As questões relacionadas ao meio ambiente e à paz são questões transversais intrínsecas ao desenvolvimento sustentável. Embora os recursos naturais sejam vitais para alcançar o desenvolvimento sustentável, eles também são frequentemente causas de fragilidade, conflito e violência. A crescente demanda por recursos naturais, juntamente com a degradação ambiental e as mudanças climáticas, levaram ao aumento de conflitos entre países e entre comunidades pelo acesso e propriedade de recursos.
No mês passado, o Conselho de Segurança das Nações Unidas se reuniu para discutir as crescentes ameaças à paz e à segurança mundiais. Cerca de 80 países concordaram que as maiores ameaças iminentes à humanidade poderiam ser desencadeadas pelas mudanças climáticas, não pelo terrorismo, nem pela guerra nuclear ou por conflitos ao redor do mundo.
A migração causada por mudanças climáticas pode ser uma das questões mais desafiadoras com as quais a humanidade terá que lidar, não no futuro, mas desde já. A ameaça do aumento do nível do mar, causada pelas mudanças climáticas, pode resultar em uma nova categoria de migrantes ambientais que escapam de suas casas submersas para países vizinhos. O aumento da frequência, gravidade e magnitude dos eventos climáticos extremos em todo o mundo - um dos resultados mais imediatos e visíveis das mudanças climáticas - provavelmente continuará gerando crises humanitárias.
A água em abundância pode levar a inundações devastadoras, enquanto a escassez de água leva à seca, ambas com consequências políticas, sociais, ambientais e econômicas significativas. A água, se não for gerenciada efetivamente de maneira justa e inclusiva, pode tornar-se um fator de conflito. Apesar da complexidade dos desafios, recursos naturais, como a água, também são recurso que viabilizam a colaboração. Enquanto nos últimos 50 anos assistimos a cerca de 40 conflitos violentos pela água, cerca de 150 tratados pela água foram assinados em todo o mundo.
Uma abordagem integrada para lidar com as mudanças climáticas é essencial para que possamos levar em conta os impactos sociais, econômicos, políticos e de segurança em nível global. O desenvolvimento sustentável não pode ser alcançado sem a paz.
“Líderes religiosos são pessoas respeitadas e com fortes afiliações comunitárias”, afirmou Iyad Abumoghli, Coordenador Principal da Iniciativa Fés pela Terra. “A legitimidade deles se baseia em seu importante status e na sua imparcialidade no processo”.
“A iniciativa Fés pela Terra está trabalhando para estabelecer uma Coalizão Inter-religiosa global de alto nível para facilitar o diálogo e a colaboração no gerenciamento dos recursos naturais, incentivando abordagens inovadoras para encontrar resoluções duradouras”, acrescentou Abumoghli.
A palavra paz aparece na Bíblia 429 vezes na versão do Rei Jaime, muito utilizada em países anglófonos, de acordo com a Comparative 1st Century Aramaic Bible in Plain English. Em Mateus 5: 9: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”. No Islã, um dos nomes de Deus, segundo o Alcorão, é As-Salaam, que significa paz. No Alcorão, está escrito: “É paz, até ao romper da aurora!". Isso identifica a noite da revelação com a paz. Além disso, o Alcorão diz que os virtuosos admitidos no paraíso são recebidos pelos anjos com a expressão: "Entrai em paz! Eis aqui o Dia da Eternidade!”. Portanto, o dia da revelação e o dia do julgamento são ambos identificados com a paz.
No hinduísmo, paz e não-violência são virtudes amplamente aceitas nos textos e práticas antigos. Em sânscrito, o termo shanti é usado para a paz. O significado literal da palavra é pacífico, não-violento, calmo ou imperturbável. Os ensinamentos do Guru Nanak fornecem o entendimento básico de amor e compaixão, fraternidade universal e igualdade, os quais são os princípios básicos da paz.
O engajamento de líderes e organizações religiosos pode ser uma ferramenta para enfrentar os desafios da água, da paz e da segurança. O enfrantamento dessas questões pode ser realizado através de mediações, diálogo e trabalho em direção a um objetivo global da protegeção da criação de Deus, o nosso único planeta.
Hoje, mais de 80% das pessoas no mundo estão associadas a uma religião ou a uma comunidade espiritual. No entanto, muitos ainda não têm acesso a bens e serviços básicos por causa de sua religião, sexo, origem, cor de pele e assim por diante.
Nesse sentido, os valores de paz e da tolerância são críticos para proporcionar oportunidades iguais para meios de vida sustentáveis. Sociedades pacíficas são aquelas em que todos têm o mesmo direito de acessar bens e serviços. Por exemplo, de acordo com a lei islâmica, os elementos básicos da natureza - terra, água, fogo, floresta e luz - pertencem a todos os seres vivos, não apenas aos seres humanos.
A dignidade humana e a humanidade compartilhada de todas as raças é fundamental para a paz. Os conceitos de redenção e perdão das crenças apoiam esforços significativos de reconciliação pós-conflito e fornecem recursos para beneficiar a resiliência das sociedades. Os esforços inter-religiosos podem ajudar a resolver ou evitar disputas nas regiões mais afetadas por conflitos do mundo, bem como a melhorar as condições de milhões de pessoas em conflitos civis.
A mobilização de parcerias é um meio essencial para a implementação da Agenda 2030. Os objetivos só podem ser alcançados por meio do engajamento e da parceria com partes interessadas de todas as esferas da vida, e mantendo a diversidade cultural como uma quarta dimensão do desenvolvimento sustentável. A iniciativa Fés pela Terra está contribuindo para garantir que a boa administração dos recursos naturais seja um valor e uma responsabilidade humanos fundamentais.