28 Feb 2019 Reportagem Nature Action

Brasil Megadiverso: dando um impulso online para a biodiversidade

O Brasil está no topo da lista dos 18 países mais megadiversos do mundo. Abriga entre 15% e 20% de toda a diversidade biológica global, com mais de 120 mil espécies de invertebrados, cerca de 9 mil vertebrados e mais de 4 mil espécies de plantas. Com isso, emerge um enorme potencial para impulsionar o crescimento econômico e a inclusão social, mas também uma enorme responsabilidade.

O uso sustentável de recursos naturais é fundamental para as gerações presentes e futuras do país. Mas para fazer isso, enquanto monitora a perda de biodiversidade e os esforços de conservação, é crucial conhecer os recursos brasileiros. Com uma média de 700 novas espécies de animais descobertas todos os anos no Brasil, armazenar tantas informações de maneira eficiente é um enorme desafio, especialmente considerando o vasto tamanho do país e o elevado número de instituições envolvidas com pesquisa.

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Photo by José Sabino

“Quando a informação está espalhada em diferentes instituições, é mais difícil encontrá-la, julgar a qualidade dos dados e entender como eles podem ser usados. Além disso, o tempo necessário para compilar os dados pode tornar o seu uso ineficiente, como é o caso em questões de políticas públicas”, explicou Andréa Nunes, coordenadora geral de biomas do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e diretora nacional do projeto Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr).

Nunes destacou, por exemplo, o caso do mapa de áreas prioritárias para conservação, uso sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade, uma ferramenta de política pública que apoia processos participativos de tomada de decisão, como a criação de áreas protegidas. “O desenvolvimento deste mapa pode levar até dois anos, por isso, ele só é atualizado a cada quatro ou cinco anos, o que é muito tempo quando pensamos em dinâmica do território e mudanças no uso da terra”.

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Infográfico: SiBBr

Com o apoio da ONU Meio Ambiente e do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações tem trabalhado para mudar esse cenário, criando a ferramenta mais abrangente sobre a biodiversidade nacional.

O Sistema Brasileiro de Informação sobre Biodiversidade Brasileira reúne atualmente dados e informações de mais de 230 instituições, de universidades a centros de pesquisa, museus, órgãos estaduais, jardins botânicos e zoológicos.

Operacional desde novembro de 2014, o sistema visa apoiar a ciência, a política pública e a tomada de decisões relacionadas à conservação ambiental e ao uso sustentável dos recursos naturais. Isso é alcançado incentivando e facilitando a digitalização e publicação online, integrando dados e informações de acesso aberto sobre a biodiversidade brasileira.

Para os pesquisadores, o sistema é uma ferramenta inestimável. Por exemplo, um cientista pesquisando uma espécie em extinção — como o lobo-guará — pode agora encontrar diversas informações sobre a espécie, bem como divulgar seu próprio trabalho para um público mais amplo de pesquisadores em todo o mundo.

O sistema também tem outros usos. Agricultores podem usar a plataforma para ajudar a calcular os créditos de compensação ambiental ou para decidir quais espécies priorizar nos esforços de restauração — como a flora em extinção, ou plantas que fornecem abrigo e alimento para espécies ameaçadas da vida selvagem. Qualquer usuário também pode contribuir com o sistema enviando fotografias, documentação e informações sobre a biodiversidade por meio do programa Ciência Cidadã.

“A implementação do Sistema Brasileiro de Informação sobre Biodiversidade é um passo importante para a disseminação de dados biológicos no país, tanto para pesquisa acadêmica quanto para a gestão ambiental”, afirmou Denise Hamú, representante da ONU Meio Ambiente no Brasil. “Estamos convencidos de que o sistema é cada vez mais relevante para ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira e a conservação da natureza”.

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Foto: José Sabino

O banco de dados do sistema já conta com mais de 15 milhões de registros sobre a ocorrência de espécies brasileiras publicadas pelas principais instituições de pesquisa do país, como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), além de dados obtidos em parcerias com herbários na Europa e nos Estados Unidos.

Parte dessa informação apoiou a criação de uma ferramenta chamada Biodiversidade e Nutrição, que fornece um banco de dados sobre a composição nutricional de espécies brasileiras nativas e ingredientes relacionados a receitas.

Em novembro de 2018, o SiBBr foi convertido de um projeto do GEF para um banco de dados do governo brasileiro, tornando-se a referência oficial do Relatório Nacional do Brasil para a Convenção sobre a Diversidade Biológica e para medir as conquistas das Metas de Aichi.

O Sistema também funciona como o nó nacional da Global Biodiversity Information Facility, uma rede internacional e infraestrutura de pesquisa que oferece acesso livre e aberto a dados de mais de 1,3 mil instituições em todo o mundo sobre biodiversidade. Ao publicar no Sistema Brasileiro de Informação sobre Biodiversidade, os pesquisadores também decidem se os dados devem ser disponibilizados na rede global.

Nos próximos meses, o sistema continuará expandindo seu banco de dados, completará a migração para uma nova plataforma, melhorará o modo como utiliza dados e fortalecerá a nova governança estabelecida no final de 2018 por Decreto.

Para mais informações, entre em contato com Flora Pereira ou Anna Fanzeres.