Os últimos meses foram outro lembrete de que a crise climática está se agravando.
Incêndios florestais devastaram o Havaí, o Canadá e as Ilhas Canárias. O gelo Marinho Antártico atingiu sua menor extensão desde que os registros começaram em 1978. Várias ondas de calor oceânicas assolaram os mares do mundo e os meses de junho, julho, agosto e setembro quebraram recordes mensais de temperatura.
Um centro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) que monitora esses eventos é o Global Resource Information Database – Genebra (GRID-Genebra). Criado em 1985, é uma parceria entre o PNUMA, o Escritório Federal Suíço para o Meio Ambiente e a Universidade de Genebra.
Com uma equipe de 22 cientistas de dados ambientais, o principal papel do GRID-Genebra é transformar dados muitas vezes complexos de múltiplas fontes em informações acessíveis para apoiar o processo de tomada de decisão relacionado a questões ambientais, com foco em alertas precoces para desastres ambientais.
Com a intensificação da crise climática, o trabalho do GRID-Genebra deve se tornar ainda mais importante nos próximos anos. Como destacou o Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2022, do PNUMA, as políticas climáticas atuais resultarão em um aumento de temperatura de 2,8°C até o final do século. Isso levaria a um grande aumento de desastres ambientais em todo o mundo, diz Pascal Peduzzi, diretor da GRID-Genebra.
O centro está focado em traduzir dados complexos em informações que sejam compreensíveis e acionáveis. "A maioria das pessoas diz que precisa de dados, mas se você leva a eles dados brutos, eles não sabem como lidar com eles", diz Peduzzi. "Então, transformamos esses dados brutos em gráficos, mapas e coisas com as quais as pessoas podem se relacionar."
O centro está conectado a 70 provedores de dados, desde a NASA até o Serviço Mundial de Monitoramento de Geleiras. Essa rede permite rastrear temperaturas globais, incêndios florestais, níveis de dióxido de carbono atmosférico e extensão do gelo marinho, entre outros marcadores das mudanças climáticas. Ele também rastreia uma série de outras ameaças ambientais, inclusive aquelas ligadas à perda da natureza.
Os cientistas do GRID-Genebra processam imagens de satélite usando software de sensoriamento remoto, criam modelos a partir de dados geoespaciais usando sistemas de informação geográfica e geram mapas e gráficos interativos para atualizações automáticas.
Essas informações são abastecidas em um site, a Sala de Situação do Meio Ambiente Mundial, que os formuladores de políticas e o público podem acessar.
À medida que a tecnologia melhorou – e se expandiu para incluir a inteligência artificial – a quantidade de dados que podem ser processados e interpretados cresceu exponencialmente.
"Com nossos 70 provedores de dados, não precisamos entrar todos os dias e baixar dados", diz Peduzzi. "Seus servidores estão conectados ao nosso banco de dados, então recebemos atualizações automáticas, que são refletidas em nossos mapas."
O GRID-Genebra não só apresenta dados, mas também pode oferecer recomendações políticas, fazendo avaliações de impacto e as apresentando aos formuladores de políticas.
Um exemplo disso foi o trabalho que a GRID-Genebra fez sobre a extração de areia, um problema que há muito tempo não era visto no radar.
Globalmente, os seres humanos consomem 50 bilhões de toneladas de areia por ano, com o material sendo usado em tudo, de edifícios a estradas. Mas a areia é frequentemente dragada do oceano, um processo que esteriliza o fundo do mar ao esmagar os microrganismos que alimentam os peixes, diz Peduzzi.
A GRID-Genebra produziu um relatório sobre a extração de areia em 2014, que, diz Peduzzi, levou a um interesse significativo da mídia. Em 2019 e em 2022, dois outros relatórios foram produzidos, mostrando os efeitos nocivos da dragagem.
No ano passado, na Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o órgão de tomada de decisão de mais alto nível do mundo sobre o meio ambiente, foi aprovada uma resolução afirmando que o GRID-Genebra deveria "fortalecer o conhecimento científico, técnico e político em relação à areia e apoiar políticas e ações globais em relação à extração e ao uso ambientalmente corretos."
Peduzzi diz que o objetivo do centro é garantir que seus dados sejam baseados em ciência sólida e que o processo seja preciso. Em seguida, esses dados são apresentados aos Estados-Membros, que, esperamos, irão tomar medidas.
"Somos conectores", diz Peduzzi. "Somos o elo entre os provedores de dados científicos e os governos."
A 28ª sessão da Conferência das Partes (COP28) será realizada de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para impulsionar ações no combate às mudanças climáticas, redução de emissões e interrupção do aquecimento global. Este ano, a COP28 irá discutir os resultados do primeiro balanço global, avaliando o progresso para alcançar a ambição do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura global a menos de 1,5°C.