Talvez tenha sido aquele macaco da vizinha que decidiu juntar-se a ela na aula de piano ou a festa de animais selvagens que aconteceu em uma escola primária em Kampala, Uganda. Mas desde pequena, a Dra. Gladys Kalema-Zikusoka, Campeã da Terra deste ano na categoria Ciência e Inovação, sabia que queria trabalhar com animais.
“Basicamente, os animais de estimação foram meus primeiros amigos”, disse Kalema-Zikusoka, veterinária de vida selvagem, que passaria três décadas ajudando a proteger alguns dos primatas mais raros do mundo, incluindo o gorila-das-montanhas, que está ameaçado de extinção. Grande parte de seu trabalho tem focado em comunidades vulneráveis da África Oriental que cercam áreas protegidas. Nesses grupos, ela auxiliou na melhora da rede de saúde e na geração de oportunidades, o que tornou muitas pessoas locais parceiras na conservação.
“Gladys Kalema-Zikusoka é uma pioneira na conservação comunitária da vida selvagem”, afirma Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. "Em muitos lugares, as pressões econômicas podem gerar tensões entre seres humanos e animais. Mas o trabalho de Gladys tem mostrado como as comunidades locais podem superar o conflito e assumir a liderança na proteção da natureza e da vida selvagem que as cercam, gerando benefícios para todas as espécies”.
Com apoio de sua família, Kalema-Zikusoka embarcou em uma aventura mundial para sua educação, colecionando diplomas de Uganda, do Reino Unido e dos Estados Unidos. No início dos seus 20 anos, ela retornou para Uganda para um estágio onde seria seu futuro local de trabalho, o Parque Nacional Impenetrável de Bwindi, localizado em uma região vulnerável e remota do sudoeste ugandense.
Era o início do turismo de gorilas em Bwindi e Kalema-Zikusoka, ainda uma jovem estudante de veterinária, percebeu que a conservação não era um processo fácil. “Havia pessoas focadas no turismo e pessoas focadas na conservação comunitária", lembra a veterinária. “Tinha administradores, guardas florestais e o Corpo da Paz, além de pousadas, e ao final do meu período lá, eu pude entender quão complexos o turismo e a conservação podem ser”.
Kalema-Zikusoka tornou-se a primeira veterinária de vida selvagem da Uganda Wildlife Authority (Autoridade da Vida Selvagem de Uganda, em tradução literal). Nesse órgão, começou a adotar uma nova abordagem para o trabalho com a vida selvagem — centrada em melhorar a vida e subsistência das vilas remotas de cercam Bwindi.
“[Isso faz com que] a humanidade possa dispor de uma melhor qualidade de vida e ser mais positiva sobre a conservação. Quando você demonstra às pessoas que se importa com elas e com sua saúde e bem-estar, você as ajuda a conviver melhor com a vida selvagem”.
Esse é o princípio por trás da organização fundada pela veterinária há quase 20 anos: a Conservation Through Public Health (Conservação por Meio da Saúde Pública, em tradução literal). A organização já expandiu seu modelo de saúde comunitária em áreas protegidas para o Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo, e também para duas áreas no Parque Nacional do Monte Elgon. Além de promover práticas de higiene e saneamento, o grupo também ajuda no planejamento familiar.
Considerar a interação entre seres humanos e vida selvagem, bem como a propagação de zoonoses entre as duas populações, foi fundamental para Kalema-Zikusoka quando assumiu um papel maior na orientação da resposta do governo ugandense à pandemia de COVID-19.
Os lockdowns globais prejudicaram a indústria do turismo no sudoeste de Uganda, o que forçou algumas pessoas a retornarem a uma ocupação particularmente problemática: a caça furtiva. Isso representou um risco para os avanços cuidadosos feitos na restauração da população de gorilas-das-montanhas em Bwindi, que tem crescido constantemente, atingindo mais de 400 primatas. Esse número representa quase metade da população da espécie ameaçada de extinção que ainda vivem na natureza.
A Conservação por Meio da Saúde Pública forneceu cultivos de rápido crescimento às famílias, permitindo-lhes ao menos cultivar alimentos suficientes para comerem. Uma mensagem importante também foi deixada para a comunidade. “Nós dissemos a eles: vocês precisam continuar a proteger a vida selvagem porque ela tem ajudado em tudo isto. Isto é o seu futuro”.
