Em julho, uma mulher de 47 anos apareceu no departamento de emergência de um hospital em Sacramento, Califórnia. Sua fala estava arrastada, ela não conseguia andar e não conseguia sentir as mãos ou o rosto. A mulher logo entrou em coma, permanecendo nesse estado por várias semanas.
As autoridades de saúde logo descobriram que a causa da condição desesperadora da mulher era um ingrediente para clarear a pele, o mercúrio, que havia sido ilegalmente misturado em seu pote de creme para o rosto.
"O envenenamento por mercúrio tem efeitos perigosos e às vezes irreversíveis, e por mais que bebês não nascidos sejam mais vulneráveis, qualquer pessoa pode ser afetada", disse Claudia ten Have, Diretora Sênior de Coordenação de Políticas do Secretariado da Convenção de Minamata. Evidenciado pelo caso da mulher de Sacramento, este metal pesado tóxico pode representar sérias ameaças à saúde tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos.
De fato, todo mundo no planeta está exposto ao mercúrio em algum nível, seja pela comida que ingerimos, pelo ar que respiramos ou pelos cosméticos que usamos. Embora existam várias medidas que indivíduos, empresas e governos possam adotar para se proteger contra o envenenamento por mercúrio, ele continuará pondo em risco a saúde humana e ambiental até conseguirmos abordar o problema do ciclo de vida do mercúrio de maneira abrangente.
Alcançar esse objetivo é o principal objetivo da Convenção de Minamata sobre Mercúrio, um acordo ambiental multilateral que entrou em vigor em agosto de 2017. Até a presente data, 114 países ratificaram a convenção, o mais novo tratado ambiental mundial. As partes da convenção se reunirão em Genebra para sua terceira Conferência das Partes, de 25 a 29 de novembro. Os impactos do mercúrio na saúde é um dos itens importantes na agenda da reunião.
Mercúrio e a nossa saúde
Quando inalamos, ingerimos ou somos expostos ao mercúrio, o elemento pode atacar nosso sistema nervoso central e periférico, bem como nosso trato digestivo, nosso sistema imunológico, nossos pulmões e nossos rins. Sintomas específicos podem incluir tremores, insônia, perda de memória, dores de cabeça, fraqueza muscular e, em casos extremos, morte. Bebês não-nascidos cujas mães têm altos níveis de mercúrio no sangue podem nascer com danos cerebrais e problemas de audição e visão. Os níveis do elemento tóxico podem ser medidos em amostras de sangue, cabelo ou urina.
Mas de que modo estamos expostos ao mercúrio? Apesar de uma crescente conscientização global de como o mercúrio ameaça nossa saúde, o elemento continua surgindo em vários lugares. Aqui estão alguns:
Amálgama dentária
Por mais de cem anos, o mercúrio tem sido um dos principais ingredientes da amálgama dentária, a mistura que os dentistas usam para preencher as cavidades nos dentes de seus pacientes. Embora o amálgama provavelmente represente apenas uma ameaça mínima à saúde daqueles que andam com ele na boca, o uso de mercúrio no amálgama também contribui para uma acumulação gradual do elemento tóxico em nosso ambiente. Para enfrentar esse desafio, a Convenção de Minamata propõe nove medidas específicas para “eliminar progressivamente o uso de amálgamas dentárias” em todo o mundo. As etapas incluem a definição de objetivos nacionais para reduzir o uso de amálgamas, promovendo o uso de alternativas sem mercúrio e apoiando as melhores práticas na gestão de resíduos de mercúrio.
Consumo de peixe
Os frutos do mar são a principal fonte de proteína para cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo. Como o mercúrio sofre “bioacumulação” na cadeia alimentar, peixes maiores como tubarões, espadartes e atuns tendem a ser especialmente ricos em mercúrio. Pessoas que consomem quantidades muito altas de frutos do mar podem ser expostas a altos níveis de metilmercúrio, um composto orgânico que se acumula nos corpos dos peixes. O envenenamento por mercúrio pelo consumo de animais marinhos foi observado entre grupos indígenas em muitas partes do mundo, especialmente no Ártico. O consumo per capita de frutos do mar nessas comunidades pode ser até 15 vezes maior do que em grupos não indígenas. Um estudo publicado em 2018 encontrou níveis elevados de mercúrio em mulheres em idade fértil em estados insulares nos oceanos Pacífico, Caribe e Índico, onde o consumo de peixe é alto. Claramente, a poluição por mercúrio se acumulou nos principais oceanos do mundo, contaminando a cadeia alimentar marinha e ameaçando a saúde humana.
Cosméticos
O mercúrio também pode ser encontrado em produtos de beleza, especialmente cremes para clarear a pele, mas também em produtos de maquiagem e de limpeza para os olhos. Enquanto muitos países impuseram leis que proíbem o uso de mercúrio em cosméticos, muitos outros não têm nenhuma legislação a respeito, e produtos contaminados com mercúrio continuam disponíveis nas principais lojas de cosméticos on-line. Os consumidores que procuram evitar o elemento tóxico devem comprar produtos de fornecedores confiáveis e garantir que seus produtos sejam adequadamente transportados e rotulados. A Organização Mundial da Saúde tem mais informações sobre o tema.
Mineração em pequena escala
Os garimpeiros de pequena escala usam o mercúrio regularmente para ajudá-los a separar o ouro de outros materiais, e a maior parte desse mercúrio acaba permanecendo no meio ambiente. Em 2015, de acordo com a Avaliação Global de Mercúrio de 2018 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a mineração artesanal e em pequena escala emitiu cerca de 800 toneladas de mercúrio no ar, cerca de 38% do total global, e também liberou cerca de 1.200 toneladas de mercúrio na terra e na água. O envenenamento por mercúrio também representa uma ameaça séria e direta à saúde de 12 a 15 milhões de pessoas que trabalham no setor em todo o mundo. Reduzir as emissões e liberação de mercúrio da mineração é um objetivo fundamental da Convenção de Minamata, que exige que os países com mineração de ouro em pequena escala produzam planos de ação nacionais para reduzir ou eliminar o mercúrio do setor.
Queima de carvão
A outra grande fonte de emissões de mercúrio antropogênicas é também um grande fator de poluição do ar e de mudanças climáticas: queima de carvão. A mais recente avaliação global de mercúrio do PNUMA constatou que a queima de carvão e outras formas de combustível fóssil e combustão de biomassa foram responsáveis por cerca de 24% das emissões globais de mercúrio. Embora o carvão contenha apenas pequenas concentrações de mercúrio, as pessoas tendem a queimá-lo em volumes muito grandes. À medida que a economia global cresce, também cresce a queima de carvão para geração de energia. A boa notícia é que até 95% das liberações de mercúrio das usinas podem ser reduzidas melhorando o desempenho do carvão e das usinas e melhorando os sistemas de controle de outros poluentes.
Deseja saber mais? Visite o site da Convenção de Minamata, confira a Avaliação Global de Mercúrio de 2018 e obtenha todos os detalhes sobre a próxima Conferência das Partes.