Photo: UNEP
13 Nov 2023 Reportagem Climate Action

Oito maneiras pelas quais a Ásia está usando a natureza para se adaptar à crise climática

A região Ásia e Pacífico não é estranha às mudanças climáticas.

Apenas nos últimos meses, enfrentou secas, recorde de calor e vários supertufões, um período de clima extremo que, segundo especialistas, só vai piorar à medida que o planeta aquece.

Esta semana, os líderes estão na Malásia para a Semana do Clima Ásia e Pacífico, um evento projetado para explorar soluções para os problemas climáticos mais urgentes que a região enfrenta.

Espera-se que os delegados discutam o que são conhecidos como soluções baseadas na natureza, que focam em aproveitar a natureza – e os serviços que ela fornece – para construir resiliência à crise climática. Espera-se que esses tipos de soluções, que podem ser menos caras e mais eficazes do que a infraestrutura construída, sejam cruciais nos próximos anos.

O Relatório sobre a Lacuna de Adaptação 2023, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), divulgado no início deste mês, descobriu que, apenas no sul da Ásia, os custos da adaptação climática podem variar entre US$ 40 bilhões e US$ 205 bilhões por ano nos próximos 10 anos, ou cerca de 1% a 5,1% do Produto Interno Bruto.

Isso está levando muitos países da região a adotar soluções baseadas na natureza. Aqui está um olhar mais atento sobre oito desses projetos.

 A lady stands smiling before a mangrove forest.
Foto: PNUMA/Nathanial Brown

Sifatul Khoiriyah, da vila de Timbulsloko, sorri diante das árvores que protegem sua casa. Ativamente envolvida na iniciativa Building with Nature Indonesia, ela defende a restauração de manguezais, que os especialistas chamam de "super solução" para a adaptação climática. Os manguezais atuam como uma defesa natural contra a erosão das margens e inundações. A Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas, um esforço para reviver espaços naturais comprometidos, reconheceu recentemente o Building With Nature Indonesia por seu trabalho, que pode ajudar 70 mil pessoas que vivem em áreas de alto risco.

Aerial shot of vibrant green floating gardens
Foto: ICCCAD/Lutfor Rahman e Diego Barrero Mielgo

Jardins flutuantes no coração de Nazirpur Upazila, Bangladesh, mostram a adaptabilidade e inovação da natureza. Criados a partir de jacinto-d'água em decomposição, lentilha d'água e arroz, esses canteiros flutuantes florescem com cultivos essenciais, como cúrcuma, gengibre e espinafre. Os jardins sobem e descem com a mudança dos níveis de água, oferecendo uma solução altamente resiliente para a agricultura em áreas propensas a inundações, ao mesmo tempo em que incentivam as comunidades a proteger os ecossistemas de zonas úmidas que abrigam os jardins. Os leitos também ajudam a controlar a disseminação do jacinto d'água, espécie invasora que destrói a biodiversidade local e entope os cursos d'água.

A drone shot of a valley composed of agricultural terraces and forests.
Foto: PNUMA/Marcus Nield

Centenas de deslizamentos de terra afetam o Nepal a cada ano. O fenômeno está crescendo constantemente à medida que as temperaturas flutuantes e as chuvas – ambas consequências da crise climática – desestabilizam a superfície da Terra. Por meio de um projeto do PNUMA financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente, as comunidades estão recebendo treinamento sobre como proteger as florestas morro acima de seus terraços agrícolas. Em um excelente exemplo de engenharia ecológica, o sistema de raízes interligadas das árvores fornece uma rede que impede que o solo deslize pela encosta durante os períodos de chuvas intensas. Continuando no espírito de soluções baseadas na natureza, os moradores locais construíram uma lagoa de conservação de água (perto do centro) que capta a água da chuva.

A young woman using shears to harvest cacao beans.
Foto: PNUMA

No rastro do Tufão Nock-ten, que atingiu as Filipinas no dia de Natal em 2016, Louise Mabulo percebeu que, entre a devastação, muitas árvores de cacau ainda estavam de pé. Como chef, Mabulo já sabia do alto potencial de renda do cacau para os agricultores locais. A resiliência climática do cultivo reforça ainda mais seu valor. Seu Projeto Cacau já capacitou mais de 200 agricultores em técnicas agroflorestais, combatendo o desmatamento e revitalizando 150 hectares de terra com mais de 150 mil árvores.

