As emissões de gases de efeito estufa (GEEs) — substâncias atmosféricas que causam o aquecimento global e a mudança climática — são determinantes para se entender e solucionar a crise climática. Apesar de uma queda inicial das emissões globais de GEEs devido à COVID-19, o novo Relatório sobre a Lacuna de Emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) prevê uma forte recuperação em 2021, ano em que a expectativa é de que as emissões sejam apenas levemente inferiores aos níveis recorde de 2019.
Embora a maioria dos GEEs seja lançada naturalmente, as atividades humanas também têm provocado um aumento problemático na quantidade de GEEs emitida e na concentração destes na atmosfera. Essa concentração elevada, por sua vez, pode resultar em efeitos adversos sobre o clima, que incluem o aumento na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos — como inundações, secas, queimadas e furacões — que afetam milhares de pessoas e causam prejuízos econômicos de cerca de trilhões de dólares.
O Relatório sobre a Lacuna de Emissões revelou que, caso as emissões anuais de GEEs não forem reduzidas pela metade até 2030, dificilmente conseguiremos manter o limite de aumento de temperatura em 1,5 °C, em comparação aos níveis pré-industriais, até o final do século. Considerando a situação atual das promessas incondicionais assumidas para reduzir emissões, o mundo caminha para um aquecimento de 2,7 °C até o final de século, em comparação aos níveis pré-industriais.
“As emissões de gases de efeito estufa causadas pelo ser humano ameaçam a saúde humana e ambiental, e os impactos serão mais generalizados e danosos sem uma ação climática potente”, disse Mark Radka, diretor do Departamento de Energia e Clima do PNUMA.
Então, como exatamente as emissões de GEEs aquecem o planeta e o que podemos fazer?
Quais são os principais gases de efeito de estufa?
O dióxido de carbono (CO2), o metano e o óxido nitroso são os principais GEEs. O CO2 perdura na atmosfera por até mil anos, o metano por cerca de uma década e o óxido nitroso por aproximadamente 120 anos. Com base em um cálculo de 20 anos, o metano é 80 vezes mais potente do que o CO2 como causa do aquecimento global e o óxido nitroso é 280 vezes mais potente.
“A emergência climática demanda ações de todos e todas. Precisamos alcançar emissões líquidas zero até 2050, e cada pessoa tem um papel a desempenhar”,
O carvão, o petróleo e o gás natural continuam abastecendo muitas partes do mundo. O carbono é o principal elemento desses combustíveis, e quando eles são queimados para a produção de eletricidade, transporte de energia ou aquecimento, o CO2 é liberado, um gás incolor e sem cheiro.
A extração de petróleo e gás, a mineração de carvão e os aterros sanitários representam 55% das emissões de metano causadas pela atividade humana. Além disso, cerca de 32% desse metano pode ser atribuído a vacas, ovelhas e outros ruminantes que fermentam alimentos em seus estômagos. A decomposição do esterco é outra fonte agrícola desse gás, assim como o cultivo do arroz.
As emissões de óxido nitroso causadas pela atividade humana surgem, em grande parte, de práticas agrícolas. As bactérias presentes no solo e na água naturalmente convertem o nitrogênio em óxido nitroso, porém o uso de fertilizantes e o escoamento têm adicionado ainda mais nitrogênio no meio ambiente e acentuando esse processo.
Quais são os outros gases de efeito estufa?
Os gases fluorados — tais como hidrofluorcarbonos, perfluorcarbonos e o hexafluoreto de enxofre — são GEEs que não são produzidos naturalmente. Os hidrofluorcarbonos são gases de refrigeração utilizados como alternativas aos clorofluorcarbonos (CFCs), que destroem a camada de ozônio e foram eliminados gradualmente graças ao Protocolo de Montreal. Os outros gases têm usos industriais e comerciais.
Embora os gases fluorados sejam muito menos prevalentes do que outros GEEs e não empobrecem a camada de ozônio como os CFCs, estes ainda são muito poderosos. Durante um período de 20 anos, o potencial do aquecimento global dos vários gases fluorados atinge de 460 a 16.300 vezes mais do que o do CO2.
