DISCURSO PROFERIDO POR: Inger Andersen
PARA: Lançamento do Relatório sobre a Lacuna de Adaptação 2023
LOCALIZAÇÃO: Nairóbi, Kenya
Meus agradecimentos aos membros da imprensa pela cobertura do lançamento da edição de 2023 do Relatório sobre a Lacuna de Adaptação. O título desse relatório diz tudo, de fato. Subfinanciado. Mal preparado - Investimento e planejamento inadequados em adaptação climática deixam o mundo exposto.
O mundo está dormindo na adaptação, ainda que o chamado para despertar que a natureza está nos enviando esteja estridente. Neste ano, vimos os recordes de temperatura serem quebrados. Mais uma vez. Vimos mais enchentes, ondas de calor, secas e incêndios florestais levarem pobreza a comunidades vulneráveis. A comunidade internacional deveria estar destinando centenas de bilhões de dólares para ajudar as nações em desenvolvimento a se adaptarem a esses impactos. Mas não está.
Este relatório nos diz que a diferença entre as necessidades de financiamento da adaptação climática dos países em desenvolvimento e os fluxos de financiamento público internacional é mais de 50% maior do que as estimativas anteriores. Isso coloca a lacuna de financiamento de adaptação na faixa de US$ 194-366 bilhões por ano. Sem financiamento suficiente, a implementação de ações de adaptação fica paralisada. As consequências estão sendo vividas por centenas de milhões de pessoas – casas sendo arrastadas, colheitas perdidas e gado morrendo.
Há um claro imperativo moral em proteger as pessoas menos responsáveis pela crise climática, incluindo a capacidade das próximas gerações de moldar um futuro habitável. E o relatório apresenta um caso econômico claro para investir na adaptação. O fracasso em investir em adaptação agora voltará a assombrar as nações mais ricas posteriormente, ao passo em que elas estão sendo requisitadas a assumirem a sua responsabilidade por perdas e danos crescentes.
Mesmo que a promessa feita na Cúpula do Clima de 2021, em Glasgow, de dobrar o apoio financeiro à adaptação para US$ 40 bilhões por ano até 2025 seja cumprida – e isso não parece provável – a lacuna financeira diminuiria apenas de 5% a 10%. Portanto, precisamos entregar mais financiamento – fortalecendo os fluxos públicos internacionais, sim, mas também engajando o setor privado e reformando a arquitetura financeira global, entre outras rotas destacadas no relatório.
O visionário cientista climático Saleemul Huq, que faleceu tragicamente na semana passada, foi fundamental para elevar as questões de adaptação e perdas e danos na agenda de negociações climáticas. Ele disse: "Todos os dias, todas as semanas, todos os meses, todos os anos a partir de agora, dentro de nossas vidas, as coisas vão piorar. Nenhum país do mundo está preparado."
Saleemul e outros, como ele, vêm alertando há anos que a disrupção climática estará conosco por décadas, e devemos nos preparar. Assim, nas negociações climáticas em Dubai, na COP28, o mundo deve entrar num acordo sobre como fornecer o financiamento necessário para proteger países vulneráveis de baixa renda e grupos desfavorecidos. A alternativa é mais pobreza, mais disrupção e faturas muito maiores a serem pagas pelos países em desenvolvimento nos anos seguintes.