Credit: Xinhua via AFP/ Hu Huhu
21 Feb 2025 Reportagem Climate Action

Com novos planos climáticos, os países poderiam impulsionar o crescimento e combater a pobreza, dizem especialistas

Credit: Xinhua via AFP/ Hu Huhu

Ainda este ano, dezenas de países que assinaram o Acordo deParis devem apresentar novos planos climáticos nacionais, ou Contribuições Nacionalmente Determinadas. Segundo especialistas, se forem bem executados, esses planos podem não apenas controlar os gases de efeito estufa que impulsionam as mudanças climáticas como também podem servir de modelo para reduzir a pobreza, melhorar a saúde humana, reforçar a segurança alimentar e expandir o acesso à energia, ao mesmo tempo em que criam trilhões de dólares em oportunidades de investimento. 

"Quando falamos sobre mudanças climáticas, geralmente falamos sobre o que podemos perder com o aquecimento do planeta", diz Martin Krause, diretor da Divisão de Mudanças Climáticas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). "Mas precisamos falar mais sobre os ganhos que alteram a sociedade que poderíamos obter ao lidar com as mudanças climáticas."

Com isso em mente, aqui estão alguns dos maiores benefícios da ação climática, de acordo com os especialistas.

Ação climática pode criar empregos e gerar oportunidades de investimento

A transição para a energia limpa tem sido considerada uma das maiores oportunidades de negócios desde a Revolução Industrial. Somente em 2024, os investimentos em projetos de energia amigáveis ao clima atingiram US$ 2,1 trilhões, segundo a Bloomberg, e ainda há espaço para crescer. Enquanto isso, atingir emissões líquidas zero de gases de efeito estufa até 2050 poderia elevar o produto interno bruto global  em 7%, diz o Fundo Monetário Internacional, e criar 14 milhões de empregos em energia limpa, segundo a Agência Internacional de Energia.  

Ação climática pode salvar vidas e melhorar a saúde humana

Eventos climáticos extremos, que estão sendo turbinados pelas mudanças climáticas, causaram mais de 2 milhões de mortes e US$ 4,3 trilhões em perdas econômicas nos últimos 50 anos. Desacelerar o aquecimento global e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas reduziria esse fardo crescente. Na verdade, poderia evitar cerca de 14,5 milhões de mortes e U$ 12,5 trilhões em perdas econômicas, segundo o Fórum Econômico Mundial. 

Os benefícios não param por aí. Muitas fontes de poluição do ar - como carros - também são fontes de dióxido de carbono e outras emissões de gases de efeito estufa. Limitar essa poluição salvaria milhões de vidas e centenas de bilhões de dólares em custos de saúde a cada ano. 

Pode economizar dinheiro das pessoas

Todos os anos, consumidores e empresas desperdiçam quantidades impressionantes de energia. Isso não apenas lhes custa dinheiro, mas também contribui desnecessariamente para as mudanças climáticas.

De acordo com a Agência Internacional de Energia, as medidas de eficiência energética podem economizar US$ 201 bilhões em eletricidade e gás para as famílias em todo o mundo até 2040.  

Acelerar a transição para a energia renovável também ajuda os países a economizar. Os custos da energia renovável, como eólica e solar, costumam ser inferiores aos das alternativas movidas a combustíveis fósseis. Por exemplo, o Canadá poderia economizar até 15 bilhões de dólares canadenses (US$ 10,5 bilhões) por ano em custos de energia fazendo a transição de suas redes elétricas para zero líquido até 2050, segundo o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável. Isso economizaria para a família canadense média 1.500 dólares canadenses (US $ 1.000) anualmente.    

Protege a natureza e a biodiversidade

A humanidade depende da natureza e da biodiversidade para tudo: desde alimentos e água até ar respirável e materiais de construção. Mais da metade do produto interno bruto mundial é, de fato, moderada ou altamente dependente da natureza, de acordo com o Fórum Econômico Mundial. 

Mas as mudanças climáticas e a perda da natureza estão inextricavelmente ligadas. A conversão da natureza, como o desmatamento, é responsável por uma grande parte das emissões de gases de efeito estufa, enquanto as mudanças climáticas impulsionam fenômenos como incêndios florestais e desertificação, que destroem a natureza.

Gerenciar e restaurar ecossistemas de forma sustentável é uma solução importante para a crise climática. De acordo com o  Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2024 do PNUMA, a redução do desmatamento, o aumento do reflorestamento e a melhoria do manejo florestal poderiam gerar cerca de 20% dos cortes necessários até 2030 para cumprir as metas do Acordo de Paris. Enquanto isso, restaurar 15% das terras degradadas e interromper a conversão poderia evitar até 60% das extinções esperadas de espécies.  

Constrói a segurança nacional

A mudança climática é um multiplicador de ameaças às preocupações com a segurança, aumentando o conflito por recursos escassos, como água e terra, e impulsionando a migração forçada. Prevê-se que pelo menos 25 milhões de pessoas migrem até 2050 como resultado das mudanças climáticas. Agir para reduzir as emissões e construir resiliência criará melhores condições para a paz e reduzirá a migração forçada – aliviando as pressões sobre as fronteiras e orçamentos – protegendo os recursos naturais. 

Além disso, os países que investem em energias renováveis e eficiência energética tornam-se menos vulneráveis aos preços voláteis dos combustíveis fósseis ao reduzir as importações.

 

A Solução Setorial para a crise climática

O PNUMA está na vanguarda do apoio à meta do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2°C e visando 1,5°C, em comparação com os níveis pré-industriais. Para isso, o PNUMA desenvolveu a Solução Setorial, um roteiro para reduzir as emissões em todos os setores, em linha com os compromissos do Acordo de Paris e em busca da estabilidade climática. Os seis setores identificados são: energia; indústria; agricultura e alimentação; florestas e uso da terra; transporte; e edifícios e cidades.