O vapor de água é o GEE mais abundante na atmosfera e é o maior contribuinte geral para o efeito estufa. No entanto, quase todo o vapor presente na atmosfera tem origem em processos naturais. As emissões humanas são muito pequenas e, portanto, relativamente menos impactantes.
O que é o efeito estufa?
A superfície da Terra absorve cerca de 48% da energia solar recebida, ao passo que a atmosfera absorve 23%. O resto é refletido de volta ao espaço. Os processos naturais garantem que a quantidade de energia que entra e sai seja igual, mantendo a temperatura do planeta estável.
Entretanto, os GEEs, ao contrário de outros gases atmosféricos, tais como oxigênio e nitrogênio, absorvem parte radiação infravermelha emitida. À medida que a concentração de GEEs na atmosfera aumenta devido às emissões causadas pela atividade humana, a energia irradiada da superfície fica presa na atmosfera, incapaz de escapar do planeta. Essa energia retorna para a superfície, na qual é reabsorvida.
Uma vez que há mais energia entrando do que saindo do planeta, as temperaturas na superfície aumentam até que um novo equilíbrio seja alcançado. Esse aumento de temperatura tem impactos climáticos de longo prazo e afeta inúmeros sistemas naturais.
O que podemos fazer para reduzir as emissões de GEEs?
A transição para a energia renovável, a precificação do carbono e a eliminação do carvão são elementos importantes para a redução desses gases. Em última análise, são necessárias contribuições nacionalmente determinadas (NDCs em inglês) mais potentes para acelerar esta redução a fim de preservar a saúde humana e ambiental a longo prazo.
“Precisamos implementar políticas fortes que apoiem as ambições manifestadas. Não podemos continuar seguindo o mesmo caminho e esperar melhores resultados. É preciso agir agora”, diz Radka.
Durante a COP26, a União Europeia e os Estados Unidos lançaram o Global Methane Pledge (Compromisso Global do Metano em português), que reunirá mais de 100 países com o objetivo de reduzir 30% das emissões de metano nos setores de combustíveis, agricultura e resíduos até 2030.
O PNUMA desenvolveu uma solução de seis setores, capaz de reduzir entre 29 e 32 gigatoneladas de dióxido de carbono até 2030 para cumprir o limite de aumento de temperatura em 1,5 °C. O PNUMA também dispõe de uma “Nota Climática” online, uma ferramenta que permite visualizar o estado de mudança do clima a partir do ano base de 1990.
Apesar dos desafios, há motivos para sermos positivos. De 2010 a 2021, surgiram políticas que reduzirão as emissões anuais em 11 gigatoneladas até 2030, em relação ao que teria acontecido caso nada fosse feito.
Por meio de outros relatórios e acordos ambientais multilaterais, o PNUMA sensibiliza as pessoas e defende uma ação ambiental eficaz. O PNUMA continuará colaborando estreitamente com os 193 Estados membros e outras partes interessadas para definir a agenda ambiental e defender uma redução drástica nas emissões de GEEs
Além desses movimentos, as pessoas também podem aderir à campanha #ActNow da ONU em busca de ideias que promovam ações positivas para o clima.
Ao fazer escolhas que geram menos efeitos nocivos ao meio ambiente, todas as pessoas podem fazer parte da solução e influenciar a mudança. Fazer-se ouvir é uma maneira de multiplicar o seu impacto e gerar mudanças em uma escala ainda maior.
O PNUMA lidera o cumprimento do objetivo do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2 °C, dando preferência, por segurança, a um limite de 1,5 °C, em comparação aos níveis pré-industriais. Para isso, o PNUMA desenvolveu uma Solução de Seis Setores: um roteiro para reduzir as emissões em todos os setores, em conformidade com os compromissos do Acordo de Paris e na busca pela estabilidade climática. Os seis setores identificados são: Energia; Indústria; Agricultura e Alimentos; Florestas e Uso da Terra; Transporte, e Edifícios e Cidades