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28 Apr 2023 Reportagem Ocean & Coasts

Microplásticos: o longo legado deixado pela poluição plástica

O mundo está se afogando sob o peso da poluição plástica, com mais de 430 milhões de toneladas de plástico produzidas anualmente. Dois terços são produtos de vida curta que rapidamente se tornam resíduos, enchendo o oceano e, muitas vezes, entrando na cadeia alimentar humana.

No Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano, em 5 de junho, a questão da poluição plástica estará no centro das atenções. Um dos legados mais danosos e duradouros da crise da poluição plástica são os microplásticos, uma ameaça crescente à saúde humana e planetária.

Essas minúsculas partículas de plástico estão presentes em itens do dia a dia, incluindo cigarros, roupas e cosméticos. Uma pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) mostra que o uso contínuo de alguns desses produtos aumenta o acúmulo de microplásticos no meio ambiente.

Os microplásticos, que podem ter até cinco milímetros de diâmetro, entram no oceano a partir da decomposição do lixo plástico marinho, do escoamento de encanamentos, do vazamento de instalações de produção e de outras fontes.

Quando ingeridos pela vida marinha, como aves, peixes, mamíferos e plantas, os microplásticos têm efeitos tóxicos e mecânicos, levando a problemas como redução da ingestão de alimentos, sufocamento, mudanças comportamentais e alteração genética.

Além de entrar na cadeia alimentar por meio de frutos do mar, as pessoas podem inalar microplásticos do ar, ingeri-los na água e os absorver através da pele. Microplásticos foram encontrados em vários órgãos humanos e até mesmo na placenta de recém-nascidos.

O relatório de 2021 do PNUMA, Da Poluição à Solução, alertou que os produtos químicos nos microplásticos "estão associados a sérios impactos na saúde, especialmente nas mulheres". Eles podem incluir alterações na genética humana, desenvolvimento cerebral e taxas de respiração, entre outros problemas de saúde.

"Os impactos de produtos químicos e microplásticos perigosos na fisiologia de humanos e organismos marinhos ainda são iniciais e devem ser priorizados e acelerados nesta Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável", disse Letícia Carvalho, chefe da Divisão de Água Marinha e Água Doce do PNUMA.

"Porém, a ação que limita sua propagação e prevalência será, sem dúvida, benéfica para a nossa saúde, a longo prazo, e para o bem-estar dos ecossistemas marinhos e mais", acrescentou.

Filtros de cigarros

Os microplásticos conhecidos como fibras de acetato de celulose compreendem a maioria dos filtros de cigarros. Com seis trilhões de cigarros consumidos por um bilhão de fumantes anualmente, essas fibras chegam a todos os cantos do mundo. As bitucas de cigarro são o lixo plástico mais comum nas praias, tornando os ecossistemas marinhos altamente suscetíveis a vazamentos de microplásticos.

Quando se decompõem, os cigarros liberam microplásticos, metais pesados e muitos outros produtos químicos que afetam a saúde e os serviços dos ecossistemas.

Vestuário e têxteis

Os plásticos – incluindo poliéster, acrílico e nylon – compreendem aproximadamente 60% de  todo o material de vestuário. Devido à abrasão, roupas e tecidos com esses materiais eliminam microplásticos conhecidos como microfibras quando lavados ou usados. De acordo com um relatório do PNUMA de 2020 que mapeia a cadeia de valor têxtil global, cerca de 9% das perdas anuais de microplásticos para o oceano vêm de roupas e outros têxteis.

Para reduzir essas perdas, os especialistas recomendam usar as roupas mais vezes e lavá-las com menos frequência. Ao comprar novas roupas, optar por materiais naturais de origem sustentável pode diminuir ou eliminar a ameaça de vazamento de microplástico – embora fazer isso possa vir com outras compensações ambientais.

A longo prazo, o PNUMA e outras agências da ONU que participam da Aliança das Nações Unidas para a Moda Sustentável continuarão a impulsionar ações coordenadas na indústria da moda. Eles também farão campanha para que o governo faça transição para uma cadeia de valor têxtil sustentável e circular com o mínimo de microplásticos. O PNUMA está trabalhando em um roteiro que destaca as principais ações que as partes interessadas podem tomar, bem como orientações para melhorar as medidas de comunicação para impulsionar a mudança de comportamento.

De acordo com Elisa Tonda, chefe da Unidade de Consumo e Produção do PNUMA, engajar todas as partes interessadas é necessário para mudar a indústria têxtil para a circularidade e abordar as liberações de microplásticos dos têxteis.

