- As emissões de CO2 aumentaram para 9,95 GtCO2 em 2019. O setor é responsável por 38% de todas as emissões de CO2 relacionadas à energia ao adicionar as emissões da indústria de construção civil
- As emissões diretas de CO2 dos edifícios precisam ser reduzidas pela metade até 2030 para encaminhar o setor para a neutralidade climática até 2050
- Os governos devem priorizar edifícios de baixo carbono nos pacotes de estímulo pós-COVID-19 e na atualização de seus compromissos climáticos
Nairobi, 16 de dezembro de 2020 - As emissões da operação de edifícios atingiram seu nível mais alto de sempre em 2019, afastando o setor de seu enorme potencial para retardar a mudança climática e contribuir significativamente para os objetivos do Acordo de Paris, de acordo com um novo relatório divulgado hoje.
No entanto, os pacotes de recuperação pandêmica oferecem uma oportunidade para impulsionar a renovação profunda de edifícios e padrões de desempenho para edifícios recém-construídos, e reduzir rapidamente as emissões. A próxima atualização dos compromissos climáticos no âmbito do Acordo de Paris - conhecidos como Contribuições Nacionalmente Determinadas ou NDCs - também oferece uma oportunidade para aperfeiçoar as medidas existentes e incluir novas metas mais ambiciosas.
De acordo com Relatório de Situação Global 2020 para Edifícios e Construção, da Aliança Global para Edifícios e Construção (em inglês, Global Alliance for Buildings and Construction - GlobalABC), enquanto o consumo global de energia de edifícios permaneceu estável ano a ano, as emissões de CO2 relacionadas à energia aumentaram para 9,95 GtCO2 em 2019. Este aumento foi devido ao fato de a utilização direta de carvão, petróleo e biomassa tradicional ter sido substituída, em grande parte, pela utilização de eletricidade, que tinha um maior teor de carbono devido à alta proporção de combustíveis fósseis utilizados na geração.
Ao adicionar as emissões da indústria de construção civil às emissões operacionais, o setor foi responsável por 38% do total das emissões globais de CO2 relacionadas à energia.
"O aumento das emissões no setor da construção civil enfatiza a necessidade urgente de uma estratégia tripla para reduzir agressivamente a demanda de energia no ambiente construído, descarbonizar o setor energético e implementar estratégias de materiais que reduzam as emissões de carbono do ciclo de vida", disse Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
"Os pacotes de recuperação verde podem fornecer a faísca que nos fará avançar rapidamente na direção certa", acrescentou ela. "A mudança dos edifícios e da construção civil para um caminho de baixo carbono retardará a mudança climática e proporcionará fortes benefícios de recuperação econômica, portanto deve ser uma prioridade clara para todos os governos".
A fim de direcionar o setor para a neutralidade de emissões até 2050, a Agência Internacional de Energia (AIE) estima que as emissões diretas de CO2 dos edifícios precisam, até 2030, cair em 50% e as emissões indiretas do setor de construção em 60%.
Isto equivale a uma queda das emissões do setor da construção civil de cerca de 6% ao ano até 2030, próxima à redução de 7% das emissões globais de CO2 do setor energético devido à pandemia em 2020.
Segundo o novo Rastreador Climático de Edifícios da GlobalABC, que considera medidas como o investimento incremental em eficiência energética em edifícios e a participação de energia renovável em edifícios globais, a taxa de melhoria anual está diminuindo, mais especificamente, reduziu pela metade entre 2016 e 2019.
Para que o setor da construção civil se encaminhe para a neutralidade de emissões até 2050, todos os atores da cadeia de valor devem aumentar em cinco vezes as ações de descarbonização do seu impacto.
Embora o progresso nos esforços de eficiência não tenha acompanhado um aumento no crescimento setorial, há sinais positivos e oportunidades para recuperar o atraso na ação climática, segundo o relatório.
Potencial de recuperação verde
O recente Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2020 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) constatou que medidas sustentáveis de recuperação da pandemia poderiam ajudar a reduzir até 25% a emissão de gases de efeito estufa previstas para 2030 e aproximar o mundo do objetivo de limitar o aquecimento global em 2°C, como estipulado no Acordo de Paris sobre Mudança Climática. Muito mais precisa ser feito para se chegar à meta global de 1,5°C.
Os governos podem ajudar a alcançar essa meta incluindo sistematicamente medidas de descarbonização de edifícios em pacotes de recuperação: aumentando as taxas de renovação, canalizando investimentos para edifícios de baixo carbono, gerando empregos e aumentando o valor imobiliário.
Embora as atividades de construção tenham caído de 20 a 30% em 2020 em comparação com 2019 como resultado da pandemia e cerca de 10% dos empregos gerais tenham sido perdidos ou estejam em risco em todo o setor de construção civil, os programas de estímulo para o setor de construção civil podem criar empregos, impulsionar a atividade econômica e ativar cadeias de valor locais. Sob seu Plano de Recuperação Sustentável, a AIE estima que até 30 empregos na fabricação e construção seriam criados para cada milhão de dólares investidos em modernizações ou medidas de eficiência em novas construções.
