O novo relatório do IPCC sai em um momento de grande turbulência, quando precisamos de um multilateralismo forte para promover a paz e um meio ambiente saudável. E a mensagem que este relatório envia é clara. A mudança climática não está à espreita na esquina, esperando para atacar. Ela já está sobre nós, distribuindo golpes em bilhões de pessoas.
Estamos vendo perturbações perigosas em todo o mundo natural. As espécies estão migrando em busca de condições mais habitáveis. Nos hotspots com maior risco climático, as mortes por inundações, secas e tempestades foram 15 vezes maiores do que aquelas em países mais resilientes durante a última década. Isso é injustiça climática, principalmente para os povos indígenas e comunidades locais.
Tudo isso - e muito mais - com apenas 1,1 graus Celsius de aquecimento global. Mesmo se limitarmos o aquecimento global a 1,5 graus Celsius, os golpes serão mais fortes e mais rápidos. Do jeito que as coisas estão, caminhamos rumo aos 3 graus Celsius. Estamos em uma emergência, indo em direção a um desastre.
Não podemos continuar levando os golpes e tratando as feridas. Em breve, essas feridas serão profundas demais, catastróficas demais para cicatrizar. Precisamos suavizar e retardar os golpes cortando as emissões de gases de efeito estufa. Mas também precisamos amortecer os golpes, intensificando nossos esforços para nos adaptarmos às mudanças climáticas – que foram muito fracas por muito tempo.
A melhor maneira de fazer isso é deixar a natureza fazer o trabalho que passou milhões de anos aperfeiçoando: absorvendo e canalizando a água da chuva e das ondas, mantendo a biodiversidade e o equilíbrio nos solos para que diversas plantas possam crescer e fornecendo sombra refrescante sob copas frondosas.
Precisamos da restauração de ecossistemas em larga escala do oceano até o topo das montanhas – inclusive concordando em iniciar negociações sobre um acordo global de poluição por plástico na quinta Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA 5). Precisamos trazer a natureza para as cidades quentes a fim de mantê-las frescas. Precisamos conservar manguezais, recifes de corais e outras defesas da natureza. Precisamos proteger e restaurar zonas úmidas e incorporá-las em nossas cidades.
Apoiar a natureza é a melhor maneira de se adaptar e desacelerar as mudanças climáticas – ao mesmo tempo em que gera empregos e impulsiona as economias. Devemos começar dedicando uma reflexão séria bem como financiamento a programas de adaptação transformacional com a natureza no centro. A humanidade passou séculos tratando a natureza como seu pior inimigo. A verdade é que a natureza pode ser nossa salvadora – mas apenas se a salvarmos primeiro.