Photo: UNEP
04 Jun 2021 Reportagem Nature Action

Repensando os sistemas alimentares

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Em junho de 2021, às margens do Dia Mundial do Meio Ambiente, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e parceiros lançaram a Plataforma de Parceria Transformadora sobre agroecologia – uma abordagem agrícola inspirada em ecossistemas naturais que combina conhecimento local e científico e se concentra nas interações entre plantas, animais, seres humanos e meio ambiente. Enquanto a ONU se prepara para sua primeira Cúpula de Sistemas Alimentares em setembro de 2021, nós exploramos o impacto dos sistemas alimentares no meio ambiente.

Ao longo de décadas, à medida que as populações cresceram, mais pessoas estão consumindo – e desperdiçando – mais alimentos do que nunca. Padrões insustentáveis de produção e de consumo de alimentos são uma linha comum, atravessando muitos dos maiores desafios que a humanidade enfrenta hoje.

Entre 2000 e 2010, a agricultura comercial em grande escala foi responsável por 40% do desmatamento tropical; e a agricultura de subsistência local não ficou muito atrás, sendo responsável por outros 33%. Mas os sistemas alimentares humanos dependem da biodiversidade para funcionar, e os sistemas alimentares convencionais reduzem a biodiversidade – efetivamente destruindo sua própria base.

Nos últimos 100 anos, mais de 90% das variedades agrícolas desapareceram e, hoje, apenas nove espécies de plantas respondem por 66% da produção agrícola total – contribuindo para riscos onipresentes à saúde, como diabetes, obesidade e desnutrição.

A agricultura intensiva também desempenha um papel no surgimento de doenças zoonóticas, como a Covid-19. Liberar espaço para a agricultura pode reduzir os amortecedores naturais que protegem os humanos de vírus e outros patógenos que circulam entre a vida selvagem. E os patógenos se espalham ainda mais facilmente entre rebanhos de criação intensiva e rebanhos com semelhanças genéticas – especialmente quando são mantidos próximos uns dos outros.

Ao mesmo tempo, os antimicrobianos são frequentemente usados para acelerar o crescimento do gado, o que pode levar à resistência dos microrganismos, tornando os antimicrobianos menos eficazes como medicamentos para humanos. Atualmente, cerca de 700 mil pessoas morrem de infecções resistentes todos os anos e, até 2050, essas doenças podem causar mais mortes do que o câncer.

Somado a tudo isso, tem o fato de os nossos sistemas alimentares serem responsáveis por um quarto de todas as emissões de gases de efeito estufa produzidas pelo homem. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, a perda de biodiversidade e o colapso dos ecossistemas estão entre as cinco principais ameaças à humanidade nos próximos dez anos.

No entanto, o mundo gasta cerca de 1 milhão de dólares para subsidiar a agricultura, a cada minuto.

Mudança transformadora

A demanda por alimentos deve aumentar em 60% até 2050. Isto significa que as decisões que tomamos hoje terão um enorme impacto na segurança alimentar e, por extensão, no meio ambiente, na economia, na saúde, na educação, na paz e nos direitos humanos.

Especificamente, o sistema alimentar global deve ser transformado para atingir dois propósitos. Em primeiro lugar, deve garantir a segurança alimentar e nutricional e acabar com a fome de uma vez por todas. Em segundo lugar, deve reverter a degradação que as ações humanas causaram e restaurar os ecossistemas.

Agricultura agroecológica

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A agroecologia (também conhecida como agricultura ecológica ou regenerativa) é uma das maneiras mais eficazes de tornar os sistemas alimentares mais sustentáveis e construir um mundo pós-Covid mais seguro, limpo e inclusivo. Ao recorrer a processos naturais como a fixação biológica de nitrogênio, a biodiversidade e a reciclagem – em vez de produtos químicos, que reduzem a biodiversidade e contribuem para as alterações climáticas – desafia o modelo agrícola tradicional.

A agroecologia é fundamental para a realização de 12 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, incluindo a redução da pobreza e da fome, e, por exigir menos insumos externos e encurtar cadeias de valor, a agroecologia capacita agricultores e comunidades locais. É parte de uma resposta holística a alguns dos maiores desafios para a saúde planetária – ajudando a acabar com o desperdício, a reduzir as emissões e a parar a poluição dos ambientes naturais. De acordo com uma revisão dos resultados da última década, a proteção dos cultivos agroecológicos também reduz os riscos do surgimento de zoonoses virais.  

PNUMA e agroecologia

A Plataforma de Parceria Transformadora (TPP, na sigla em inglês) em agroecologia é composta pelo CIFOR-ICRAF, CIRAD, Biovision, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), TMG Think Tank for Sustainability e pelo PNUMA. Coordenada em níveis internacional, nacional e local, a parceria conecta pesquisa e desenvolvimento, ciência, movimentos sociais e conhecimento local, para informar doadores e formuladores de políticas e promover a inovação. 

Com o objetivo de capacitar as pessoas a defender uma transformação agroecológica dos sistemas alimentares, um memorando de entendimento entre o PNUMA e a Biovision (em vigor em 4 de junho) facilitará a cooperação no desenvolvimento do setor privado, intercâmbios de políticas e diálogos de várias partes interessadas.

Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU

Em setembro de 2021, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, convocará a Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU. Reconhecendo que os sistemas alimentares são uma das principais razões pelas quais não estamos conseguindo permanecer dentro dos limites ecológicos do planeta, a Cúpula visa nada menos do que uma transformação global abrangente. É, ao mesmo tempo, um importante componente para a Década da Restauração de Ecossistemas e imprescindível para o alcance das metas englobadas pela Agenda 2030.

Conscientizando, estimulando o debate e identificando soluções, a Cúpula pede ações de governos, empresas e cidadãos – em todos os níveis e em todos os setores da sociedade. As políticas devem priorizar a agricultura regenerativa e a restauração de terras degradadas. Os subsídios devem ser redirecionados da agricultura tradicional para a agricultura sustentável e regenerativa. Os consumidores devem exigir mais dos produtores e os cidadãos devem responsabilizar os governos.

 

Para mais informações, entre em contato:

Chefe do Ramo de Biodiversidade e Gestão da Terra do PNUMA, Doreen Robinson: doreen.robinson@un.org

Oficial de Gestão de Programas do PNUMA e principal ponto focal de agroecologia, Siham Drissi: siham.drissi@un.org