"Os formuladores de políticas precisam implementar uma governança e políticas mais fortes, bem como criar um ambiente político que incentive o design de tecidos e roupas sustentáveis e promova uma abordagem mais padronizada para a determinação de lançamentos de diferentes produtos têxteis e alternativas adequadas", disse Tonda. "As marcas devem fortalecer seus esforços na criação de roupas sustentáveis e assumir a responsabilidade por seus produtos no final da vida", acrescentou.

Cosméticos

Cosméticos e produtos de higiene pessoal são outros itens básicos das rotinas de cuidado social que podem ser cheios de microplásticos. Esses produtos geralmente contêm microplásticos primários, que são intencionalmente fabricados e adicionados, muitas vezes para fornecer textura - de álcool em gel para as mãos e sabonetes para cremes dentais e desodorante.

As partículas plásticas desses produtos podem ser absorvidas pela pele ou, no caso de produtos como batom ou protetor labial, ingeridas diretamente. Os microplásticos que permanecem na pele acabam sendo levados pelo ralo e podem chegar ao oceano.

De acordo com o relatório Global Chemicals Outlook II do PNUMA, quantidades significativas de microplásticos de cosméticos e outras fontes são mais propensas a entrar em cursos d'água em áreas com instalações inadequadas de tratamento de águas residuais.

O relatório observou que alguns agentes esfoliantes contêm mais de 10% de microesferas – um tipo de microplástico primário. Além disso, em um estudo recente, a campanha Combata as Microesferas, da Plastic Soup Foundation, descobriu que 83% de 138 marcas de desinfetantes e álcool em gel para as mãos continham microplásticos.

Reduzir o uso, comprar produtos com embalagens mínimas e examinar as listas de ingredientes são algumas das maneiras pelas quais os consumidores podem limitar sua exposição em potencial a microplásticos, de acordo com Madhuri Prabhakar, ativista de microplásticos da fundação.

Prabhakar acrescentou que gerar uma "definição à prova de futuro para microplásticos" será essencial para pressionar governos e empresas por mudanças e possíveis proibições ou restrições.

O projeto interativo O que há no seu banheiro?, da Campanha Mares Limpos, do PNUMA, mostra a prevalência do plástico em produtos usuais de cuidados pessoais para incentivar os consumidores a optarem por alternativas ecologicamente corretas.

Empresas e fabricantes também têm a responsabilidade de diminuir o uso primário de microplásticos. Abordar significativamente a questão requer ações desde a fase de design do produto, de acordo com o Relatório de Avaliação sobre Questões de Preocupação do PNUMA.

Virando a maré

Por meio desse novo foco, a Campanha Mares Limpos visa impulsionar mudanças para consumidores, formuladores de políticas e empresas.

Suas parcerias com várias organizações e empresas podem incentivar mudanças no estilo de vida e na indústria e levar a um maior impulso para pesquisas essenciais. Também pode reforçar o nosso conhecimento limitado dos verdadeiros impactos dos microplásticos na saúde humana e ajudar a identificar os melhores caminhos a seguir.

Dada a sua presença generalizada nos utensílios domésticos diários, encontrar respostas para as complexas ameaças dos microplásticos é um desafio crítico e urgente.

Países e empresas podem se juntar à campanha Mares Limpos, bem como ao Compromisso Global da Nova Economia dos Plásticos para fazer promessas e compromissos ambiciosos para combater todos os aspectos do lixo marinho e da poluição por plástico. Os indivíduos também podem assumir o compromisso dos Mares Limpos de reduzir sua pegada de plástico. Juntos, podemos fazer as mudanças necessárias para reduzir os impactos dos plásticos e microplásticos na saúde ambiental e humana.

 

Sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente

O Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho, é o maior dia internacional para o meio ambiente. Liderado pelo PNUMA e realizado anualmente desde 1973, o evento cresceu e se tornou a maior plataforma global de alcance ambiental, com milhões de pessoas ao redor do mundo engajadas para proteger o planeta. Este ano, o Dia Mundial do Meio Ambiente focará em soluções para a crise da poluição plástica.

Sobre a Campanha Mares Limpos

A campanha Mares Limpos, do PNUMA, é a maior e mais poderosa coalizão global dedicada a acabar com a poluição plástica marinha. Ele conecta e reúne indivíduos, grupos da sociedade civil, indústria e governos para catalisar mudanças e transformar hábitos, práticas, padrões e políticas em todo o mundo para reduzir drasticamente o lixo marinho e seus impactos negativos.