O conflito entre pessoas e animais é uma das principais ameaças à sobrevivência a longo prazo de algumas das espécies mais emblemáticas do mundo, de acordo com um relatório recente da World Wide Fund for Nature (WWF) e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Em muitos países como Uganda, o conflito, aliado aos riscos sanitários da COVID-19, fez com que espécies ameaçadas ficassem ainda mais perto da extinção.
Kalema-Zikusoka trabalhou com a equipe do parque nacional para incentivar os visitantes e guardas-florestais a usar máscaras, não apenas para impedir a transmissão COVID-19 entre eles, mas também para proteger os gorilas, que podem ser infectados por patógenos de origem humana. Esse trabalho resultou em protocolos destinados ao controle da propagação de zoonoses — contágios entre humanos e animais — e no treinamento de profissionais de saúde locais para combater a COVID-19. Agora, 21 países da África — incluindo os 13 Estados que abrigam populações decrescentes de grandes primatas — já assinaram as diretrizes.
“Estamos realmente adaptando o modelo de prevenção de zoonoses à prevenção de COVID-19”, disse Kalema-Zikusoka. A Conservação por Meio da Saúde Pública também analisa formas de diversificar as fontes de renda das comunidades locais que compartilham o espaço com a vida selvagem. O projeto mais recente da organização é o Café de Conservação dos Gorilas, um empreendimento social. A equipe ensina os agricultores das redondezas de Bwindi a cultivar grãos de café de alta qualidade com economia de água e fertilizantes orgânicos. “Agora, estamos trabalhando em investimentos que façam impacto”, afirma a veterinária. “Tudo se trata da importância do financiamento sustentável da conservação”.
Reconhecida mundialmente, Kalema-Zikusoka diz que tem esperança de que ela inspire outros jovens africanos a se profissionalizar na área de conservação. “Há uma falta de representação local de conservacionistas. Poucos vêm de lugares onde se encontra os animais ameaçados", disse a veterinária. “Precisamos de mais campeões e campeãs locais, porque essas são as pessoas que se tornarão responsáveis pelas decisões de suas comunidades e países”.
Os prêmios Campeões da Terra e Jovens Campeões da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconhecem indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador no meio ambiente. Entregue anualmente, o prêmio é a maior honraria ambiental da ONU.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos de 2021 a 2030 como a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com o apoio de parceiros, a Década foi concebida para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas no mundo inteiro. O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, cobrindo tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Um chamado global à ação, a convocação reúne apoio político, pesquisa científica e força financeiro para intensamente ampliar a restauração. Para saber mais, acesse: https://www.decadeonrestoration.org/pt-br/
Quando a primeira-ministra de Barbados, Mia Amort Mottley, subiu ao palco na Assembleia Geral das Nações Unidas deste ano, ela não estava disposta a ser simpática. Diante de lideranças mundiais, denunciou os “poucos anônimos” que estão levando o mundo para uma catástrofe climática e ameaçam o futuro dos pequenos Estados insulares, como o seu próprio.
“Nosso mundo não sabe com o que está brincando, e se não controlarmos este incêndio, todos seremos queimados”, disse a primeira-ministra em setembro. Inspirando-se na letra de reggae do grande músico Bob Marley, ela acrescentou: “Who will get up and stand up for the rights of our people?” (“Quem se levantará e defenderá os direitos de nosso povo?”, na tradução literal).
O discurso comovente foi manchete em todo mundo e, para muitos, foi uma apresentação de quem é Mia Mottley. Mas a primeira-ministra de Barbados e Campeã da Terra na categoria Liderança Política esteve há anos se dedicando às campanhas contra a poluição, a mudança climática e o desmatamento, tornando Barbados um pioneiro no movimento global pelo meio ambiente.
“A primeira-ministra Mottley foi uma campeã para aqueles que são mais vulneráveis à tripla crise planetária da mudança climática, perda da natureza e da biodiversidade, e poluição e resíduos” disse Inger Anderson, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). “Seu ativismo apaixonado e suas conquistas políticas são exemplos primordiais de como as lideranças mundiais podem tomar medidas ousadas e urgentes em questões ambientais”.
