25 Oct 2019 Reportagem Florestas

Como proteger florestas e animais selvagens e beneficiar comunidades vizinhas ao mesmo tempo - o primeiro projeto de REDD+ no mundo

A região de Tsavo é conhecida por seus períodos de seca. Não é um lugar fácil para pessoas e seu gado sobreviverem e muito menos ter renda.

Um dia, um empresário americano que veio fazer um safari no Quênia se apaixonou pela vida selvagem do local, mas percebeu as dificuldades que as comunidades em torno dos santuários de vida selvagem enfrentavam. Ele montou a Wildlife Works e, em 2011, o Projeto Kasigau Corridor se tornou o primeiro projeto de Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação Florestal (REDD +) no mundo a ser validado e verificado por dois órgãos de padronização - o Verified Carbon Standard e a Climate Community and Biodiversity Alliance. Juntos, os dois padrões avaliam todos os aspectos do projeto, incluindo como são calculadas as reduções de emissão de carbono e se a partilha de benefícios para as comunidades é justa e equitativa. A Wildlife Works desenvolveu uma metodologia para o Projeto REDD+ do Corredor Kasigau para medir o carbono em uma floresta de terra seca, em contraponto a uma floresta tropical.

"Não era um caminho fácil de inicio", diz Cara Braund, gerente de conservação da Wildlife Works. “Mas tínhamos os alicerces necessários para nos qualificarmos para um projeto de REDD+. Poderíamos provar a clara posse da terra com os proprietários (posse segura da terra), tínhamos ameaças claras (os fatores desencadeantes do desmatamento, como a agricultura de corte e queima, e os fatores de degradação da floresta, como a extração de madeira e a produção de carvão vegetal). Também tínhamos relacionamentos comunitários pré-existentes para aproveitar. Por isso, trabalhamos com essas comunidades para fornecer meios de subsistência alternativos”.

 

A local of Taita Taveta County in Kenya works as a fashion manufacturer in Wildlife works Conservation company business. The conservation company established the project design development and a framework for income generating activities. The project provides various alternative livelihood trainings such as soap production, fashion manufacturing, basket making, and climate smart agriculture
Uma moradora do condado de Taita Taveta, no Quênia, trabalha como modista na empresa Wildlife Works. A empresa de conservação estabeleceu o desenvolvimento do design do projeto e uma estrutura para atividades geradoras de renda. O projeto fornece vários cursos profissionalizantes alternativos, como produção de sabão, confecção, fabricação de cestas e agricultura de baixa emissão. Foto do Programa UN-REDD.

Meios de subsistência alternativos para impulsionar mudança comportamental

A Wildlife Works estabeleceu o documento de concepção do projeto e uma estrutura para atividades geradoras de renda. Eles usaram o consentimento gratuito prévio e informado para envolver os proprietários e as comunidades - um total de cerca de 100.000 pessoas que se beneficiam. Ninguém deve ser afetado negativamente pelo projeto e há um processo de recebimento de queixas em vigor.

Os proprietários de terras precisam cuidar das árvores e não podem de permitir qualquer produção de madeira, pastoreio ou carvão na área do projeto.

O projeto fornece vários cursos profissionalizantes alternativos para subsistência, como produção de sabão, confecção de roupas, fabricação de cestas, agricultura de baixa emissão (maneiras adequadas de enxertar árvores e propagar mudas, irrigação por gotejamento, agricultura vertical e controle de pragas ecológicas, como o uso de aloe vera, chili, folhas de nim ou de tabaco), como criar conservas que atraem turistas etc. Eles têm cerca de 350 funcionários, dos quais pouco mais de cem são guardas florestais para conservar a floresta e a vida selvagem. Alguns deles são ex-caçadores ilegais ou produtores de carvão que tiveram uma mudança de mentalidade.

 

Grazing elephants  in Tsavo West National park, Kenya.
Elefantes pastando no Parque Nacional de Tsavo Ocidental, Quênia. Foto do Programa UN-REDD.

Uma ótima fonte de créditos de carbono

O Projeto REDD+ do Corredor Kasigau atualmente gera até 1.800.000 unidades de carbono verificadas, também conhecidas como créditos ou toneladas de carbono, por ano, o maior dos dois projetos de REDD+ no Quênia. Eles vendem suas unidades de carbono verificadas no mercado voluntário, onde indivíduos ou empresas como o BNP Paribas e a International Finance Corporation as compram para compensar sua presença. Em 2020, eles se tornarão parte do mercado global de carbono, o que deve aumentar as vendas.

Para compartilhar os benefícios das vendas de crédito de carbono, um terço da receita é destinado aos proprietários de terras, a Wildlife Works administra os custos operacionais do projeto e o lucro é dividido em 50/50 entre as comunidades e os investidores do projeto. As comunidades decidem por meio de comitês comunitários sobre como gostariam de gastar a renda obtida com a venda de créditos de carbono: em treinamentos, projetos de saúde ou educação (prédios escolares ou bolsas de estudos). Cada comitê tem pelo menos duas mulheres e dois jovens para garantir a diversidade.

“Projetos bem-sucedidos de REDD+ como o Corredor Kasigau são importantes para demonstrar que a proteção da floresta e da fauna silvestre pode trazer grandes benefícios à comunidade. Aumentar a cobertura de árvores e trabalhar com a natureza nas fazendas é o caminho a seguir se quisermos conter a crise climática e preservar a biodiversidade”, diz Tim Christophersen, chefe do Setor de Água Doce, Terra e Clima do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

O projeto, que se beneficiou do avanço geral no conhecimento sobre REDD+ e da ampla aceitação em todo o Quênia que o Programa Nacional das Nações Unidas para o REDD ajudou a estabelecer, tem uma vida útil de 30 anos. Com quase dez anos concluídos, há ainda mais de vinte anos pela frente. O projeto tem como objetivo desenvolver-se de maneira sustentável com os proprietários e as comunidades, para que eles tenham suficientes meios de subsistência e capacitação alternativas para se sustentarem e não precisarem recorrer à floresta para ganhar dinheiro com a extração ilegal de madeira, a produção de carvão vegetal ou a caça furtiva.