Meus agradecimentos aos nossos colegas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) por sediar este evento no 4º Dia Internacional de Conscientização sobre a Perda e o Desperdício de Alimentos – uma questão que está no centro de muitos desafios que o mundo enfrenta.
Na semana passada, as nações do mundo se reuniram para a Assembleia Geral da ONU e a Cúpula dos ODS 2023. Essas nações se comprometeram a tomar medidas renovadas e urgentes para as pessoas e o planeta em busca do desenvolvimento sustentável.
Essa ação urgente é extremamente necessária. O progresso em metas individuais está rastejando ou se invertendo. Outras milhões de pessoas caíram na pobreza. A fome e a desnutrição aumentaram. As mudanças climáticas estão se tornando mais ferozes a cada ano. A natureza, base da saúde e da prosperidade, está sendo agredida, machucada e golpeada.
A humanidade caminha para a beira do desastre. Os mais pobres e mais vulneráveis estão na frente, aglomerados. Mas ninguém está a salvo. Se a humanidade continuar caminhando cegamente na mesma direção, todos acabarão caindo.
Mas se tem uma coisa que sabemos é que as crises podem trazer à tona o melhor das pessoas. Sua engenhosidade. Sua motivação. Seu desejo de ajudar os outros. Devemos todos mostrar essas qualidades agora – particularmente aqueles com poder de provocar mudanças em áreas de alto impacto, como os sistemas agroalimentares.
Os sistemas agroalimentares são um dos principais motores da tripla crise planetária: a crise das alterações climáticas, a crise da perda da natureza e da biodiversidade e a crise da poluição e dos resíduos. Esses sistemas emitem gases de efeito estufa, convertem ecossistemas virgens e bombeiam muitos fertilizantes, pesticidas e antibióticos para a natureza. Ao impulsionar a tripla crise planetária, os sistemas agroalimentares estão minando sua própria capacidade de fornecer alimentos nutritivos, meios de subsistência e lucros.
Portanto, precisamos de uma transição sustentável do sistema agroalimentar que forneça alimentos saudáveis e nutritivos para todos. Isso desacelera as mudanças climáticas e cria resiliência. Isso aumenta os meios de subsistência. E isso protege a saúde das pessoas, dos animais e dos ecossistemas.
Combater a perda e o desperdício de alimentos pode contribuir para todos esses objetivos. Quase 30% da área agrícola do mundo é usada para produzir alimentos que são perdidos ou desperdiçados. Todos esses insumos, toda essa natureza, todas essas emissões, todo esse dinheiro, trabalho e suor para produzir alimentos que não alimentam ninguém.
Por outro lado, reduzir pela metade o desperdício de alimentos e reduzir as perdas, como previsto na meta 12 dos ODS, traria ganhos maciços. Segurança alimentar. Mitigação climática. Proteção da natureza e da biodiversidade. Uma carga reduzida sobre a água – que é crucial em um mundo que enfrenta crescentes perturbações climáticas.
A atenção e a ação sobre a perda e o desperdício de alimentos estão crescendo. Por exemplo, a conexão entre o desperdício de alimentos e a perda de biodiversidade é agora reconhecida no Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal (GBF), que também pede especificamente pela redução pela metade do desperdício global de alimentos até 2030 na Meta 16.
Agora temos que atingir os objetivos que fixamos. Permitam-me destacar três formas de fazer isso.
Um: educação e políticas de consumo mais fortes.
Cerca de 17% dos alimentos são desperdiçados nos níveis de varejo e de consumidor, grande parte deles nas residências. E esse não é apenas um problema de país de alta renda. É por isso que os Grupos de Trabalho Regionais de Desperdício de Alimentos do PNUMA estão ajudando 25 países da África, Ásia e América Latina a agir em relação ao desperdício de alimentos. E com o Campeões 12.3, o PNUMA publicou um guia do consumidor para demonstrar como os governos, as cidades, as empresas, as ONGs e a comunidade de chefs podem ajudar todos a desperdiçar menos alimentos.
As empresas de alimentos podem fazer muito para ajudar seus clientes a reduzir o desperdício de alimentos em casa: ao usar seus canais de publicidade para aumentar a conscientização; ao evitar promoções que incentivam os clientes a comprar mais do que precisam; ao usar o ambiente de varejo para compartilhar soluções; e ao vender produtos soltos – o que também reduz o desperdício de plástico, contribuindo para os esforços globais para acabar com a poluição plástica.
Dois: melhor gestão da cadeia de frio.
A falta de acesso à refrigeração ao longo da cadeia alimentar cria um ciclo vicioso de desperdício de alimentos e perda de renda – particularmente nos países em desenvolvimento. O aumento da infraestrutura da cadeia de frio, fortalecida por energia limpa, pode garantir que os produtos sejam refrigerados da colheita ao prato, minimizando o impacto climático.
A Coalizão de Refrigeração, liderada pelo PNUMA, está apoiando os países em Planos de Ação Nacionais de Refrigeração, com metas específicas sobre cadeias de frio. O PNUMA fez parceria com a Índia em um programa para acelerar o investimento em cadeias de frio e está fornecendo apoio aprofundado a dois estados. Enquanto isso, em Ruanda, o Reino Unido, o PNUMA e a FAO estão apoiando o Centro Africano de Excelência para Refrigeração Sustentável e Cadeia de Frio.
Três: impulsionar dados.
Os países precisam de dados sobre o desperdício de alimentos para criar um argumento para a ação, acompanhar o progresso e entender quais intervenções funcionam. Embora haja mais a se fazer, a coleta de dados está melhorando. Uma pesquisa do PNUMA descobriu o dobro do número de pontos de dados sobre o desperdício de alimentos em todo o mundo. Fique atento ao Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos 2023 do PNUMA, que chega no final do ano, para uma atualização completa.
Então, amigos, estamos progredindo. Mas precisamos acelerar o ritmo.
No Dia Internacional de Conscientização sobre a Perda e o Desperdício de Alimentos, peço aos governos, às empresas, às instituições e aos indivíduos que se alinhem às metas internacionais para reduzir a perda e o desperdício de alimentos. Por meio da integração da redução da perda e do desperdício de alimentos nas estratégias climáticas nacionais. Por meio de legislação que desvia o desperdício de alimentos dos aterros sanitários. Por meio da ciência comportamental que mostra quais intervenções do consumidor são mais eficazes. E mais.
Reduzir a perda e o desperdício de alimentos é, em muitos aspectos, um fruto fácil de ser colhido no impulso global para o desenvolvimento sustentável. Não permitamos que ele caia no chão e apodreça.