Mottley foi eleita primeira-ministra em 2018 com mais de 70% dos votos populares, tornando-se a primeira mulher líder de Barbados desde a independência em 1966. Sob sua liderança, o país segue um plano ambicioso para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis até 2030. Sua ideia é que quase todas as casas da ilha tenham painéis solares e um veículo elétrico na frente.
Mottley, que afirma encontrar inspiração nas florestas que cobrem cerca de 20% de Barbados, também supervisionou uma estratégia nacional para plantar mais de 1 milhão de árvores, com a participação de toda a população. O plano visa promover a segurança alimentar e construir uma resiliência a um clima em mudança.
É um estímulo que não poderia ser mais oportuno, pois um novo relatório do PNUMA sugere que o mundo está caminhando para um aumento de temperatura de 2,7°C, o que poderia levar a mudanças catastróficas para os ecossistemas do planeta. Com a perseverança de Mottley, a América Latina e o Caribe se tornaram a primeira região do mundo a chegar a um acordo sobre o Plano de Ação para a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas, um esforço para prevenir e reverter a degradação dos espaços naturais em todo o mundo. Um relatório do PNUMA publicado em junho de 2021 constatou que para cada dólar investido na restauração de ecossistemas, são gerados até US$30 em benefícios econômicos.
Portanto, Mottley acredita que enfrentar o declínio ambiental é fundamental para impulsionar o desenvolvimento econômico e combater a pobreza. Lidar com desastres relacionados ao clima “afeta a capacidade de financiar avanços rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, disse ela. “Outras coisas importantes no dia-a-dia das pessoas como educação, saúde, rodovias, tudo é afetado porque se tem um espaço fiscal limitado para realizar ações que, não fossem esses desastres, você conseguiria”.
Ela também é uma voz defensora dos países em desenvolvimento vulneráveis à mudança climática, especialmente os pequenos estados insulares que têm a previsão de serem inundados pela elevação do nível do mar. Durante uma visita do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, a Barbados em outubro, ela enfatizou a importância de disponibilizar financiamento para que as nações em desenvolvimento se adaptem às mudanças climáticas. Nos países em desenvolvimento, o custo para combater os riscos relacionados ao clima, como secas, inundações e a elevação do nível do mar, é de US$ 70 bilhões por ano e pode chegar a US$ 300 bilhões anuais até 2030.
“Temos que reconhecer que, se não fizermos uma pausa nesta fase para resolver a estrutura de financiamento, teremos problemas”, disse Mottley.
Para ajudar Barbados a se adaptar à crise climática, a primeira-ministra liderou um programa nacional de resiliência denominado “De Telhados a Recifes” (“Roofs to Reefs”, em inglês). A iniciativa conta com o uso de ferramentas financeiras inovadoras para ampliar os gastos públicos em todas as áreas, desde o reforço da estrutura das casas até a restauração dos recifes de coral, que ajudam a proteger o litoral das tempestades. O De Telhados a Recifes tem sido elogiado como um modelo para outros países ameaçados pela mudança climática.
Mottley é também a copresidente do Grupo de Líderes Globais em Resistência Antimicrobiana, liderando um esforço internacional para combater a resistência antimicrobiana (RAM) — uma grande ameaça ao meio ambiente, à saúde humana e ao desenvolvimento econômico. A RAM é a capacidade de organismos de resistir à ação de medicamentos utilizados para o tratamento de doenças em humanos e em animais. O uso indevido e excessivo de agentes antimicrobianos, incluindo antibióticos, pode exacerbar a mudança climática, a perda da natureza e biodiversidade, e a poluição e resíduos.
Enquanto o mundo continua a se recuperar da devastação da pandemia de COVID-19, a primeira-ministra destaca que uma recuperação sustentável é essencial para a sobrevivência fiscal de seu país, que depende do turismo, bem como adverte que a continuidade dos negócios, da maneira como são conduzidos, aceleraria a crise climática.
“Penso que a combinação da pandemia e da crise climática nos proporcionou um momento político perfeito para que os seres humanos parem e examinem a fundo o que estão fazendo”, disse Mottley. “O que eu realmente quero deste mundo é que consigamos ter um senso de responsabilidade perante o nosso meio ambiente, e também perante as gerações futuras”.
