DISCURSO PROFERIDO POR: Inger Andersen
PARA: 37ª Cúpula da União Africana
LOCAL: Adis Abeba, Etiópia
S.E. William Samoei Ruto, Presidente da República do Quênia,
S.E. Moussa Faki Mahamat, Presidente da Comissão da União Africana,
S. E. Azali Assoumani, Presidente da União das Comores e Presidente em exercício da União Africana,
S.E. Embaixadora Josefa Sacko, Comissária da UA para Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Meio Ambiente Sustentável,
Excelências e amigos.
Permitam-me começar felicitando o Presidente da República da Mauritânia, Mohamed Ould Ghazouani, pela sua eleição como novo Presidente da União Africana. Estou ansiosa para um forte engajamento ao longo do próximo ano. Meus cumprimentos também a S. E. Azali Assoumani por sua liderança no último ano.
Este Comitê de Chefes de Estado e de Governo Africanos sobre as Mudanças Climáticas surge em um momento de verdadeira preocupação. As mudanças climáticas estão se intensificando. Terra, natureza e biodiversidade estão se desgastando. Poluição e resíduos estão adoecendo o planeta e as pessoas. É o que nós, do PNUMA, chamamos de tripla crise planetária.
Mas esse encontro também ocorre em um momento de, e é de fato por parte de uma crescente, liderança africana. As nações desse continente diverso não estão apenas controlando seus próprios destinos. Elas estão moldando os destinos dos outros. Em nenhum lugar isso é mais evidente do que no cenário ambiental internacional.
A África tem mostrado influência ao enfrentar a injustiça climática e ajudar a criar o Fundo de Perdas e Danos. A África tem mostrado liderança, por meio da Conferência Ministerial Africana sobre o Meio Ambiente, Cúpula do Clima da África e as estratégias da União Africana sobre clima e biodiversidade. A África tem demonstrado solidariedade, por meio da cúpula dos Países em Desenvolvimento sem litoral no Ruanda e em sediar na Uganda a cúpula do G77+China, sob o tema "Não deixar ninguém para trás".
Agora é a hora de a África liderar a ação. Sim, os grandes emissores, particularmente as nações do G20, devem atingir o zero líquido e aumentar o financiamento para adaptação e perdas e danos. Não nos esqueçamos aqui que a África agora é um membro permanente do G20, por isso tem mais influência. Mas essa é também a sua chance de mostrar ao Norte Global como deveria ter sido feito dando um salto em direção a sociedades de baixo carbono, resilientes ao clima e prósperas. Por meio da energia limpa, do apoio à natureza, do uso da inovação do continente e recursos ricos para fornecer tudo, desde materiais de construção verdes até alternativas favoráveis ao planeta em relação ao plástico.
Em particular, há uma oportunidade em metais e minerais de transição energética. Para ficar abaixo de 2°C até 2050, o mundo precisará de mais de três bilhões de toneladas desses minerais e metais, que algumas nações africanas têm em abundância. Essas nações podem impulsionar o desenvolvimento sustentável ao abandonar os modelos coloniais que fazem com que os recursos sejam enviados para fora e, em vez disso, criar valor agregado em casa. É claro que o extrativismo deve ser responsável, para proteger o meio ambiente, a terra dos povos indígenas e os direitos dos trabalhadores. Da mesma forma, devemos garantir uma circularidade real – mantendo os recursos na economia por meio de redesenho, reuso e reciclagem – para minimizar a extração de materiais virgens. Aqui está outra oportunidade. Até 7% do ouro do mundo pode estar no lixo eletrônico. Como algumas nações africanas são grandes países receptores de lixo eletrônico, elas podem estar sustentadas em uma mina de ouro literal.
O PNUMA está totalmente empenhado em apoiar esses esforços. Por meio da ciência. Por meio do apoio político. Por meio de conhecimento técnico. Tudo isso está à disposição dos Estados-Membros africanos.
Excelências,
O próximo momento-chave para a liderança africana é a sexta Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que começa no Quênia em 26 de fevereiro. Meus profundos agradecimentos ao meu amigo, Presidente Ruto, por sediar o PNUMA e a Assembleia em Nairóbi, a capital ambiental do mundo.
Há 20 projetos de resolução e duas decisões em cima da mesa, entre elas uma resolução sobre a questão dos metais e minerais que mencionei. Além disso, teremos uma Assembleia do Meio Ambiente Juvenil, convocada por jovens, para os jovens do continente mais jovem do mundo. Teremos diálogos de liderança sobre finanças, ciência, dados e digitalização. Teremos um dia dedicado a reunir acordos ambientais multilaterais com vista a criar ação unificada e ampliada.
Governos. Organizações intergovernamentais. Sociedade civil. Comunidade científica. Setor privado. Todos eles estarão lá, buscando enfrentar a tripla crise planetária por meio de um forte multilateralismo. Até agora, 33 ministros dos Estados africanos se inscreveram. Encorajo mais a participarem.
Excelências,
Momentos como essa Cúpula da UA e a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente são importantes para construir vontade política. Identificar novas soluções para a tripla crise planetária. Por fim, porém, anotar a receita não prepara o prato. Quando saímos de nossas salas de reunião, vamos realmente cozinhar. Para um clima estável. Para uma natureza saudável. Por um mundo livre de poluição. E, em última instância, por um continente africano pacífico e próspero.