Atualização de compromissos climáticos: uma janela para uma ação mais rápida
A maioria dos países ainda não apresentaram a renovação das suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC). Os edifícios continuam sendo uma área importante que carece de políticas de mitigação específicas, apesar de sua importância para as emissões globais de CO2. Dos que apresentaram NDCs, 136 países mencionam edifícios, 53 países mencionam a eficiência energética dos edifícios, e apenas 38 invocam especificamente os códigos energéticos dos edifícios.
Os governos nacionais devem intensificar os compromissos nos NDCs, estratégias climáticas de longo prazo e apoio à regulamentação para estimular a adoção de edifícios com emissões líquidas zero. Isto significa priorizar códigos de energia de construção obrigatórios baseados em desempenho, juntamente com medidas de certificação amplamente difundidas e trabalhar em estreita colaboração com governos subnacionais para facilitar a adoção e implementação.
Aumento do investimento em edifícios com eficiência energética
Em 2019, os gastos com edifícios energeticamente eficientes aumentaram pela primeira vez em três anos, chegando a 152 bilhões de dólares em 2019, 3% a mais do que no ano anterior.
Esta é apenas uma pequena proporção dos 5,8 trilhões de dólares gastos no total no setor da construção civil, mas há sinais positivos de que a descarbonização de edifícios e a eficiência energética estão se tornando realidade nas estratégias de investimento.
Por exemplo, das 1.005 incorporadoras, imobiliárias e fundos de investimento que reportaram ao Global ESG Benchmark for Real Assets em 2019, – e que administram mais de US $ 4,1 trilhões em ativos sob gestão – , 90% alinham seus projetos com os padrões de qualificação de edifício verde para construção e operações.
Na próxima década, os edifícios verdes representarão uma das maiores oportunidades de investimento global, estimada pelo Corporação Financeira Internacional em 24,7 trilhões de dólares até 2030.
Outras recomendações
Além de exigir um NDC verde de recuperação pós-pandêmico e atualizado, o relatório também recomenda que proprietários e empresas devem usar metas baseadas na ciência para orientar ações e se envolver com as partes interessadas em todo o projeto, construção, operação e usuários do edifício para desenvolver parcerias e construir capacidade.
Os investidores devem reavaliar todos os investimentos imobiliários através de uma lente de eficiência energética e de redução de carbono.
Outros atores em toda a cadeia de valor devem adotar conceitos de economia circular para reduzir a demanda por materiais de construção, reduzir o carbono incorporado e adotar soluções baseadas na natureza que aumentem a resiliência dos edifícios.
Citações adicionais:
Os edifícios são um setor estratégico para enfrentar simultaneamente vários desafios globais, como a mudança climática, a crise econômica resultante da pandemia da COVID 19, melhorar as condições de vida e a resiliência de nossas cidades. Para o México, a implementação de medidas de mitigação que melhorem o desempenho térmico e energético dos edifícios é um ingrediente-chave para a sustentabilidade". disse Sergio Israel Mendoza, Diretor Geral de Promoção Ambiental, Urbana e Turística da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais do México (SEMARNAT)
Precisamos tratar urgentemente das emissões de carbono dos edifícios e da construção civil, que constituem quase 40% das emissões globais de carbono. Devemos dar aos governos visibilidade disto na COP26 para inspirar políticas e decisões que resultem na significativa descarbonização deste setor", disse Nigel Topping, Campeão de Alto Nível Climático do Reino Unido. "Precisamos desafiar a incumbência do aço e do concreto". Se o aço carbono zero e o concreto se tornarão ou não os materiais do futuro, dependerá da rapidez com que essas indústrias inovarem diante de tecnologias novas e disruptivas. Temos alguns compromissos de longo alcance sob a Iniciativa de Metas Baseadas na Ciência por empresas líderes em materiais que podem servir como exemplos, empurrando a indústria para ir mais longe, juntos".
NOTAS AOS EDITORES
Sobre a Aliança Global para Edifícios e Construção (GlobalABC)
A GlobalABC é a plataforma global líder para governos, setor privado, sociedade civil e organizações intergovernamentais e internacionais para aumentar a ação em direção a um setor de construção e edifícios eficientes e resilientes, com emissões zero. A GlobalABC foi um resultado chave da conferência climática da ONU de 2015.
Sobre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
O PNUMA é a principal voz mundial sobre o meio ambiente. Ela proporciona liderança e incentiva a parceria no cuidado com o meio ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e povos a melhorar sua qualidade de vida sem comprometer a das gerações futuras.
Para maiores informações, favor entrar em contato:
Roberta Zandonai, Gerente de Comunicação no PNUMA Brasil, roberta.zandonai@un.org .
*Tradução por Laura Larré, UNV Online.