Os prêmios Campeões da Terra e Jovens Campeões da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconhecem indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador no meio ambiente. Com cerimônias anuais, os prêmios são a maior honraria ambiental da ONU.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos de 2021 a 2030 como a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com o apoio de parceiros, a Década foi concebida para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas no mundo inteiro. O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, cobrindo tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Um chamado global à ação, a convocação reúne apoio político, pesquisa científica e força financeiro para intensamente ampliar a restauração. Para saber mais, acesse: https://www.decadeonrestoration.org/pt-br/tipos-de-restauracao-de-ecoss…
Se uma imagem vale mais que mil palavras, para Maria Kolesnikova, Campeã da Terra deste ano na categoria Visão Empreendedora, uma imagem valeu um início de todo um movimento.
Era 2016 e Kolesnikova, uma profissional de Relações Públicas com 28 anos na época, era voluntária para a MoveGreen, uma organização ambiental liderada por jovens na República do Quirguistão.
Ali, uma pessoa mostrou a Kolesnikova uma foto de Bishkek, tirada de cima das montanhas que cercam a capital quirguistanêsa. "Só que não se podia ver a cidade", disse Maria. "Bishkek estava coberta por um manto cinza. Não sabíamos como chamar aquilo; mas sabíamos que era algo muito ruim”.
Bishkek, lar de cerca de 1 milhão de pessoas, está entre as cidades com o ar mais poluído no mundo. Durante o inverno, está sempre coberta por uma cúpula de neblina e fumaça que têm origem no meio ambiente — a cidade é, em média, 5 °C mais quente que o entorno — e na fumaça do carvão usado para aquecer a maioria das casas.
"Queríamos entender mais sobre o que estava no ar que respirávamos e quais dados a cidade coletava para tentar melhorar a situação", disse Kolesnikova. "Mas não encontrávamos dados relevantes atualizados - ou não estavam sendo coletados, ou não estavam sendo compartilhados. Então, decidimos produzir os dados nós mesmos.”
Um começo modesto
A MoveGreen começou com apenas três sensores que mediam a qualidade do ar, na prática, por meio do monitoramento, pela primeira vez na República do Quirguistão, dos níveis do material particulado fino (MP 2,5 ou PM 2,5, em inglês) — produzido pela queima de carvão e outros combustíveis, pela combustão e pela poeira. Em concentrações elevadas, as partículas finas podem causar inflamação nos pulmões e outras doenças respiratórias. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição atmosférica causa até 7 milhões de mortes por ano.
Quando as primeiras estatísticas chegaram, Kolesnikova e a equipe da Movegreen tomaram uma decisão corajosa. Lançaram a campanha “School Breathes Easily” (“Escola Respira Mais Fácil”, na tradução literal), levando a mensagem para uma população que estava pronta para escutá-la: as crianças em idade escolar de Bishkek. Mundialmente, 93% das crianças vivem em ambientes onde os níveis de poluição do ar estão acima das orientações da OMS. Cerca de 600 mil morrem prematuras por ano devido à poluição atmosférica, sendo que a exposição ao ar poluído também pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo e motor e colocar as crianças em maior risco de doenças crônicas numa fase posterior da vida.
Em Bishkek, os sensores que medem a qualidade do ar foram instalados em escolas para que as janelas nas salas de aulas sejam mantidas fechadas quando houver muita poluição. Os professores também usam os dados para avisar os pais sobre como evitar que seus filhos ficassem expostos às partículas finas. Hoje, existem mais de 100 sensores instalados na cidade e na região.
O sucesso da campanha nas escolas motivou Kolesnikova, que nessa época já estava no cargo de diretora da MoveGreen. Coletar os dados não era suficiente; era necessário um movimento para convencer tomadores de decisões a melhorar a qualidade do ar de Bishkek.
A Movegreen desenvolveu um aplicativo, disponível globalmente agora, chamado Aba.kg, um coletor e transmissor de dados em tempo real sobre a qualidade do ar. A plataforma agrega dados a cada 20 minutos das duas maiores cidades do Quirguistão, Bishkek e Osh, sobre a concentração de poluentes no ar, incluindo o dióxido de nitrogênio, o MP 2,5 e seu primo maior, o MP 10.
“Nossos dados já foram questionados, nossos métodos já foram questionados — por aqueles que dizem que dados monitorados por cidadãos não são confiáveis”, disse Kolesnikova. "Mas continuamos fazendo reuniões e insistindo, até que, agora, eles nos escutam. O resultado do nosso trabalho têm sido a conexão com o governo para melhorar o monitoramento ambiental em Bishkek e realizar um trabalho melhor de monitoramento e redução de emissões".
