Enquanto mais de 190 líderes mundiais e dezenas de milhares de representantes governamentais, empresas e cidadãos se reúnem na vigésima sexta sessão da Conferência das Partes (COP 26) em Glasgow nesta semana e na próxima, nós revelamos o que esperar, mergulhando no que há de mais recente em termos de ciência climática no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
1. O que esperar da COP26?
Líderes nacionais estão sendo pressionados a tomar as medidas necessárias para reduzir suas emissões, mobilizar fundos e impulsionar a adaptação e a resiliência. Os países também estão sendo cobrados a avançar com metas ambiciosas de redução de emissões em 2030, que se alinhem com o objetivo de alcançar emissões líquidas zero até meados do século. Para atingir essas metas, os países desenvolvidos precisarão cumprir suas promessas de mobilizar pelo menos US$ 100 bilhões em financiamento para o clima por ano para os países em desenvolvimento até 2020. As instituições financeiras dos setores público e privado também precisarão contribuir com alguns trilhões necessários para assegurar a emissões líquidas zero globalmente.
As partes discutirão vários artigos do Acordo de Paris - que estabelece o objetivo de manter o aquecimento global neste século abaixo de 2°C - enquanto seguem com os esforços para mantê-lo abaixo de 1,5°C. Isto inclui financiamento, mercados de carbono, perdas e danos, transparência e busca por consolidar detalhes técnicos importantes do “Livro de Regras” do Acordo de Paris.
2. O que o PNUMA espera que seja alcançado ao final das negociações sobre clima?
O PNUMA espera que a COP26 resulte em um aumento da ação global em três áreas centrais para as políticas: mitigação, adaptação e finanças. Isto significa compromissos políticos confiáveis, que levem ao aumento dos esforços de cada país para reduzir as emissões nacionais e se adaptar às mudanças climáticas, conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), juntamente com o acordo sobre questões técnicas críticas, clara movimentação do setor privado e compromissos financeiros das instituições financeiras públicas e privadas.
3. Por que o metano é importante?
Relatório de 2021 do PNUMA "Lacuna de Emissões de 2021: O Aquecedor está Ligado", lançado na semana passada, mostra que o metano é crucial para a ação climática a curto prazo. Este gás tem um potencial de aquecimento global 80 vezes maior que o do dióxido de carbono em um período de 20 anos, o que o torna um poderoso gás de efeito estufa. Mas ele só permanece na atmosfera por 12 anos, muito menos do que o dióxido de carbono. Na prática, isto significa que a redução das emissões de metano pode ter um impacto mais imediato no controle do aquecimento global e nos dar um tempo valioso. Mais de 60 países aderiram ao Compromisso Global do Metano, para reduzir as emissões de metano em 30% até 2030. O relatório mostra que é viável atingir este objetivo nos setores de petróleo e gás, agricultura e resíduos com um custo baixo ou zero.
4. Quais são as principais conclusões do Relatório de 2021 do PNUMA sobre Lacuna de Emissões?
Este relatório anual do PNUMA destaca a diferença entre os níveis das emissões de gases de efeito estufa previstos para 2030, com base nos compromissos atuais do governo, e em que nível precisam estar para cumprir as metas do Acordo de Paris.
O relatório mostra que os NDCs são insuficientes ou ficam aquém das expectativas. Os compromissos atuais traçam o caminho para um aumento da temperatura global de 2,7°C até o final do século. O relatório também constata que os novos e atualizados NDCs apresentados por 120 países em 30 de setembro de 2021 terão uma redução de apenas 7,5% nas emissões previstas para 2030, enquanto é necessária uma redução de 55% para atingir as metas de 1,5°C. Compromissos de emissões líquidas zero poderiam ajudar, podendo diminuir mais 0,5°C destes 2,7°C.
5. É tarde demais? Há alguma coisa que possa ser feita?
Não é tarde demais. Mas como diz Inger Andersen, diretora executiva do PNUMA: "Não é mais um problema futuro. É um problema de agora... o relógio está correndo rápido".
Para ter uma chance de limitar o aquecimento global a 1,5°C, os próximos oito anos serão cruciais. Os gases de efeito precisam ser reduzidos pela metade. Na prática, isto significa, além dos novos NDCs, que mais 28 gigatoneladas de emissões anuais de equivalentes de CO2 (GTCO2e) devem ser reduzidas. Uma queda anual de 13 GtCO2e é necessária para limitar o aumento da temperatura a 2°C.
6. O que uma temperatura acima de 2,7°C significaria para o planeta?
Qualquer aumento de temperatura próximo a 2,7°C seria um desastre para a humanidade e para muitas das espécies do planeta. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mesmo um aumento de 2°C teria um grande impacto sobre a alimentação, segurança e saúde humana.
Os insetos, vitais para a polinização dos cultivos e plantas, provavelmente perderiam metade de seu habitat com o aumento de 1,5°C. Isto se torna duas vezes mais provável a 2°C. A frequência e a intensidade de secas, tempestades e eventos climáticos extremos aumentarão a cada aumento de temperatura - como já estamos vendo diante de um aumento da temperatura global de cerca de 1,2°C em relação aos níveis pré-industriais.
7. A COVID-19 ajudou a reduzir as emissões?
Sim, a pandemia da COVID-19 levou a uma queda global de CO2 de 5,4% em 2020, mas foi uma redução temporária. Em 2021, prevê-se que os níveis sejam apenas levemente inferiores ao recorde de alta de 2019, empurrando a concentração de CO2 na atmosfera para o nível mais alto dos últimos dois milhões de anos.
De forma preocupante, apenas 17-19% da recuperação econômica da pandemia - 438 bilhões de dólares em 2,28 trilhões de dólares - estão sendo utilizados para a recuperação verde e a redução das emissões de gases de efeito estufa. Da recuperação verde, 90% vêm de sete países, o que precisa ser ampliado.
8. Como as promessas de emissões líquidas zero ajudam a tapar a lacuna de emissões?
O Relatório sobre a Lacuna de Emissões de 2021 mostra que os NDCs atualizados e outros compromissos de mitigação para 2030 têm 66% de probabilidade de gerar um aumento da temperatura global em 2,7°C até o final do século. Se implementados de forma eficaz e forem refletidos nos NDCs, os compromissos de emissões líquidas zero podem reduzir em 0,5°C estes 2,7°C, aproximando-se da meta de 2°C do Acordo de Paris.
O PNUMA está à frente no apoio ao objetivo do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2°C, e visando - para ser prudente - o 1,5°C, em comparação aos níveis pré-industriais. Para fazer isto, o PNUMA desenvolveu uma Solução de Seis Setores. A Solução de Seis Setores é um roteiro para reduzir as emissões em todos os setores, em conformidade com os compromissos do Acordo de Paris e na busca pela estabilidade climática. Os seis setores identificados são Energia; Indústria; Agricultura e Alimentos; Florestas e Uso da Terra; Transporte, e Edifícios e Cidades.