A contribuição do solo para as mudanças climáticas, por meio da oxidação do carbono presente nele, é fundamental. Assim, os solos e, por consequência, a agricultura, podem desempenhar um papel essencial na mitigação das mudanças climáticas.
“Por meio das várias práticas agrícolas, podemos ajudar a armazenar grandes quantidades de carbono atmosférico no solo, ao mesmo tempo em que regeneramos a sua fertilidade, a saúde das plantas e de ecossistemas inteiros. Essa é uma opção sem prejuízos, que oferece múltiplos benefícios e merece visibilidade de alto nível”, afirma o recente dossiê prospectivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), intitulado Colocando o carbono de volta onde ele pertence - o potencial de sequestro de carbono no solo – Foresight Brief.
Os sistemas de agricultura industrial conseguem produzir grandes volumes de alimentos para o mercado global. No entanto, causam erosão considerável do solo, perdas de biodiversidade (inclusive de polinizadores) e poluição de corpos de água doce. Eles promovem uma alta dependência da agroindústria e de seus produtos e exigem grandes quantidades de água doce e de fertilizantes. A agricultura contribui com cerca de 23% de todas as emissões de gases de efeito estufa induzidas pelo homem, com o setor pecuário representando 14,5% dessas emissões.
A fragilidade dos solos, esta fina camada de terra que é a base de quase tudo que cresce e do que comemos, coloca em questão a “sustentabilidade” da agricultura industrializada. Um problema indisputável é que estamos perdendo solo devido a estas práticas inadequadas de gestão da terra.
“No geral, estamos perdendo solo em áreas agrícolas 10 a 40 vezes mais rápido que a taxa de sua formação, comprometendo a segurança alimentar da humanidade”, diz o especialista em solo e paisagem do PNUMA, Abdelkader Bensada. "Um quarto da superfície da Terra já está degradada."
Uma área de solo fértil, equivalente ao tamanho da Grécia ou do Malawi, está sendo perdido todos os anos, diz o dossiê do PNUMA.
Cerca de 33% de nossos solos globais estão degradados, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
Enquanto isso, uma nova pesquisa Alemã sugere que condições mais quentes e secas, previstas com a mudança do clima, reduzirão as taxas nas quais a fauna edáfica (como minhocas, colêmbolos e ácaros) e micróbios (como bactérias e fungos) decompõem matéria vegetal morta.
Isso pode ter implicações importantes para a agricultura e os ecossistemas naturais em todo o mundo, já que a decomposição de plantas é um processo fundamental no ciclo e na distribuição de nutrientes pelos ecossistemas.
O manejo sustentável da terra e do solo exige um entendimento da relação primordial entre plantas e vida do solo. As plantas interagem intensivamente com um grande número de microrganismos, em particular micróbios e fungos, no solo. Segundo o dossiê do PNUMA, “em um único grama de solo saudável, pode-se encontrar 108 a 109 bactérias, 105 a 106 fungos e muitas outras formas de vida microscópica que influenciam o crescimento e a saúde da planta, bem como o armazenamento de nutrientes e a água no solo”.
Uma conclusão importante do dossiê é que as práticas agrícolas que aumentam a matéria orgânica do solo são favoráveis a uma maior produção de alimentos, maior biodiversidade, maior retenção de água, resistência à seca e outros serviços importantes do ecossistema.
Próximo relatório global sobre poluição do solo
"A poluição do solo é uma das principais ameaças à saúde do solo", diz Bensada.
“Põe em risco a capacidade dos solos de fornecer serviços essenciais ao ecossistema e coloca em risco a saúde e o bem-estar humanos. A atividade humana é a principal fonte de poluição do solo. Atividades industriais e agrícolas, mineração, fabricação, transporte e disposição de resíduos são todas fontes de poluição do solo, o que está se tornando uma emergência global”, acrescenta.
Resolução 3/6 da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente Gestão da poluição do solo para alcançar o desenvolvimento sustentável exige que os Estados-membros tomem medidas para lidar com a poluição do solo. As áreas específicas de ação incluem: a avaliação da extensão e das tendências futuras da poluição do solo e dos riscos e impactos da poluição do solo na saúde, no meio ambiente e na segurança alimentar; promover uma abordagem coordenada para combater a poluição do solo por meio de uma interface científico-política reforçada; e o compartilhamento de informações nos níveis nacional, regional e internacional.
O PNUMA, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e a Organização Mundial da Saúde estão trabalhando juntos e com outras instituições internacionais, regionais e nacionais em um relatório global sobre o status da poluição do solo no mundo e suas tendências, incluindo o impacto dos fertilizantes e pesticidas na saúde humana. O objetivo é lançar o relatório na Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente em fevereiro de 2021.
Solos férteis e saudáveis ajudarão a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1 (erradicar a Pobreza) e Objetivo 2 (erradicar a fome), uma melhor gestão do solo ajudará a alcançar o Objetivo 13 (ação contra a mudança global do clima) e Objetivo 15 (vida terrestre), eliminando o dumping e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos para o meio ambiente ajudará a alcançar o Objetivo 6 (água potável e saneamento), contribuindo substancialmente para reduzir a poluição do solo.
“Existe, portanto, um vínculo claro entre a saúde do solo e a maioria dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o que exige que governos, o setor privado e a sociedade civil unam forças para evitar novas poluições, minimizar seus efeitos negativos e remediar locais e solos poluídos de risco à saúde humana e ao meio ambiente”, diz Bensada.
O tema do Dia Mundial do Solo 2019 (#WorldSoilDay), comemorado dia 5 de dezembro, é "Pare a erosão do solo, salve o nosso futuro". O objetivo é aumentar a conscientização sobre a importância de sustentar ecossistemas saudáveis e o bem-estar humano, enfrentando os crescentes desafios no manejo do solo e elevar o perfil do solo saudável, incentivando governos, organizações, comunidades e indivíduos ao redor do mundo a se engajarem proativamente na melhoria da saúde do solo.
Para mais informações, por favor entre em contato com:
Roberta Zandonai, Gerente de Comunicação Institucional, PNUMA, roberta.zandonai@un.org