“O trabalho da Kolesnikova reflete como indivíduos e cidadãos podem impulsionar mudanças ambientais utilizando o poder da ciência e dos dados”, disse Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. “Muitas vezes, as pessoas se perguntam se há algo que possam fazer para combater a poluição, as mudanças climáticas e outras ameaças ao planeta. Maria Kolesnikova prova que sim. Sua dedicação é notável e mostra que todos e todas podemos desempenhar um papel para levar o planeta rumo a um futuro melhor”.
Planos futuros
Os planos da MoveGreen para os próximos meses incluem a convocação de políticas ao nível municipal e nacional para desenvolver projetos de lei que requerem sessões regulares de informação pública sobre os resultados das medições da qualidade do ar. A República do Quirguistão se comprometeu com metas globais para combater a mudança climática, entre elas, uma meta incondicional de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em mais de 16% até 2025.
Existem enormes oportunidades para fontes alternativas de energia; apenas 10% do potencial hidrelétrico do Quirguistão tem sido explorado e outras opções de energia renovável poderiam envolver o aumento do fornecimento de aquecimento e eletricidade provenientes de energia eólica ou solar e do biogás.
Segundo a ativista, se houvesse mais investimento em ciência no Quirguistão, o país conseguiria projetar suas próprias soluções e criar uma sociedade ecológica em harmonia com a natureza ao seu redor, inclusive com as montanhas tanto ama.
Como a poluição do ar não tem fronteiras, Kolesnikova e MoveGreen estão entrando em acordos regionais com outros países da Ásia Central. O objetivo da ativista é convencer os seis Estados da região a colaborar em formas de combater a poluição do ar em suas cidades emergentes. A implantação de sistemas e padrões para avaliar a qualidade do ar será fundamental. Um estudo recente do PNUMA constatou que apenas 57 países acompanham constantemente a qualidade do ar, enquanto 104 não dispõem de infraestrutura de monitoramento.
Kolesnikova diz que é movida pelo desejo de fazer do mundo um lugar melhor. “Muitas vezes, você pode se sentir desmotivada como ativista — você trabalha tão duro, não quer mais continuar. Mas então você percebe, não. Alguém tem que assumir a responsabilidade pelo futuro. Por que não eu?”
Os Campeões e os Jovens Campeões da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconhecem indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador no meio ambiente. Entregue anualmente, o prêmio é a maior honraria ambiental da ONU.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos de 2021 a 2030 como a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com o apoio de parceiros, a Década foi concebida para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas no mundo inteiro. O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, cobrindo tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Um chamado global à ação, a convocação reúne apoio político, pesquisa científica e força financeiro para intensamente ampliar a restauração. Para saber mais, acesse: https://www.decadeonrestoration.org/pt-br/
O painel de controle da poluição do ar do PNUMA fornece dados em tempo real sobre a poluição do ar em todo o mundo, seu impacto na saúde humana e os esforços nacionais para lidar com esse problema
Desde que a Patagonia foi fundada em 1973 pelo renomado ambientalista e empresário Yvon Chouinard, a marca de roupas de aventura dos EUA conquistou elogios por suas cadeias de abastecimento sustentáveis e pela defesa do meio ambiente. A empresa atualizou recentemente sua declaração de missão para refletir a urgência da crise ambiental: "Estamos no negócio para salvar nosso planeta".
A Patagonia foi escolhida como Campeã da Terra na categoria Visão Empreendedora, devido a uma combinação dinâmica de políticas que coloca a sustentabilidade no centro de seu modelo bem-sucedido de negócios.
De uma pequena fábrica de ferramentas para alpinistas, a Patagonia se tornou líder global em sustentabilidade. Seu esforço para preservar os ecossistemas do planeta percorre todo o negócio, dos materiais utilizados na fabricação de seus produtos à doação de dinheiro para causas ambientais.
A Patagonia se descreve como A Empresa Ativista e é clara sobre seus objetivos: “Na Patagonia, levamos em consideração que toda a vida na Terra está ameaçada de extinção. Nosso objetivo é usar os recursos que temos - nossos negócios, nossos investimentos, nossa voz e nossa imaginação - para fazer algo a respeito”.