"Com o início das mudanças climáticas e tempestades potencialmente mais fortes no futuro, são necessários cultivos mais resistentes a desastres", disse Mabulo. Por seu trabalho, Mabulo recebeu o prêmio Jovens Campeões da Terra,  uma das maiores honrarias ambientais da ONU, em 2019.

 A scientist casts a net among crops against the backdrop of the setting sun
Foto: PNUMA/Anna Hellge

Enquanto o sol lança uma tonalidade dourada sobre as Terras Altas de Cameron, na Malásia, um cientista lança uma rede em busca dos pequenos guerreiros da natureza: os insetos. Muitos agricultores os vêem como inimigos que só podem ser combatidos por meio do uso de produtos químicos. O Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola da Malásia está adotando uma visão diferente e começou a criar vespas em um laboratório para combater a devastadora mariposa diamante, uma espécie altamente invasora que assola fazendas em todo o mundo. A propagação da mariposa é um desafio previsto para se agravar sob a crise climática. A iniciativa Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade,  organizada pelo PNUMA, está trabalhando com o governo da Malásia para entender como práticas agrícolas sustentáveis podem beneficiar a produtividade dos cultivos diante das mudanças climáticas.

A snow leopard looks directly into the camera with a green mountainous background
Foto: PNUMA/Philippe Matheini e Michael Booth

Nas montanhas escarpadas do Quirguistão, um curioso leopardo da neve é fotografado no Centro de Reabilitação NABU. À medida que a crise climática se aproxima, as geleiras estão recuando e os recursos hídricos estão diminuindo, empurrando os agricultores para cima à procura de áreas de pastagem para seus rebanhos. Isso abre a porta para conflitos com o já ameaçado leopardo da neve. O  programa Vanishing Treasures, do PNUMA, está agora trabalhando no Quirguistão e no Tajiquistão para mitigar potenciais conflitos. Do ecoturismo pioneiro ao rastreamento de perdas de gado e pontos críticos de predadores, a iniciativa busca uma convivência simbiótica, protegendo as comunidades locais e esse grande felino dos impactos em cascata de um mundo em mudança.

Large blocks of ice on a rocky mountainous terrain tower over a group of people.
Foto: PNUD/Jamil Akhtar

O Paquistão ganhou as manchetes em julho de 2022, quando uma "megainundação" submergiu um terço do país. Mas a escassez de água também está ameaçando muitas partes do Paquistão, incluindo Gilgit Baltistan, conhecido por suas magníficas montanhas e geleiras brilhantes. Com uma precipitação anual inferior a 50 milímetros, a vila de Paari depende exclusivamente da água da neve e do derretimento glacial para a agricultura de pequena escala e a criação de gado. Os moradores locais adotaram uma solução indígena para a escassez de água: estupas de gelo. A água da geleira é canalizada por um tubo e liberada em áreas sombreadas. A água, quando exposta a temperaturas abaixo de zero, congela ao entrar em contato com o solo, formando uma estrutura cônica de até 15 metros de altura. À medida que as temperaturas aumentam na primavera, as estupas começam a derreter, fornecendo irrigação para os cultivos.

A man and woman in beekeeping suits hold up a hive frame covered in honeybees.
Foto: PNUMA/Ilbirs Foundation/Vanishing Treasures

Na vila de Bel-Aldy, no Quirguistão, dois apicultores exibem orgulhosamente uma colmeia próspera. O sobrepastoreio do gado e o aumento da seca na região estão desestabilizando o solo nas encostas das montanhas, colocando as vilas em risco de deslizamentos de terra. Uma iniciativa do PNUMA está combatendo isso treinando os moradores da apicultura como uma alternativa de subsistência. Isso reduz o número de animais e incentiva a proteção do ecossistema para sustentar as abelhas e estabilizar as encostas. Esse programa também direciona 30% dos lucros da apicultura para um fundo de conservação ambiental. 

A 28ª sessão da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Climática (COP28) será realizada de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O objetivo é impulsionar a ação contra as mudanças climáticas, reduzindo as emissões e interrompendo o aquecimento global. A COP28 irá explorar os resultados do primeiro Balanço Global, que avalia o progresso em direção à meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura global a menos de 1,5°C. Você pode acompanhar as atualizações ao vivo da COP28 no feed de ação climática do PNUMA.