Para Erick Alfredo Valerio Benavides, um líder indígena de 43 anos do povo Iskonawa da Amazônia peruana, a luta para proteger a floresta tropical começou com algo profundamente pessoal – seu idioma.
Crescendo em uma pequena aldeia ao longo do rio Ucayali, Valerio Benavides falava Iskonawa, a língua de seus ancestrais. Mas ao longo dos anos, à medida que as estradas se aprofundavam na floresta e os madeireiros derrubavam grandes extensões de árvores, as gerações mais jovens partiram para as grandes cidades e as vozes que carregavam sua cultura começaram a desaparecer.
"Quando uma língua morre, não perdemos apenas palavras", diz Valerio Benavides. "Perdemos conhecimento, histórias e nossa conexão com a floresta."
Era uma situação comum em toda a Amazônia, a maior floresta tropical remanescente do mundo e uma dos escudos naturais mais poderosos da Terra contra as mudanças climáticas.

No Peru, que abriga a segunda maior fatia da Amazônia depois do Brasil, uma combinação de fatores, incluindo extração de madeira, mineração, construção de estradas e expansão agrícola, está impulsionando o desmatamento, relata a parceria internacional de pesquisa para sistemas alimentares sustentáveis CGIAR. Muito disso aconteceu em terras indígenas, onde a pobreza muitas vezes força os membros da comunidade a exercerem atividades de uso da terra que aumentam o desmatamento, diz o relatório.
Financiando transformações
Contudo, o destino da Amazônia ainda não está selado. Esforços estão em andamento para canalizar mais financiamento para comunidades indígenas como os Iskonawa, que conservam, restauram e gerenciam florestas de forma sustentável. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), por meio do Programa UN-REDD, está trabalhando com o Ministério do Meio Ambiente peruano para ampliar esse financiamento, inclusive por meio de um mecanismo conhecido como REDD+, que incentiva comunidades e países a reduzir o desmatamento.
"Aumentar o financiamento para as florestas não é pagar às comunidades para não fazerem nada", diz Gabriel Labbate, chefe da Unidade de Mitigação Climática do PNUMA. "Trata-se de apoiá-los na tarefa desafiadora, mas vital, de proteger a floresta. Mecanismos como o REDD+ trazem resultados reais – reduções reais de emissões e resiliência real, biodiversidade e benefícios para a comunidade."

No Peru, um país membro atuante do UN-REDD, muitas comunidades indígenas começaram a acessar diretamente o financiamento e o apoio por meio do esforço liderado por indígenas REDD+ Indígena Amazónica (RIA), tornando-as parceiras ativas na proteção florestal.
"[Esta] é uma oportunidade para implementar ações de mitigação, adaptação e resiliência diante das mudanças climáticas e do ponto de vista dos povos indígenas, respeitando seus conhecimentos ancestrais e gestão territorial", diz Fermín Chimatani Tayori, presidente da Associação Nacional das Comunidades Nativas da Amazônia peruana.
A comunidade de Chimatani Tayori co-administra a Reserva Comunal Amarakaeri junto com 10 assentamentos indígenas Yine e Maciguenga. Juntas, as comunidades estão restaurando terras degradadas, praticando agrofloresta, que incorpora árvores em terras agrícolas, e cultivando cacaueiros livres de desmatamento ao lado de espécies de árvores nativas.
Além de gerar meios de subsistência, os grupos indígenas que administram a reserva protegeram mais de 400.000 hectares de floresta tropical, cerca de 1,5 vezes o tamanho de Luxemburgo. Eles estão evitando cerca de 2 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono a cada ano, quase o mesmo que tirar 40.000 carros das estradas.
Para Valerio Benavides, isso é um divisor de águas. "Quando temos controle sobre nossos próprios recursos, não protegemos apenas a floresta. Fortalecemos nossa cultura, nossa identidade e nosso futuro", diz ele.
Valerio Benavides espera passar seu idioma para uma nova geração, juntamente com lições sobre conservação, mudanças climáticas e direitos indígenas.

Levelling up in the Paris Agreement
Nivelamento no Acordo de Paris
Para fazer as soluções baseadas na natureza avançarem ainda mais, as nações devem intensificar os compromissos concretos do Acordo de Paris e garantir que essas promessas sejam implementadas, diz Labbate do PNUMA.
De acordo com um relatório da UN-REDD, os 20 principais países tropicais do mundo com as maiores taxas de desmatamento carecem de compromissos climáticos suficientes em seus planos climáticos nacionais, conhecidos como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Na próxima rodada de NDCs, que devem ser apresentadas este ano, os países têm a chance de corrigir isso, aumentando sua ambição de deter e reduzir o desmatamento até 2030. Caso contrário, as consequências podem ser terríveis. A Amazônia está chegando a um ponto de inflexão, deixando de ser um sumidouro de carbono para se transformar em uma fonte de carbono, uma mudança que aceleraria um colapso climático global, diz Labbate.

Observadores dizem que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em Belém, Brasil, em novembro, pode ser um ponto de virada, oferecendo aos líderes mundiais a chance de fortalecer a proteção florestal e transformar promessas em ações reais.
"Na COP30, os líderes mundiais devem se comprometer com uma ação florestal mais forte e garantir que o financiamento climático chegue aos guardiões indígenas da floresta", diz Labbate. "Agora é a hora de simplificar os requisitos para uma questão complexa, para que a ambição, o financiamento e a ação pelas florestas possam ser ampliados."
A Solução Setorial para a crise climática
O PNUMA está na vanguarda do apoio à meta do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2°C e visando 1,5°C, em comparação com os níveis pré-industriais. Para isso, o PNUMA desenvolveu a Solução Setorial, um roteiro para reduzir as emissões em todos os setores, em linha com os compromissos do Acordo de Paris e em busca da estabilidade climática. Os seis setores identificados são: energia; indústria; agricultura e alimentação; florestas e uso da terra; transporte; e edifícios e cidades.