Quase 70% dos produtos da Patagônia são feitos de materiais reciclados, incluindo garrafas plásticas, e o objetivo é usar 100% de materiais renováveis ou reciclados até 2025. A empresa também usa cânhamo e algodão orgânico. Ela está comprometida com a simplicidade, a utilidade e a durabilidade - um empreendimento inovador em um mundo onde a fast fashion é a norma para muitas empresas e consumidores.
A Patagonia criou o programa Worn Wear para incentivar os consumidores a consertarem e reciclarem seus produtos, contrapondo a cultura da moda rápida, que mantêm consumidores presos em um ciclo vicioso de consumo e desperdício.
A Patagônia também investe no futuro. Desde 1986, a empresa contribuiu com pelo menos 1% das vendas anuais para a preservação e restauração de áreas naturais. Em 2002, Chouinard e Craig Mathews, fundador da Blue Ribbon Flies, criaram uma organização sem fins lucrativos chamada 1% for the Planet, para incentivar outras empresas a fazerem o mesmo.
Graças ao seu compromisso de 1%, a Patagonia forneceu mais de US$ 100 milhões para organizações de base e ajudou a treinar milhares de jovens ativistas nos últimos 35 anos.
Em 2018, a Patagônia disse que daria mais US$ 10 milhões, economizados em um corte de impostos federais de 2017, a grupos de base que defendem o ar, a água e a terra do planeta, bem como aos envolvidos no movimento de agricultura orgânica regenerativa - uma abordagem holística ao cultivo que prioriza a saúde do solo e a captura de carbono da atmosfera.
A Patagônia está trabalhando com cerca de 100 pequenos agricultores que cultivam algodão usando práticas regenerativas na Índia, e planeja expandir esse número para 450. Os agricultores controlam pragas com armadilhas e arrancam ervas daninhas e colhem o algodão manualmente. A agricultura regenerativa há tempos tem sido uma prioridade para a Patagonia, tanto por meio de suas roupas quanto por sua linha de produtos alimentícios, Patagonia Provisions, que têm como objetivo remodelar a cadeia alimentar.
Como parte de sua agenda de defesa de questões ambientais, a empresa também criou o Patagonia Action Works, que conecta indivíduos comprometidos a organizações que trabalham com questões ambientais na mesma comunidade.
O Prêmio Campeões da Terra é a maior homenagem ambiental das Nações Unidas. Foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2005 para comemorar figuras de destaque cujas ações tiveram um impacto positivo e transformador para o meio ambiente. De líderes mundiais a defensores ambientais e inventores de tecnologia, os prêmios reconhecem pioneiros que estão trabalhando para proteger nosso planeta para as próximas gerações.
Os vencedores anteriores na categoria Visão Empresarial incluem o Aeroporto Internacional de Cochin, na Índia, o primeiro aeroporto de energia solar do mundo (2018); Paul Polman, ex-CEO da Unilever (2015); e o Green Building Council dos EUA, uma organização privada sem fins lucrativos que está transformando edifícios em todo o mundo (2014).
Em 2017, a Patagônia recebeu o prêmio Accenture Strategy de Economia Circular Multinacional no Fórum Econômico Mundial em Davos por impulsionar a inovação e o crescimento enquanto trabalha para reduzir a dependência de recursos naturais escassos.
Líder mundial em sustentabilidade, a Costa Rica foi escolhida como Campeã da Terra na categoria de Liderança Política devido ao seu papel pioneiro na proteção da natureza e ao seu compromisso com políticas ambiciosas para o combate à mudança climática.
Notavelmente, o país da América Central elaborou um plano detalhado para descarbonizar sua economia até 2050, em conformidade com o Acordo Climático de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. A nação espera servir de modelo para que outros países possam fazer o mesmo e reduzir as emissões causadoras da rápida e desastrosa mudança climática.
“O plano de descarbonização consiste em manter uma curva ascendente em termos de crescimento econômico do emprego e, ao mesmo tempo, gerar uma curva descendente no uso de combustíveis fósseis, a fim de parar de poluir. Como vamos conseguir isso? Por meio de transportes públicos limpos, cidades inteligentes e resilientes, gestão de resíduos, agricultura sustentável e melhorias logísticas”, afirmou o presidente Carlos Alvarado Quesada.
