Durante meses, os satélites de observação ambiental da NASA têm capturado imagens de centenas de incêndios devastando florestas tropicais virgens e outros ecossistemas vitais do planeta.
Acredita-se que muitos dos incêndios, que vêm no final de uma temporada de incêndios devastadora, foram causados por fazendeiros ansiosos para limpar a terra e satisfazer a crescente demanda global por carne e soja.
Um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), produzido em conjunto com o Painel Internacional de Recursos, diz que o tipo de comércio internacional desenfreado está tendo um efeito prejudicial não apenas nas florestas tropicais, mas em todo o planeta. O relatório, que exigia um conjunto de novas regras comerciais favoráveis à Terra, descobriu que a extração de recursos naturais poderia provocar escassez de água, levar os animais à extinção e acelerar a mudança climática - tudo isso seria desastroso para a economia global.
"As consequências económicas da COVID-19 é apenas um início para o que veríamos se colapsassem os sistemas naturais da Terra. Temos que garantir que nossas políticas comerciais globais protejam o meio ambiente não apenas para o bem de nosso planeta, mas também para a saúde a longo prazo de nossas economias", disse Inger Andersen, Diretora Executiva do PNUMA.
O custo ambiental
O novo relatório, intitulado Sustainable Trade in Resources (Comércio Sustentável de Recursos), foi apresentado na segunda-feira pela Diretora Executiva do PNUMA, Inger Andersen, em uma reunião da Organização Mundial do Comércio.
De acordo com o relatório, 35 bilhões de toneladas de recursos materiais, de petróleo a ferro e batata, foram extraídos da terra em 2017 especificamente para fins comerciais.
Embora isso tenha ajudado a criar milhões de empregos, especialmente em comunidades pobres, o relatório descobriu que isso teve um efeito profundo no planeta. A extração de recursos foi responsável por 90% da perda de espécies, 90% do estresse hídrico e 50% das emissões de gases de efeito estufa durante esse ano.
O relatório incita os formuladores de políticas a adotarem um modelo econômico circular, levando em consideração que a demanda por recursos naturais tem previsão de dobrar até 2060.
Isso permitiria às empresas utilizar menos recursos, reciclar mais e prolongar a vida útil de seus produtos. Também colocaria um ônus nos consumidores para comprar menos, economizar energia e reparar coisas que estão quebradas em vez de jogá-las fora.
"Há uma ideia de que a exploração de recursos naturais é o nosso caminho para a prosperidade. Mas isso não é verdade. Ao adotar a circularidade e reutilizar materiais, ainda podemos impulsionar o crescimento económico enquanto protegemos o planeta para as gerações futuras".
Os benefícios de uma transição verde
Impulsionar essas mudanças poderia gerar grandes dividendos para o planeta, segundo o relatório. Ao conservar os recursos, a humanidade poderia reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 90%.
Embora o modelo circular pudesse ter "implicações econômicas" para países que dependem de recursos naturais, ele daria origem a novas indústrias dedicadas à reciclagem e ao reparo. Em geral, o relatório prevê que um modelo econômico mais verde impulsionaria o crescimento em 8% até 2060.
"Há uma ideia de que a exploração de recursos naturais é o nosso caminho para a prosperidade. Mas isso não é verdade. Ao adotar a circularidade e reutilizar materiais, ainda podemos impulsionar o crescimento económico enquanto protegemos o planeta para as gerações futuras", disse Inger Andersen.
Alguns países, tanto no mundo desenvolvido quanto em desenvolvimento, abraçaram o conceito de uma economia circular. Mas o relatório indica que os acordos comerciais internacionais podem desempenhar um papel importante para tornar esses sistemas mais comuns.
O relatório solicitou a Organização Mundial do Comércio, que tem 164 países membros, a levar em consideração o meio ambiente ao estabelecer regulamentos. Também recomendou que os pactos comerciais regionais promovam o investimento em indústrias favoráveis ao planeta, eliminem subsídios “prejudiciais” como os combustíveis fósseis e evitem minar os acordos ambientais globais.
"Reorientar a economia global não é uma tarefa fácil. Há muitos interesses adquiridos com os quais temos que nos defrontar. Mas com a expectativa de que a população da Terra alcance quase 10 bilhões até 2050, precisamos encontrar maneiras de aliviar a pressão sobre o planeta", disse Inger Andersen.