Discurso preparado para a Conferência Ministerial sobre Lixo Marinho e Poluição Plástica
O próximo relatório do PNUMA, de Poluição a Solução, mostra que não é possível escaparmos do lixo marinho. A menos que tomemos medidas drásticas, até 2040, o volume de plásticos que entram nos oceanos triplicará. Os micro e nanoplásticos estão tomando conta dos mares e a pandemia está agravando o problema.
A questão vai além do lixo marinho.
Tartarugas emaranhadas em sacolas plásticas. Baleias mortas e cheias de resíduos. Bilhões de pellets de plástico chegando às praias, como aconteceu recentemente no Sri Lanka. Vemos os danos que estamos causando. Mas a forma como usamos e gerenciamos o plástico causa muito mais danos. Dessa forma, alimentamos a tripla crise planetária da mudança climática, perda da biodiversidade e poluição.
Os gases de efeito estufa emitidos durante o ciclo de vida dos plásticos atingiram 1,7 gigatoneladas de CO2 equivalente em 2015. No ritmo atual, as emissões de plásticos atingirão 17% do orçamento global de carbono até 2050. Isto inclui as emissões da incineração de resíduos plásticos.
A poluição plástica reduz os serviços ecossistêmicos marinhos em até US$ 2.500 bilhões a cada ano. Mas este plástico não aparece no oceano por mágica. Novas pesquisas descobriram que 80% dos resíduos plásticos chegam ao mar através de 1.000 rios. Estes ecossistemas fluviais sofrem. Os lagos sofrem. Os ecossistemas terrestres sofrem.
Mas a poluição por plástico não aparece nos rios por mágica. Todos os anos, os seres humanos geram aproximadamente 1,3 bilhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. No entanto, muitas grandes cidades carecem de infra-estrutura adequada de resíduos sólidos. A má gestão dos resíduos aumenta o custo total do impacto dos plásticos no meio ambiente.
Mudança climática. Perda da biodiversidade. Poluição. Os plásticos estão embrulhados em todos eles. A conclusão é óbvia. A melhor forma de abordar o lixo marinho é repensar como projetamos, usamos e descartamos os plásticos. Precisamos revisitar e informar toda a cadeia produtiva. E se fizermos isso, podemos tornar nossas economias, sociedades e planeta mais verdes e mais saudáveis. Mas o que realmente podemos fazer?
Primeiro, engajar a indústria e o setor financeiro para reduzir a produção de plástico virgem, especialmente de plásticos de uso único.
Apenas 20 empresas produzem metade de toda a produção mundial de polímeros, destinados a resíduos plásticos de uso único. Cerca de 60% do financiamento comercial para a produção de produtos plástico de uso único vem de 20 bancos. Vinte gestores de ativos detêm mais de U$300 bilhões de dólares em ações das empresas controladoras dos produtores de polímeros plásticos de uso único. Se essas empresas se apoiarem nas soluções e entrarem para a discussão, podemos progredir rapidamente.
Em segundo lugar, olhar para a circularidade.
Precisamos manter os plásticos circulando na economia, e fora dos ecossistemas terrestres e marinhos, cursos d'água e oceanos - melhorando o design dos produtos para melhorar sua reutilização e garantindo a reciclagem quando eles chegarem ao fim. Uma abordagem abrangente de economia circular poderia reduzir o volume de plásticos que entram em nossos oceanos em mais de 80%. Reduzir a produção de plástico virgem em 55%. Economizar aos governos US$70 bilhões entre 2021-2040. Reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 25%. E criar 700.000 empregos adicionais, principalmente no hemisfério sul.
Em terceiro lugar, investir em sistemas de gerenciamento de resíduos.
A melhoria da gestão de resíduos sólidos em todo o mundo fará uma enorme diferença para a poluição plástica e a saúde humana. A infra-estrutura municipal de resíduos sólidos é terrivelmente inadequada em um mundo em rápida urbanização.
Em quarto lugar, aumentar a ação nacional.
Planos de ação nacionais de curto prazo são cruciais. Isso significa uma legislação nacional sobre resíduos, produção, compras públicas e informação ao consumidor. Significa integrar ações sobre plásticos em toda a economia através de medidas fiscais sobre o conteúdo de produtos (por exemplo, aumentando a quantidade de plástico reciclado nos produtos), fabricação, comércio, transporte, gerenciamento de resíduos e assim por diante. Significa campanhas para envolver os cidadãos na solução deste desafio.
Ministros, estas são algumas áreas em que podemos atuar. Mas esta ação pode ser impulsionada por uma abordagem abrangente, inclusiva e global.
Nós, no PNUMA, temos orgulho das resoluções da Assembleia de Meio Ambiente da ONU sobre lixo marinho e resíduos plásticos. As emendas aos resíduos plásticos do Anexo da Convenção da Basiléia, que entraram em vigor este ano, são um grande passo em frente. Os Estados-Membros estão formando uma visão coletiva sobre um futuro sem poluição plástica. O PNUMA está com os Estados Membros enquanto trabalham em uma abordagem conjunta, pois a questão se resolve com esta organização.
O lixo marinho é um ponto de entrada crítico para engajar governos, empresas e o público a agir sobre a poluição plástica. Mas precisamos ser claros sobre toda a gama de consequências da poluição plástica e agir na fonte para tratar de todas elas.
Se acertarmos no enfrentamento a poluição plástica, não apenas limpamos nossos mares. Ajudamos a resolver a tripla crise planetária. Protegemos nosso ar, nossa terra e nossa água. E protegemos nossa saúde e a saúde do planeta.
Obrigada.
Diretora Executiva