O plano inclui metas ousadas de médio e longo prazo para a reforma do transporte, da energia, do manejo de resíduos e do uso da terra. O objetivo é alcançar neutralidade de emissões até 2050, o que significa que o país não produzirá mais emissões do que aquelas que é capaz de compensar por meio de ações como a manutenção e a expansão de suas florestas.
O sucesso da Costa Rica, ao colocar as preocupações ambientais no centro de suas políticas públicas e econômicas, mostra que a sustentabilidade é não somente alcançável, mas economicamente viável. Autoridades afirmam que a Costa Rica pretende mudar o paradigma do desenvolvimento, antecipando um sistema de consumo e produção que gere um excedente ambiental e não um déficit.
“Em 2050, embora pareça muito distante, espero poder dizer ao meu filho, que hoje tem seis anos de idade e até lá terá a minha idade, que fizemos a coisa certa. Fizemos o que tinha de ser feito para que ele pudesse viver em um mundo melhor, fundamentalmente, porque enfrentamos os efeitos das mudanças climáticas”, afirmou o presidente Alvarado Quesada.
As credenciais ambientais da Costa Rica são impressionantes: mais de 95% de sua energia é renovável, sua cobertura florestal é de mais de 50%, depois de um trabalho meticuloso para reverter décadas de desmatamento, e cerca de metade das terras do país estão sob algum grau de proteção.
Em 2017, o país bateu um recorde de 300 dias utilizando apenas energia renovável. O objetivo é atingir 100% de eletricidade renovável até 2030. Prevê-se que setenta por cento de todos os ônibus e táxis sejam elétricos até 2030, com a eletrificação total projetada para 2050.
O papel inovador da Costa Rica na promoção de tecnologias limpas e sustentabilidade é ainda mais notável pelo fato do país, de cerca de 5 milhões de habitantes, produzir apenas 0,4% das emissões globais.
O prêmio Campeões da Terra reconhece as credenciais de sustentabilidade da Costa Rica e também destaca a necessidade urgente de encontrar soluções para as mudanças climáticas. No ano passado, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) comprovou que limitar o aquecimento global a 1,5 °C exigiria mudanças sem precedentes para reduzir as emissões de carbono em 45% em relação aos níveis de 2010 até 2030, atingindo a neutralidade de emissões por volta de 2050.
Campeões da Terra é o principal prêmio ambiental das Nações Unidas. Foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2005 para homenagear indivíduos de destaque cujas ações tiveram um impacto positivo e transformador para o meio ambiente. De defensores ambientais a desenvolvedores de tecnologia, os prêmios reconhecem pioneiros que estão trabalhando para proteger nosso planeta para as próximas gerações.
Os vencedores anteriores da região incluem Michelle Bachelet, ex-presidenta do Chile, por sua liderança exemplar na criação de áreas marinhas protegidas e por impulsionar as energias renováveis (2017); a ex-ministra do Meio Ambiente brasileira, Izabella Teixeira, por sua liderança visionária e papel fundamental na reversão do desmatamento do Amazon (2013); e o ecologista mexicano, José Sarukhán Kermez, por uma vida dedicada à liderança e inovação na conservação da biodiversidade no México e no mundo (2016).
Em 2010, a Costa Rica recebeu o prêmio Future Policy Award pelo World Future Council em reconhecimento à sua lei de biodiversidade de 1998, considerada modelo para outras nações.
Por transformar as boas ações de meio bilhão de pessoas em árvores reais, plantadas em algumas das regiões mais áridas da China, a Ant Forest recebeu o prêmio Campeões da Terra 2019 na categoria “Inspiração e Ação”.
Lançada pelo Ant Financial Services Group, afiliado do grupo Alibaba, a Ant Forest promove estilos de vida mais ecológicos, inspirando os usuários a reduzirem suas emissões de carbono no dia a dia. A Ant Forest recompensa o engajamento dos usuários com pontos de 'energia verde', que podem ser usados para plantar uma árvore real.
O objetivo é combater a desertificação, reduzir a poluição do ar e proteger o meio ambiente.
Os usuários da Ant Forest são incentivados a acompanhar sua pegada de baixo carbono por meio do registro de suas ações diárias, como pelo uso de transporte público ou o pelo pagamento de contas on-line. Para cada ação, eles recebem pontos de 'energia verde' e quando acumulam um certo número de pontos, uma árvore é plantada. Os usuários podem visualizar imagens de suas árvores em tempo real via satélite.
