Os smartphones revolucionaram nossas vidas cotidianas. Com mensagens instantâneas na ponta dos dedos, a comunicação atual é rápida, eficaz e barata. Mas o quão inteligentes são nossos telefones no que se refere ao impacto ambiental? Você sabe o que tem dentro do seu celular?
Grandes nomes da indústria tomaram medidas significativas para melhorar sua pegada ecológica, mas as preocupações ambientais, sociais e econômicas permanecem, especialmente no que se refere aos direitos humanos e à extração de metais preciosos em geral.
Ouro, prata, cobalto, estanho, tântalo, tungstênio e cobre são componentes essenciais de telefones celulares e outros aparelhos eletrônicos que usamos diariamente. E, sendo a mineração um dos setores de uso mais intensivo de derivados de petróleo, a extração contribui significativamente para a mudança do clima.
Pegada Ambiental
A sensibilização pode render frutos para a promoção de um setor minerador que contribua para o desenvolvimento socioeconômico sustentável. Embora impactos negativos da mineração sejam inevitáveis, muitos podem ser evitados.
Nossos smartphones estão entre os produtos manufaturados com uso mais intensivo de recursos naturais, quando levamos em conta o seu peso. Eles também contêm paládio e platina, além de uma quantidade menos valiosa, porém significativa, de alumínio e outros metais raros difíceis de serem minerados.
Ainda assim, a maior parte das empresas divulga poucas informações sobre seus fornecedores, mantendo fatores como desempenho e impactos ambientais fora de vista. Também existe uma falta de urgência e transparência global na resposta à produção de lixo eletrônico.
Apesar de seus produtos conterem materiais valiosos, a indústria de eletrônicos gera até 41 milhões de toneladas de lixo por ano. Menos de 16% do volume do lixo eletrônico global é reciclado no setor formal.
Pensando além da pegada de nosso celular
Com 300 toneladas de ouro sendo usadas em uma ampla gama de eletrônicos a cada ano, equipamentos em etapa final de vida útil são uma “mina urbana” e têm potencial massivo de reciclagem e fornecimento secundário de ouro.
“Além da pegada de carbono, a maior preocupação ambiental no que diz respeito ao lixo eletrônico é o impacto desses produtos no final da vida”, disse o oficial de programa da ONU Meio Ambiente para pensamento do ciclo de vida e produção e consumo sustentáveis, Feng Wang.
“Práticas de reciclagem, especialmente em países em desenvolvimento, significam que materiais perigosos e metais em locais de despejo podem ter graves consequências para o meio ambiente local e para os trabalhadores informais.”
O relatório “Waste crime – Waste risks”, da ONU Meio Ambiente, destaca que o lixo eletrônico — equipamentos elétricos incluindo computadores, telefones celulares, televisores e geladeiras — também libera resíduos tóxicos como mercúrio, arsênico, zinco e retardantes de chamas bromados.
Tornando nossos celulares mais inteligentes
Mesmo tendo em vista o lixo eletrônico, cerca de 80% da pegada de carbono de um smartphone é registrada durante o processo de manufatura, 16% no uso do consumidor e 3% no transporte.
Conforme a demanda por smartphones cresce, a vida útil dos aparelhos diminui. Smartphones cada vez mais sofisticados estão sendo descartados. A competição acirrada faz com que empresas produzam celulares mais novos, mais finos, mais inteligentes.
“O tempo de vida do produto está ficando cada vez menor, logo, menos sustentável”, disse Wang. “Todos nós podemos desempenhar um papel, ao reciclar, revender ou reaproveitar nossos smartphones junto a organizações responsáveis. Mas reciclar ou comprar menos não resolve o problema sozinho”.
Em 2016, em torno de 435 mil toneladas de telefones celulares foram descartadas no mundo, com um custo estimado em materiais brutos de 10,7 bilhões de dólares. Se todos os telefones tivessem uma vida útil mais longa e pudessem entrar em um mercado de segunda mão, o valor poderia ser ainda mais alto.
“A rápida taxa de substituição de smartphones por desenvolvimento técnico e estratégia de mercado é insustentável, frequentemente gerando desperdício desnecessário de aparelhos em pleno funcionamento”, acrescentou Wang.
Para garantir a segurança dos dados e devido às conexões emotivas das pessoas com seus aparelhos antigos, a maior parte escolhe armazená-los em gavetas ou enviá-los para canais de coleta e reciclagem para tratamento responsável.
Mas para tornar nossos celulares realmente inteligentes, não é suficiente somente reciclar, reutilizar ou reaproveitar materiais usados neles. É necessário produzi-los para durar: reduzir nossa pegada de celulares e projetar modelos sustentáveis que tornem o lixo de longo prazo em algo do passado.