).
Cidades sustentáveis, justas e mais prósperas
Segundo o relatório, nos últimos 40 anos, as áreas urbanas nessa região cresceram 99%, quase na mesma proporção que o aumento da população nas cidades durante esse período (95%). A incapacidade da maioria das cidades de controlar o crescimento populacional fez com que a desigualdade e a injustiça ambiental agravassem.
A redução da desigualdade agora exigirá uma resposta às necessidades das populações mais vulneráveis, por exemplo, a falta ou o afastamento de serviços públicos urbanos, infraestrutura precária, violência e poluição.
Os autores e autoras também pedem às autoridades que direcionem mais esforços às cidades médias, que crescem mais rápido que o normal. Recomenda-se também que sejam promovidas alianças mais fortes e uma maior cooperação nos níveis subnacional, sub-regional e regional.
NOTAS PARA EDIÇÃO
Citações adicionais
“A Cidade do México tem considerado a economia circular como uma diretriz básica que deve atravessar todas as políticas. Somente com a contribuição de todas as pessoas e de todos os setores é que poderemos desenvolver uma abordagem econômica circular que constitua a verdadeira sustentabilidade desta cidade, e o futuro de nosso planeta. Isso demonstra a importância de se tomar decisões locais com impactos globais, que é exatamente o espírito da Nova Agenda Urbana. Temos certeza de que a troca de experiências, as lições aprendidas, recomendações e reflexões de todos os setores sobre os benefícios da economia circular nos abrem uma grande oportunidade para seguir esse caminho, como é o caso do relatório elaborado pelo PNUMA", afirmou a Dra. Marina Robles García, Secretária de Meio Ambiente da Cidade do México.
“Uma das principais recomendações políticas do relatório Peso das Cidades é o fortalecimento dos processos de consulta a múltiplos atores em diferentes níveis para se alcançar ganhos impactantes quanto ao consumo e produção sustentáveis e ao ODS 12. Embora o programa nacional alemão de eficiência de recursos voltado para partes interessadas tenha como alvo o nível nacional, a experiência de quase uma década desse país em discutir os desafios da eficiência tem demonstrado a importância da governança multinível para que essas partes se apropriem e impulsionem tais práticas sustentáveis. Portanto, nós aderimos e elogiamos a abordagem recomendada nesse relatório pelo PNUMA e pelo IRP" - disse Timon Lepold, Oficial de Programa, Ministério do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha, Divisão WRII7 - Assuntos Europeus e Internacionais de Eficiência de Recursos; Políticas de Matérias-Primas.
Sobre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
O PNUMA é a principal voz global sobre o meio ambiente. Fornece liderança e incentiva parcerias com foco no cuidado com o meio ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e povos a melhorarem sua qualidade de vida sem comprometer a das gerações futuras.
Sobre o Painel Internacional de Recursos
O Painel Internacional de Recursos (IRP, na sigla em inglês) foi lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em 2007 para construir e compartilhar o conhecimento necessário para melhorar o uso de recursos em todo o mundo. O Painel é composto por cientistas eminentes com experiência em questões de gerenciamento de recursos. Ele estuda questões-chave sobre o uso de recursos globais e elabora relatórios de avaliação que divulgam as últimas descobertas científicas, técnicas e socioeconômicas para fundamentar decisões.
Para mais informações, favor entrar em contato com:
unep-brazil-news@un.org, Unidade de Comunicação do PNUMA Brasil