Excelências, caros colegas.
A revolução digital está acelerando. Se usarmos, e usarmos bem as ferramentas que essa revolução está trazendo, elas podem desacelerar a tripla crise planetária das mudanças climáticas, da perda de natureza e de biodiversidade, e da poluição e resíduos. Ajudar as nações em desenvolvimento a avançar para caminhos de desenvolvimento mais limpos e prósperos. E, claro, ajudar a promover o desenvolvimento sustentável.
O Pacto Digital Global que surgirá da Cúpula do Futuro é, portanto, vital. Agradeço aos Governos da Zâmbia e da Suécia pela liderança. Como o Pacto reconhece, devemos prestar muita atenção aos impactos ambientais das tecnologias digitais, para que os custos não superem os benefícios.
Espero que o mundo tenha aprendido com nossos fracassos climáticos e com a procrastinação climática, a prevenção não é apenas melhor, mas muito mais fácil do que a cura. Isso significa que a dimensão ambiental de tecnologias como a IA não pode ser uma consideração tardia, um mero cumprimento de protocolo.
Sabemos que tecnologias como a IA impactam o meio ambiente, desde a mineração até as emissões, do consumo de água ao lixo eletrônico – com questões de injustiça profundamente arraigadas. Mas esses impactos não são suficientemente pesquisados, especialmente no Sul Global. É por isso que o PNUMA está lançando hoje uma Nota sobre os Impactos Ambientais da IA.
O diretor digital do PNUMA fornecerá em breve mais detalhes sobre a nota, incluindo as ações que o PNUMA recomenda para garantir que a IA funcione em prol das pessoas e do planeta, mas permitam-me algumas palavras.
Como mostra a nota do PNUMA, a IA produz emissões significativas de gases de efeito estufa. Os centros de dados necessários para a IA estão consumindo mais energia, em um momento em que quase 800 milhões de pessoas não têm acesso à eletricidade. Enquanto isso, a necessidade de resfriamento pode levar a um uso de água equivalente à metade da quantidade utilizada no Reino Unido até 2027. Isso ocorre em um momento em que quase dois bilhões de pessoas não têm acesso a água e saneamento adequados.
Existem também impactos sérios da extração de minerais e metais críticos, vitais para os chips de IA e, claro, para a transição energética. Contaminação da água e do ar. A degradação das terras dos povos indígenas. Perda ou deslocamento da biodiversidade, inclusive de espécies como os grandes símios, nossos parentes vivos mais próximos.
Portanto, é bom observar que o Painel do Secretário-Geral da ONU sobre Minerais Críticos para a Transição Energética divulgou na semana passada sete princípios voluntários projetados para transformar as cadeias de valor dos minerais, colocando em primeiro plano os direitos humanos, a justiça, a equidade e a proteção ambiental.
A realidade é que, como civilização, devemos agora investir em um suprimento sustentável de minerais e metais para impulsionar a transformação digital e a transição energética. E a realidade também é que esses minerais e metais representam, de fato, uma enorme oportunidade para muitas nações aumentarem suas receitas para o desenvolvimento sustentável – se romperem padrões coloniais exploratórios e garantirem que a agregação de valor ocorra em casa.
No entanto, como o aumento da mineração insustentável causaria ainda mais danos ao meio ambiente e esgotaria os suprimentos, precisamos abordar o setor com clareza, e não com uma mentalidade ofuscada por uma abordagem de "corrida do ouro". Devemos agir com cautela, em vez de correr apressadamente, cegos pelos bons negócios que pairam diante dos nossos olhos, como aqueles que correram para procurar ouro na Califórnia em 1849.
Precisamos de cabeças frias para entregar políticas sólidas de gestão ambiental, circularidade, equidade e justiça. Isto porque estamos muito atrasados. Atualmente, apenas cerca de um por cento dos elementos de terras raras é reciclado. Um por cento. Olhando para o lixo eletrônico em geral, apenas 22 por cento é reciclado e descartado de maneira ambientalmente responsável.
Antes de começarmos, precisamos ter uma gestão ambiental clara em vigor. Políticas de circularidade em vigor. Justiça em vigor. Transparência nos acordos. Gestão de receitas para evitar o que os economistas chamam de doença holandesa – um aumento no desenvolvimento econômico de um setor e uma queda em outros setores.
O que importa é que o investimento em "agregação de valor" e na recuperação de materiais por meio da circularidade será fundamental para expandir as oportunidades econômicas e de trabalho.
Para isso, governos, organizações internacionais e o setor privado devem se unir no âmbito do Pacto Digital Global. Ao trabalharmos juntos, podemos garantir o acesso equitativo às tecnologias digitais. Minimizar os impactos ambientais. E usar essas tecnologias para gerar crescimento econômico e sustentabilidade em um planeta saudável que suporte todos nós.