Frankfurt / Nairóbi, 10 de junho de 2020 – Enquanto a indústria de combustíveis fósseis está sendo atingida pelos impactos do COVID-19, as energias renováveis atingiram seu pico de lucratividade, de acordo com um novo relatório divulgado hoje. A redução de custos é uma oportunidade para que pacotes de recuperação econômica pós-pandemia priorizem as energias limpas, além de aproximar o mundo do alcance dos objetivos do Acordo de Paris.
O relatório “Tendências Globais no Investimento em Energia Renovável 2020”, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Centro de Colaboração da Escola de Frankfurt-PNUMA e BloombergNEF (BNEF), analisa as tendências de investimento de 2019 e os compromissos assumidos pelos países e empresas com a energia limpa na próxima década.
O estudo identificou compromissos que resultam em 826 GW de energia renovável não hidrelétrica, a um custo provável de cerca de US$ 1 trilhão, até 2030. Para limitar o aumento da temperatura global em até 2 graus Celsius – o principal objetivo do Acordo de Paris, seria necessário atingir 3.000 GW até 2030. A quantidade exata, entretanto, depende da combinação de tecnologias escolhidas.
Os investimentos previstos até 2030 também ficaram muito abaixo dos US$ 2,7 trilhões comprometidos com energias renováveis na última década.
O relatório também mostra que o custo da instalação de energia renovável está menor, o que significa que investimentos futuros resultarão em resultados melhores. Em 2019, a capacidade de energias renováveis, excluindo grandes barragens hidrelétricas de mais de 50 MW, aumentou 184 GW, 12% a mais que em 2018. Apesar disso, o valor em dólar do investimento em 2019 foi apenas 1% maior que no ano anterior, de US$ 282,2 bilhões.
Graças a melhorias tecnológicas, economias de larga escala e concorrência acirrada em licitações, o custo total ou nivelado da eletricidade continua caindo para energia de fontes eólica e solar. No segundo semestre de 2019, as novas usinas solares fotovoltaicas reduziram custos em 83%, em comparação à década anterior.
"Cada vez mais vozes estão pedindo aos governos que os pacotes de recuperação pós-pandemia sejam usados para criar economias sustentáveis. Essa pesquisa mostra que a energia renovável é um dos investimentos mais inteligentes e econômicos que podemos fazer”, afirma a diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen.
“Se os governos aproveitarem a queda no valor das energias renováveis para colocá-las no centro da recuperação econômicapós-COVID-19, daremos um grande passo rumo a um mundo natural saudável, que é uma das nossas melhores chances contra futuras pandemias”, explica Andersen.
Na última década, as energias renováveis têm ocupado uma parte crescente do mercado de geração de energia elétrica baseado em combustíveis fósseis. Quase 78% dos novos GWs gerados em 2019 correspondem a energia eólica, solar, de biomassa, resíduos, geotérmica e pequenas hidrelétricas. Esse incremento, que exclui as grandes hidrelétricas, foi três vezes maior que o das novas usinas de combustíveis fósseis.
"As energias renováveis, como a eólica e a solar, já representam quase 80% da capacidade recém-instalada para a geração de eletricidade. O mercado e os investidores já estão convencidos de sua confiabilidade e competitividade", diz a Ministra do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha, Svenja Schulze.
"A promoção de energias renováveis pode ser um mecanismo poderoso para a recuperação da economia após a pandemia, criando empregos novos e seguros", acrescenta.
“Ao mesmo tempo, elas melhoram a qualidade do ar, o que também protege a saúde pública. Ao promovê-las no âmbito dos pacotes de estímulo econômico pós-coronavírus, temos a oportunidade de investir na prosperidade, na saúde e na proteção do clima".
O relatório também destaca outros recordes em 2019:
- As maiores adições de energia solar em um ano, de 118 GW.
- O maior investimento em energia eólica offshore em um ano, com US$ 29,9 bilhões – um aumento de 19% em relação ao ano anterior.
- O maior financiamento para um projeto de energia solar, com US$ 4,3 bilhões, para o Al Maktoum IV nos Emirados Árabes Unidos.
- O maior volume de contratos corporativos de compra de energia renovável, de 19,5 GW em todo o mundo.
- A maior capacidade em licitações de energia renovável, de 78,5 GW em todo o mundo.
- O maior investimento em energias renováveis em economias em desenvolvimento, sem considerar a China e a Índia, totalizando US$ 59,5 bilhões.
- Investimentos cada vez maiores: um recorde de 21 países e territórios investindo mais de US$ 2 bilhões em energias renováveis.
“Vemos que a transição energética está em pleno andamento, com a maior capacidade de energias renováveis já financiada. Enquanto isso, o setor de combustíveis fósseis foi duramente atingido pela crise do COVID-19, com muitos países enfrentando a queda nos preços do petróleo e na demanda por eletricidade movida a carvão e gás”, afirma o presidente da Escola de Finanças e Administração de Frankfurt, Nils Stieglitz.
“A crise climática e a crise do COVID-19, apesar de suas naturezas distintas, são rupturas que chamam a atenção tanto de formuladores de políticas públicas quando de gestores. Ambas demonstram a necessidade de maior ambição climática e de mudança das matrizes energéticas rumo às renováveis”.
Em 2019, a participação de fontes renováveis na geração global de energia, sem considerar as grandes hidrelétricas, subiu para 13,4%, ante 12,4% em 2018 e 5,9% em 2009. Isso significa que as fontes de energias renováveis impediram a emissão de aproximadamente 2,1 gigatoneladas de dióxido de carbono em 2019. Isso representa uma economia substancial, dadas as emissões globais de aproximadamente 13,5 gigatoneladas em 2019.
"A energia limpa se encontra em uma encruzilhada em 2020", explica o diretor executivo da BloombergNEF, Jon Moore.
“Tivemos um enorme progresso na última década, mas as metas oficiais para 2030 estão muito aquém do necessário para lidar com as mudanças climáticas. Quando a atual crise diminuir, os governos precisarão olhar não apenas para a energia renovável, mas também para a descarbonização dos meios de transportes, da construção civil e das indústrias”, conclui.
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