Como mãe solteira aos 30 e poucos anos, há muito tempo Ganga Didi se preocupava em poder sustentar seu filho. Mal conseguindo sobreviver com seu salário da faxineira de prédios comerciais em Katmandu, no Nepal, ela começou a procurar melhores oportunidades.
Uma opção foi aprender a dirigir um “safa tempo”, um pequeno ônibus elétrico de três rodas que é uma característica comum da congestionada capital do Nepal. Na década de 1990, Katmandu introduziu cerca de 700 desses ônibus como medida de combate à poluição, uma medida que também ajudou a reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Para pagar as aulas de direção, Didi pegou um pequeno empréstimo com a ajuda da Aloi. A startup canaliza financiamento a juros baixos para empreendedores engajados em empreendimentos verdes. Dois anos depois, Didi é motorista de ônibus em tempo integral, ganhando o dobro do que ganhava, e está até economizando dinheiro para comprar um veículo elétrico de três rodas.
"Ver essa transformação é realmente gratificante", diz Sonika Manandhar, cofundadora e diretora de tecnologia da Aloi. Em 2019, ela foi nomeada Jovem Campeã da Terra, o mais prestigiado prêmio das Nações Unidas para ações ambientais de jovens.
Desde então, Manandhar e sua equipe na Aloi ajudaram 2.300 microempreendedores no Nepal. Graças aos seus esforços, mulheres como Ganga Didi conseguiram pequenos empréstimos para pagar aulas de direção de “safa tempo”, comprar baterias de substituição caras para os seus ônibus e investir em uma agricultura inteligente em termos climáticos, ao mesmo tempo em que combatem a poluição do ar e as mudanças climáticas.
Até agora, Aloi ajudou a desembolsar US$ 800 mil. A maior parcela de beneficiários foram mulheres, a maioria das quais não era elegível para um empréstimo bancário.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) convida jovens transformadores de 18 a 30 anos com ideias excepcionais sobre como proteger e restaurar o meio ambiente para se candidatarem a uma nova rodada do prêmio Jovens Campeões da Terra.
O período de candidaturas começa dia 27 de fevereiro e termina dia 5 de abril. Sete vencedores selecionados de todas as regiões do mundo receberão financiamento inicial, treinamento intensivo e mentoria personalizada para dar vida às suas ambiciosas ideias ambientais.
"O reconhecimento do PNUMA realmente nos ajudou a provar que somos sérios e construir o tipo de rede com bancos e outros parceiros que temos hoje", diz Manandhar, de 34 anos.
Ela citou o exemplo de um banco líder no Nepal, que entrou em contato com ela para oferecer seus serviços. Agora, ele está pronto para trabalhar com a Aloi para fornecer empréstimos individuais entre US$ 2,5 mil e US$ 10 mil para ajudar mulheres agricultoras a se adaptarem às mudanças climáticas.
Bancos de última geração para empresas verdes
Mais de três quartos das mulheres no Nepal trabalham no setor informal e não podem mostrar aos credores nenhum histórico de crédito ou comprovante de renda. Além disso, muitas mulheres empreendedoras não conseguem contrair um empréstimo porque não possuem nenhum imóvel para colocar como garantia.
Manandhar usou sua formação em engenharia da computação para resolver o problema. Ela e sua equipe criaram um sistema em que os empréstimos são fornecidos na forma de tokens digitais que podem ser acessados por SMS e usados para pagar bens e serviços de fornecedores verificados.
A tecnologia também permite que as instituições de crédito rastreiem onde e como os seus recursos estão sendo gastos. As trilhas de dados ajudam tomadores de empréstimos como Didi a construir um forte histórico de crédito que pode ser usado para acessar financiamento para expandir seus negócios verdes.
"Nossa visão é nos tornarmos líderes na prestação de serviços bancários de última geração para mulheres empreendedoras e negócios verdes", diz Manandhar.
Empresas lideradas pelo setor privado, como a Aloi, têm um papel vital a desempenhar no financiamento de soluções para a tripla crise planetária das mudanças climáticas, da perda de biodiversidade e natureza, da poluição e resíduos. Espera-se que o alinhamento do financiamento aos objetivos ambientalmente sustentáveis seja um dos principais tópicos de discussão na sexta sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-6). O mais alto órgão de decisão ambiental do mundo, a Assembleia acontece em Nairóbi, no Quênia, de 26 de fevereiro a 1º de março.
"O trabalho de Aloi mostra o enorme potencial de combinar financiamento digital inclusivo com metas ambientais", diz Rob de Jong, responsável pela unidade de Mobilidade Sustentável do PNUMA. "Os microempréstimos no Nepal não só estão ajudando a reduzir as emissões do setor de transporte rodoviário ao promover o uso de veículos elétricos, mas também estão capacitando mulheres empreendedoras."
Combate ao ar poluído
Katmandu é cercada por montanhas, que retêm a poluição do ar de veículos movidos a gasolina e a diesel, criando um manto de fumaça. Em 2021, a qualidade do ar da cidade foi a pior da região. Em 2019, a poluição do ar foi o principal fator de risco para mortes no Nepal, sendo responsável por quase 22% de todas as fatalidades. Os veículos elétricos, que não têm emissões pelo escapamento, são considerados fundamentais para reduzir esse índice.
Eles também são vistos como ferramentas importantes na campanha contra as mudanças climáticas. Globalmente, o setor dos transportes é responsável por cerca de um quarto de todas as emissões de gases de efeito estufa, os quais estão previstos para duplicarem até 2050. Mas a humanidade pode reduzir essa contagem em até 4,7 gigatoneladas adotando veículos elétricos e criando espaços seguros onde as pessoas possam caminhar, andar de bicicleta e usar outras formas de transporte não motorizado. Reduzir as emissões dos veículos também reduziria as mortes por exposição à fumaça dos escapamentos nas áreas urbanas.
Este ano, a Aloi pretende ajudar mais 100 mulheres a aprender a andar de moto elétrica e comprar sua própria scooter elétrica. Isso permitiria que elas trabalhassem como entregadoras, com empregos garantidos por uma empresa de logística. A Aloi também planeja oferecer treinamento para mulheres interessadas em se tornar mecânicas de veículos elétricos.
Como uma jovem que trabalha em tecnologia e finanças, a jornada não tem sido fácil para Manandhar. Mas ela sempre viu oportunidade nos desafios. "Os problemas me empolgam porque são uma chance de você resolver alguma coisa. Qual é a diversão em ter uma vida fácil?", ela diz, sorrindo.
Seu conselho para outros jovens ambientalistas é simples.
"Tente as coisas, mesmo que elas falhem, aprenda e volte. Use esse aprendizado para construir algo incrível. Se você nunca tentar, a saída é sempre zero, então eu aconselho todo mundo a colocar a mão na massa."
Jovens Campeões da Terra é um prêmio voltado para o futuro e projetado para dar vida às ambições de brilhantes jovens ambientalistas. O prêmio é concedido anualmente a sete jovens ambiciosos de todo o mundo com ideias excepcionais para proteger e restaurar o meio ambiente.
A sexta sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-6) será realizada de 26 de fevereiro a 1º de março de 2024 na sede do PNUMA em Nairóbi, no Quênia, sob o tema: Ações multilaterais eficazes, inclusivas e sustentáveis para combater as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a poluição. Por meio de suas resoluções e chamadas à ação, a Assembleia fornece liderança e catalisa a ação intergovernamental sobre o meio ambiente.
