IBAMA/ASCOM
27 Sep 2024 Reportagem Florestas

No momento em que os incêndios florestais devastam a América do Sul, especialistas alertam para um novo normal

IBAMA/ASCOM

Incêndios florestais recordes que devastam a América do Sul provavelmente se tornarão o novo normal, a menos que a região faça investimentos significativos na prevenção de incêndios e limite a agricultura de corte e queima em lugares como a Amazônia, alertam os especialistas.

Desde maio, as queimadas devastaram florestas e savanas na Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Paraguai e Peru, já que a seca criou condições semelhantes a um barril de pólvora em muitos lugares. Até mesmo a maior zona úmida tropical do mundo, o Pantanal, rico em vida selvagem, está em chamas há meses.

Globalmente, o risco de incêndios florestais extremos pode aumentar 30% até 2050 como resultado das mudanças climáticas e do que é conhecido como mudanças no uso da terra, que incluem a agricultura de corte e queima, segundo um relatório de 2022 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). 

"O que estamos vendo é chocante e triste", diz Juan Bello, diretor regional e representante para a América Latina e o Caribe do PNUMA. "Mas não é inevitável."

A mudança climática, dizem os especialistas, está secando grandes áreas da América do Sul e deixando florestas, pântanos e savanas vulneráveis a mega incêndios. A Amazônia, por exemplo, está passando por sua pior seca em pelo menos 45 anos. Mas, ao investir mais na prevenção de incêndios, incluindo o planejamento paisagístico, Bello diz que os países podem reduzir as chances de os incêndios ocorrerem. 

Investimentos em serviços de informação climática, incluindo sistemas modernos de alerta precoce, podem dar às comunidades um aviso prévio de possíveis incêndios, ajudando-as a prevenir queimadas. Esses serviços também permitem que os países otimizem o uso de seus recursos de combate a incêndios, muitas vezes limitados.

As nações também podem restaurar ecossistemas danificados por intervenção humana ou incêndios anteriores. Por exemplo, canalizar a água de volta para os pântanos pode tornar os incêndios menos prováveis. O mesmo pode acontecer com o que é conhecido como paisagismo inteligente contra o fogo, que inclui espaçar árvores e arbustos para que sejam menos propensos a transmitir chamas.  

Além disso, os países podem incorporar na legislação os conceitos-chave do manejo integrado do fogo, uma abordagem holística para prevenir grandes incêndios que pode incluir o uso de queimadas controladas. Nessa área, há lições que podem ser aprendidas com os povos indígenas, que em muitos lugares desenvolveram ao longo de gerações estratégias de manejo da terra que reduzem as chances de incêndios florestais.

"O uso sustentável da terra é a pedra angular da prevenção de incêndios florestais, especialmente nesta nova era de turbulência climática em que estamos entrando", diz Bello.

Os recentes incêndios florestais foram particularmente devastadores para o Pantanal, a maior zona úmida tropical do mundo e um importante depósito de carbono que aquece o planeta. Estendendo-se por três países da América do Sul – Bolívia, Brasil e Paraguai – a região sustenta milhões de pessoas e abriga uma grande concentração de animais selvagens raros, como crocodilos, onças-pintadas e a arara-azul, o maior papagaio do planeta. Muitos desses animais estão morrendo e foram resgatados depois de terem suas patas chamuscadas pelo fogo.

Uma série de incêndios no Pantanal em 2020 deixou 17 milhões de animais mortos, de acordo com um estudo, e os especialistas estão preocupados que o número de mortos nos últimos incêndios possa ser igualmente sombrio. 

O Pantanal tem cerca de 60% menos água superficial do que a média histórica e não sofre inundações sazonais há seis anos. Fenômenos naturais, incluindo raios, podem causar incêndios florestais em condições como essa. Mas a maioria dos incêndios no Brasil é resultado de atividades humanas, como a queima de árvores para criar pastagens, diz Rodrigo Agostinho, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. 

"Hoje, se valendo da mudança climática em que estamos vivendo, os invasores de terras públicas ou demarcadas, usam o fogo no lugar da motosserra.", diz ele.

Em resposta ao agravamento da crise dos incêndios florestais, o governo federal do Brasil tem reforçado os esforços de combate a incêndios nas regiões da Amazônia e do Pantanal. No início deste mês, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto que aumentou as multas por atear fogo intencionalmente. As penalidades podem chegar a até 10.000 reais ou US$ 1.826 por hectare queimado. 

Juntamente com o policiamento, Agostinho acredita que aumentar a conscientização sobre os perigos dos incêndios florestais para a saúde humana e a biodiversidade é "essencial".

"Lidar com essa situação terrível requer um esforço coletivo do governo e da sociedade", diz ele.