A plataforma Ant Forest também está explorando soluções inovadoras para aliviar a pobreza e melhorar a vida da população local, alavancando o poder da tecnologia digital.
Desde o seu lançamento em agosto de 2016, a Ant Forest e suas parceiras plantaram cerca de 122 milhões de árvores em algumas das áreas mais secas da China, incluindo regiões áridas do interior da Mongólia, Gansu, Chingai e Shanxi. As árvores cobrem uma área de 112.000 hectares e o projeto se tornou a maior iniciativa de plantação de árvores do setor privado da China.
As unidades operacionais do Alibaba também incentivam os usuários a participarem da Ant Forest. Por exemplo, se usarem a plataforma de troca de objetos usados, Idle Fish, para reciclar itens antigos, poderão ganhar pontos de 'energia verde'.
O reconhecimento da Ant Forest como Campeã da Terra destaca a importância da restauração de ecossistemas na redução das emissões que intensificam a mudança climática. Em março, as Nações Unidas destacaram a necessidade urgente de proteger os sistemas naturais que sustentam a vida, declarando a Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas de 2021 a 2030.
A China é há muito tempo comprometida com o reflorestamento para melhorar o meio ambiente e combater as mudanças climáticas. As autoridades pretendem aumentar a área cobertas por florestas de 21,7% em 2016 para 23% em 2020. Desde 1978, o país constrói uma Grande Muralha Verde de 4.500 quilômetros, também conhecida como Three-North Shelterbelt Forest Program, ao longo das margens de seus desertos nórdicos para conter a expansão do deserto de Gobi e impedir a erosão e a degradação do solo.
O Prêmio Campeões da Terra é a maior homenagem ambiental das Nações Unidas. Foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2005 para celebrar figuras extraordinárias cujas ações tiveram um impacto positivo e transformador para o meio ambiente. De líderes mundiais a defensores ambientais e criadores de tecnologia, os prêmios reconhecem pioneiros que estão trabalhando para proteger nosso planeta para as próximas gerações.
A premiação já reconheceu inovações e geradores de mudança, especialmente no campo das energias renováveis.
Em 2018, o Programa de Renascimento Rural Verde de Zhejiang ganhou o prêmio na categoria "Inspiração e Ação" por seu trabalho de regeneração de cursos de água poluídos e terras danificadas. Também em 2018, o Aeroporto Internacional de Cochin, o primeiro aeroporto de energia solar do mundo, ganhou o prêmio "Visão Empreendedora", e em 2017, a Comunidade de Reflorestação Saihanba foi reconhecida na categoria "Inspiração e Ação" por transformar terras degradadas no extremo sul do interior da Mongólia em um paraíso exuberante.
A província de Zhejiang deriva o seu nome do rio Zhe, que significa "torto" ou "dobrado". Os rios da província de Zhejiang têm sido vitais para as comunidades, fluindo através de cidades antigas, entre as tradicionais casas de paredes brancas e telhados negros e alimentando férteis campos de arroz. No entanto, Zhejiang é também uma das províncias mais ricas e desenvolvidas da China e o rápido desenvolvimento acabou prejudicando a água de seus rios.
A ONU Meio Ambiente está reconhecendo o primeiro-ministro indiano Narendra Modi por sua ousada liderança ambiental no cenário global. Sob a liderança do Modi, a Índia se comprometeu a eliminar todos os plásticos de uso único no país até 2022. O primeiro-ministro também apoia e defende a Aliança Solar Internacional, uma parceria global para expandir o uso da energia solar.
Joan Carling defende os direitos ambientais dos povos indígenas há mais de 20 anos. Participou ativamente da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima e REDD +, serviu duas vezes como Secretária-Geral do Pacto dos Povos Indígenas da Ásia e foi presidente da Aliança Popular da Cordilheira.
As iniciativas Impossible Foods e Beyond Meat são vencedoras do prêmio Campeões da Terra na categoria Ciência e Inovação. Ambas são responsáveis pela produção de uma alternativa sustentável ao consumo de hambúrguer de carne bovina. Os vencedores acreditam que não é possível atingir os objetivos climáticos do Acordo de Paris sem reduzir as emissões causadas pela pecuária.