Nairóbi, 28 de agosto de 2024 – Em metade dos países do mundo, um ou mais tipos de ecossistemas de água doce estão degradados, incluindo rios, lagos e aquíferos. O fluxo dos rios diminuiu significativamente, os corpos d'água superficiais estão diminuindo ou desaparecendo, a água está se tornando mais poluída e a gestão dos recursos hídricos não está acontecendo como deveria. Esses são alguns dos resultados de três relatórios sobre água doce, publicados hoje pelo ONU-Água e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
A série trienal de relatórios concentra-se nos progressos para alcançar a meta de Água Potável e Saneamento para todos (ODS 6) por meio da proteção e restauração de fontes de água doce. Com base em conjuntos de dados que são maiores do que nunca, os relatórios reiteram o apelo para ampliar o apoio aos Estados-membros na superação dos desafios por meio da estratégia sistêmica da ONU para água e saneamento e do próximo Plano de Implementação Colaborativa.
“Nosso planeta azul está passando por uma rápida redução de corpos e recursos saudáveis de água doce, com perspectivas terríveis para a segurança alimentar, as mudanças climáticas e a biodiversidade”, disse Dianna Kopansky, chefe da Unidade de Água Doce e Áreas Úmidas da Divisão de Ecossistemas do PNUMA. “Neste momento crítico, os compromissos políticos globais para a gestão sustentável da água nunca foram tão elevados, incluindo a aprovação de uma resolução sobre água na última Assembleia da ONU para o Meio Ambiente em fevereiro, mas eles não estão sendo acompanhados pelo financiamento ou ações necessários. Políticas de proteção e restauração, adaptadas para diferentes regiões estão interrompendo mais perdas e mostram que a reversão da degradação está ao nosso alcance. Nós definitivamente precisamos de mais delas.”
Degradação Generalizada
Há registros de 90 países , a maioria na África, Ásia Central e Sudeste Asiático, sobre o enfrentamento à degradação de um ou mais ecossistemas de água doce. Outras regiões, como a Oceania, registraram melhorias. A poluição, as represas, a conversão de terras, a extração excessiva e as mudanças climáticas contribuem para a degradação dos ecossistemas de água doce.
Influenciado pelas mudanças climáticas e pelo uso da terra, o fluxo dos rios diminuiu em 402 bacias ao redor do mundo – um aumento de cinco vezes desde 2000. Um número muito menor está apresentando aumento no fluxo dos rios.
A perda de manguezais devido a atividades humanas (por exemplo, aquicultura e agricultura) representa um risco para as comunidades costeiras, recursos de água doce, biodiversidade e clima, devido às suas propriedades de filtragem de água e sequestro de carbono. Foram registradas diminuições significativas de manguezais no Sudeste Asiático, embora a taxa líquida geral de desmatamento tenha se estabilizado na última década.
Lagos e outros corpos d'água superficiais estão encolhendo ou sendo totalmente perdidos em 364 bacias ao redor do mundo. Um nível elevado contínuo de partículas e nutrientes em muitos lagos grandes podem levar à proliferação de algas e a águas com baixo teor de oxigênio, causadas, principalmente, pelo desmatamento, urbanização e determinados eventos climáticos.
Entretanto, a construção de reservatórios contribui para um ganho líquido global de água permanente, principalmente em regiões como América do Norte, Europa e Ásia.
Baixos Níveis de Monitoramento da Qualidade da Água
A metade mais pobre do mundo contribui com menos de 3% dos dados globais sobre a qualidade da água, incluindo apenas 4,5 mil medições de qualidade de lagos de um total de quase 250 mil. Isso revela uma necessidade urgente de melhorar a capacidade de monitoramento.
A falta de dados em grande escala significa que, até 2030, mais da metade da humanidade viverá em países com dados inadequados sobre a qualidade da água para tomar decisões de gestão relacionadas ao enfrentamento de secas, inundações, impactos de efluentes de águas residuais e escoamento agrícola.
Onde bons dados estão disponíveis, eles mostram que a qualidade da água doce tem se degradado desde 2017. Onde os dados são escassos, os sinais não são promissores.
Os autores do relatório recomendam a expansão e o desenvolvimento de programas de monitoramento de rotina financiados pelo governo, bem como a incorporação da ciência cidadã nesses programas nacionais e a exploração do potencial da observação da Terra baseada em satélite e de produtos de modelagem de dados para ajudar a preencher a lacuna de dados.
Progresso inadequado na gestão de recursos hídricos em mais de 100 países
Equilibrar as necessidades concorrentes para o uso sustentável da água pela sociedade e pela economia requer a implementação da gestão integrada de recursos hídricos (GIRH) entre setores, em todos os níveis e para além de fronteiras até 2030.
47 países alcançaram totalmente ou quase alcançaram a GIRH, 63 países precisam acelerar a implementação, enquanto 73 países têm apenas capacidade limitada para a GIRH. No ritmo atual de progresso reportado, o mundo só alcançará uma gestão sustentável da água em 2049. Isso significa que, até 2030, pelo menos 3,3 bilhões de pessoas em mais de 100 países provavelmente terão estruturas de governança ineficazes para equilibrar as demandas concorrentes de água.
As soluções incluem o desbloqueio de financiamento por meio de estratégias de arrecadação de receita e de recuperação de custos, investimentos em infraestrutura e gestão, assim como ações coordenadas, maior capacidade institucional e melhores redes de monitoramento.
NOTAS AOS EDITORES
Sobre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
O PNUMA é a principal voz global sobre o meio ambiente. Fornece liderança e incentiva parcerias no cuidado com o meio ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e povos a melhorar sua qualidade de vida sem comprometer a das gerações futuras.
Sobre a ONU-Água
A ONU-Água coordena o trabalho da ONU sobre água e saneamento. É composta por Estados-membros da ONU e organizações internacionais que atuam em questões de água e saneamento. O papel da ONU-Água é garantir que membros e parceiros "atuem como um só" em resposta aos desafios relacionados à água.
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