Espera-se que limitar os danos causados pela conversão de terras seja um dos principais focos da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16), que acontecerá em Cali, Colômbia, em outubro.  Também na agenda da COP16 está uma revisão do estado de implementação do Marco Global de Biodiversidade Kunming-Montreal, um pacto histórico projetado para proteger e restaurar o mundo natural. O acordo inclui uma meta projetada para tornar a biodiversidade mais resiliente às mudanças climáticas, reduzindo os riscos de desastres, como os incêndios florestais na América do Sul, por meio de soluções baseadas na natureza

O relatório do PNUMA de 2022 sobre incêndios florestais pediu uma mudança "radical" na forma como os governos gastam com incêndios. Ele recomendou que dois terços de todos os gastos relacionados a incêndios florestais fossem destinados ao planejamento, prevenção e recuperação. No momento, a maior parte do dinheiro é dedicada à supressão de incêndios.

"Uma vez que os incêndios irrompem, eles são difíceis de conter", diz Bello. "Países ao redor do mundo, não apenas na América do Sul, precisam investir mais na eliminação das condições que estão causando as queimadas e a propagação de incêndios. É a única maneira de poupar a nós mesmos e à vida selvagem de suas consequências muitas vezes mortais".

 

As well, countries can weave into legislation the key concepts of integrated fire management, a holistic approach for preventing large fires that can include the use of controlled burns. In this area, there are lessons that can be learned from Indigenous Peoples, who in many places have developed over generations land-management strategies that reduce the chances of wildfires. 

“Sustainable land use is a cornerstone of preventing wildfires, especially in this new era of climatic upheaval that we’re entering,” says Bello. 

The recent wildfires have been particularly devastating to the Pantanal, the largest tropical wetland in the world and a key warehouse of planet-warming carbon. Stretching across three South American countries — Bolivia, Brazil and Paraguay — the region supports millions of people and is home to a large concentration of rare wildlife, such as crocodiles, jaguars and the hyacinth macaw, the biggest parrot on the planet. Many of those animals are dying and others have been rescued after having their paws singed by fire. 

A series of blazes in the Pantanal in 2020 left 17 million animals dead, according to one study, and experts are concerned the death toll from the latest fires could be equally grim. 

Four people stand over a jaguar on an operating table
Veterinarian tend to Itapira, a young female jaguar that had its paws burned during recent fires in Pantanal. Credit: AFP/Evaristo Sa

The Pantanal has some 60 per cent less surface water than the historical average and has not experienced seasonal flooding in six years. Natural phenomena, including lightning strikes, can cause forest fires in conditions like that. But the vast majority of blazes in Brazil are the result of human activities, like the burning of trees to create pastures, says Rodrigo Agostinho, president of the Brazilian Institute of Environment and Renewable Natural Resources. 

“Today, taking advantage of [climate change], invaders of public or demarcated lands are using fire instead of chainsaws,” he says. 

In response to the worsening wildfire crisis, Brazil’s federal government has been bolstering firefighting efforts in the Amazon and Pantanal regions. Earlier this month, Brazilian President Luiz Inácio Lula da Silva signed a decree that raised fines for intentionally setting fires. Penalties can reach up to 10,000 Brazilian real or US$1,826 per hectare burned. 

Alongside policing, Agostinho believes raising awareness about the dangers of forest fires to both human health and biodiversity is “essential”. 

“Addressing this dire situation requires a collective effort from both the government and society,” he says. 

Heavy smoke hangs over Sao Paulo, Brazil, the result of wildfires burning hundreds of kilometres away.
Heavy smoke hangs over Sao Paulo, Brazil, the result of wildfires burning hundreds of kilometres away. Credit: FOTORUA/NURPHOTO/NURPHOTO VIA AFP 

Limiting the damage done from land conversion is expected to be a major focus of the UN Biodiversity Conference (COP16) taking place in Cali, Colombia in October.  Also on the agenda at COP16 is a review of the state of implementation of the Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework, a landmark pact designed to protect and restore the natural world. The agreement includes a target designed to make biodiversity more resilient to climate change by reducing the risks of disasters, such as the wildfires in South America, through nature-based solutions

Those talks come at a crucial time for the world’s forests, wetlands and savannahs, say observers. Globally, the risk of extreme wildfires could increase 30 per cent by 2050 as result of climate change and what are known as land use changes, which include, slash-and-burn agriculture, found a 2022 report from UNEP. 

A fire truck sprays water over burning grasses.
A drought has created tinderbox-like conditions in much of the region. Credit: IBAMA/ASCOM 

The paper called for a “radical” change in how governments spend on wildfires. It recommended that two-thirds of all wild-fire related spending go towards planning, prevention and recovery. Right now, the majority of money is dedicated to supressing fires. 

“Once fires erupt, they are difficult to contain,” says Bello. “Countries around the world, not just in South America, need to invest more in stopping fires before they start. It’s the only way we’re going to spare ourselves and wildlife from their often-deadly consequences.” 

 

The Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework  
The planet is experiencing a dangerous decline in nature. One million species are threatened with extinction, soil health is declining and water sources are drying up. The Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework, sets out global targets to halt and reverse nature loss by 2030. It was adopted by world leaders in December 2022. To address the drivers of the nature crisis, UNEP is working with partners to take action in landscapes and seascapes, transform our food systems, and close the finance gap for nature.