“Resilvestramento” é a palavra da moda entre os conservacionistas nos últimos tempos. Mas o que esse termo complicado significa? A palavra é uma forma de se referir a iniciativas que ajudam a natureza a se recuperar, reintroduzindo espécies, biodiversidade e processos ecossistêmicos em áreas afetadas pela atividade humana.
A vida silvestre do mundo entrou em colapso nos últimos cem anos, conforme a população humana e a atividade econômica — especialmente a agricultura comercial — se proliferaram. Mas existe agora uma crescente constatação de que a sobrevivência dos humanos no planeta exige áreas protegidas bem gerenciadas, onde a flora e a fauna possam florescer. A natureza fornece um leque de serviços ecossistêmicos que, em muitas partes do mundo, está sendo rapidamente degradado pela exploração humana dos habitats naturais.
Em dezembro de 2018, o Congresso da Argentina aprovou uma legislação que determinou a criação do Parque Nacional Iberá, com quase 160 mil hectares, a fim de garantir sua proteção no longo prazo. Douglas e Kristine Tompkins, empreendedores bem-sucedidos dos Estados Unidos, compraram a terra por meio de duas fundações, a Conservation Land Trust e a Flora y Fauna Argentina, que posteriormente doou a propriedade para o público, para que a área se tornasse um parque nacional.
“Hoje é um dia para celebrar”, afirmou Kristine Tompkins, presidente da Tompkins Conservation, na data em que a lei foi adotada. “Para a vida silvestre (que está) em casa aqui, para o povo da Argentina e para as futuras gerações, que vão vivenciar a beleza e a biodiversidade dessa paisagem incrível, a designação do novo parque é uma grande vitória.”
O novo parque nacional ladeia uma área protegida muito maior, de 553 mil hectares, o Parque Provicinal Iberá, criando uma enorme faixa contígua de parques. A região toda é centrada em uma das maiores zonas úmidas de água doce de toda a América do Sul. Combinados, esses perímetros de conservação formam o maior parque natural da Argentina.
“Essa é uma conquista fantástica da Kristine Tompkins, uma patrona da ONU Meio Ambiente para as Áreas Protegidas, e de seu falecido marido”, afirma a coordenadora da campanha Feroz pela Vida (Wild For Life, em inglês) da ONU Meio Ambiente, Lisa Rolls.
Segundo a especialista da agência das Nações Unidas, o organismo está explorando uma mudança estratégica na sua campanha, a fim de promover o “resilvestramento”.
Estima-se que, em dez anos, o Parque Iberá vai receber mais de 100 mil visitantes por ano. Isso deverá promover a prosperidade econômica nas comunidades locais, vizinhas ao parque, que em anos recentes, testemunharam o crescimento do ecoturismo.
Um dia histórico para os esforços de “resilvestramento” da Tompkins Conservation foi o 6 de junho de 2018, quando dois filhotes de onça-pintada nasceram no Parque Iberá. Eles foram os primeiros espécimes do animal a nascer na região em décadas.
A onça-pintada é o maior felino das Américas, bem como um dos mais icônicos do continente. Mas a caça, a perda do habitat e outras ameaças deixaram a espécie em perigo de extinção na Argentina. Com a perda de 95% de sua distribuição original, estimativas indicam atualmente que existem apenas cerca de 200 espécimes no país. Eles estão espalhados principalmente por extensões isoladas de selva na província de Missiones e nas florestas de encostas montanhosas, nas províncias de Salta e Jujuy.
Um programa pioneiro de conservação e reintrodução da onça-pintada foi iniciado em 2011. A equipe na Argentina — que inclui cientistas, veterinários, atores comunitários e gestores de políticas — tem colaborado com a meta de criar uma geração de onças que poderia ser solta em seu habitat natural e sobreviver de forma independente na natureza. A iniciativa conta com cinco onças adultas que vieram de zoológicos e centros de resgate em toda a América do Sul — os animais não são opções viáveis para a soltura no meio ambiente, mas podem procriar — e mais de 700 mil hectares de habitat em Iberá. O território é repleto de jacarés, capivaras e outras fontes de alimento, o que dá ao projeto um potencial incrível para apoiar o retorno dessa espécie ecologicamente importante e culturalmente icônica.
O parque não é apenas o berço dos primeiros filhotes de onça, como também o lar de populações recuperadas de espécies perdidas, incluindo o tamanduá-bandeira, o veado-campeiro, a anta, o caititu e a arara-vermelha.
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Flora Pereira, Gerente de Comunicação e Informação Pública, ONU Meio Ambiente no Brasil