O Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, é um lembrete que a administração efetiva das águas residuais e dos sistemas de saneamento é vital para a saúde humana.
O volume de esgoto no planeta tende a crescer, acompanhando o aumento populacional. Além disso, o crescimento da riqueza global significa que as águas residuais, incluindo esgotos, contém uma quantidade cada vez maior de químicos perigosos, substâncias tóxicas e detritos associados ao estilo de vida e consumo moderno.
Esgotos contém partículas de plástico, poluentes microbianos e vestígios de medicamentos que podem ameaçar a segurança hídrica e alimentar e a saúde humana. O problema é particularmente crítico em áreas de alta densidade populacional, onde faltam infraestruturas de tratamento.
O Rio Ganges, na Índia, é um exemplo. Ele abastece uma população de cerca de 500 milhões de pessoas, quase a população dos Estados Unidos, Rússia e Canadá juntos, fornecendo água para cozinharem, tomarem banho, irrigarem suas plantações e sustentarem seu bem-estar. Além do uso cotidiano, o Rio também tem um grande valor espiritual e cultural para boa parte dos habitantes.
Um estudo publicado no Jornal Water Research, em janeiro de 2018, intitulado Population density controls on microbial pollution across the Ganga catchment (Controles de densidade populacional sobre a poluição microbial na bacia do Rio Ganges) descobriu que:
- A concentração de coliformes fecais está fortemente relacionada à densidade populacional no trecho próximo à nascente.
- Os rios recebem um volume aproximadamente 100 vezes maior de esgoto per capita das populações urbanas em comparação às rurais.
- A poluição microbial é condicionada pela estrutura do rio e das ocupações habitacionais.
“Ao explorarmos dados sobre a Bacia do Ganges que não tinham sido previamente publicados, encontramos fortes relações não lineares entre a densidade populacional na parte próxima à nascente e a poluição microbial. Nós prevemos que estes sistemas fluviais ultrapassariam os níveis máximos de coliformes fecais presentes em águas para a irrigação, que abastecem cerca de 79% dos 500 milhões de habitantes da bacia”, diz o estudo.
De acordo com a Ganga Action Parivar, as centrais de tratamento de esgoto no Ganges são caras e ficam facilmente sobrecarregadas durante as monções. Além disso, 30% delas não funcionavam em 2013, enquanto outras estavam utilizando menos de 60% de sua capacidade.As centrais também não podem tratar dejetos tóxicos de metais pesados, produtos farmacêuticos ou itens de higiene pessoal, param de funcionar com cortes de energia frequentes e são comummente desativadas devido ao elevado custo operacional e de manutenção.
“Não deixar ninguém para trás”
Dia Mundial da Saúde marca o aniversário da Organização Mundial da Saúde, fundada em 1948. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3 (ODS 3) visa assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades.
- Até 2030, acabar com epidemias de AIDS, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas, e combater as hepatites, doenças relacionadas à água insalubre e outras doenças transmissíveis.
- Até 2030, reduzir substantivamente o número de mortes e doenças causadas por químicos perigosos e poluição/contaminação do ar, água e solo.
Ademais, o tema do Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, foi justamente “não deixar ninguém para trás”. O sexto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável inclui uma meta (6.3) para aprimorar a qualidade da água através da redução da poluição, eliminando descargas ilegais e minimizando a descarga de químicos e materiais perigosos, além de reduzir pela metade a proporção de água não tratada e aumentar reciclagem e reuso seguro em todo o mundo até 2030.
Tratamento efetivo de esgoto é essencial para a saúde pública. Em 2010, as Nações Unidas reconheceram que “o direito à água potável segura e limpa e ao saneamento é um direito humano essencial para desfrutar plenamente da vida e de todos os direitos humanos”.
Globalmente, a água suja eleva significativamente o risco de diarreia, infecções e subnutrição, causando cerca de 1,7 milhões de mortes por ano, 90% delas em países em desenvolvimento e quase metade das vítimas são crianças. As mortes são majoritariamente causadas pela ingestão de patógenos fecais humanos e de animais.
Mais de dois bilhões de pessoas já estão vivendo sem serviços de água limpa e segurança em suas casas. Mundialmente, o número de lares conectados apenas a tanques sépticos e fossas é aproximadamente o mesmo.
Mais de 80% da água residual do mundo - e mais de 95% em alguns países em desenvolvimento - é despejada no meio ambiente sem tratamento. Além disso, 2,4 bilhões de pessoas ainda carecem de acesso a saneamento. Apenas 26% do saneamento de águas residuais urbanas e 34% rurais efetivamente previnem o contato humano com fezes em toda a cadeia de saneamento, o que é fundamental para uma gestão segura.
“A expansão das redes de coleta de esgotos sem tratamento só piorará a poluição dos rios. Nunca foi tão urgente investir, não somente em esgotos, mas em centros de tratamento”, afirmou a especialista em águas residuais da ONU Meio Ambiente, Birguy Lamizan.
Os centros de tratamento reduzem drasticamente o risco de doenças ao removerem substâncias nocivas da água residual. Porém, o sistema de tratamento depende de uma fonte de energia constante e confiável - um luxo que muitos países em desenvolvimento não possuem. As plantas de tratamento de esgoto também produzem metano, um dos mais relevantes gases causadores do efeito estufa, que poderia ser convertido para uso como fonte de energia, se devidamente gerenciado.
Sob o Programa de Ação Global para a Proteção do Meio Marinho Frente às Atividades Baseadas em Terra (GPA), a ONU Meio Ambiente está trabalhando com parceiros para prevenir a degradação e a poluição das atividades terrestres. A Iniciativa Global de Águas Residuais, apoiada pela ONU Meio Ambiente, está conseguindo afastar as pessoas da remoção de dejetos e aproximá-las da recuperação de recursos. Outra área de atuação da ONU Meio Ambiente se foca na África: o Projeto de Gestão de Águas Residuais e Provisão de Saneamento da ONU na África é apoiado pelo Banco de Desenvolvimento da África através de sua Iniciativa de Fornecimento de Água e Saneamento no Campo.