Fridays for Future é um movimento estudantil global dinâmico que pressiona por ações imediatas sobre as mudanças climáticas por meio de campanhas de conscientização e ativismo. O movimento foi escolhido como Campeão da Terra na categoria Inspiração e Ação por seu papel em destacar os efeitos devastadores das mudanças climáticas.
Fridays for Future conta com milhões de ativistas engajados que insistem que suas vozes sejam ouvidas naquela que muitos consideram a questão determinante de sua geração. O movimento foi inspirado pela adolescente sueca Greta Thunberg, que protestou em frente ao parlamento sueco por três semanas no ano passado para chamar a atenção para a emergência climática.
Agora, todos os meses, estudantes de todo o mundo saem às ruas para exigir que os políticos façam mais para reconhecer e agir de acordo com a realidade e a gravidade das mudanças climáticas. Essas marchas atraíram mais de um milhão de jovens em mais de 100 países. Como diz Thunberg: “Todos são bem-vindos. Todo mundo é necessário”.
O movimento Fridays for Future aqueceu a discussão global sobre as mudanças climáticas em um momento em que a janela de oportunidade para evitar os piores efeitos do aumento da temperatura está se fechando rapidamente. As emissões globais estão atingindo níveis recordes e não mostram sinais de queda. O nível do mar está subindo, os recifes de coral estão morrendo e os eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais comuns e destrutivos em todo o mundo.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que entende a raiva dos jovens e que suas vozes lhe dão esperança para o futuro.
Em junho, Thunberg e o movimento Fridays for Future foram homenageados com o prêmio Embaixador de Consciência da Anistia Internacional, que comemora pessoas que demonstraram liderança e coragem únicas na defesa dos direitos humanos.
A paixão e a energia demonstradas pelos membros do movimento Fridays for Future trazem esperança de que os líderes globais possam ser persuadidos a agir pela redução das emissões de carbono nos próximos 12 anos e manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°C e até, como solicitado pela ciência mais recente, a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.
Campeões da Terra é o principal prêmio ambiental da ONU. Foi criado pelo PNUMA em 2005 para celebrar figuras de destaque cujas ações tiveram um impacto positivo e transformador para o meio ambiente. De líderes mundiais a defensores ambientais e inventores de tecnologia, os prêmios reconhecem pioneiros que estão trabalhando para proteger nosso planeta para as próximas gerações.
Os vencedores anteriores do prêmio Campeões da Terra na categoria Inspiração e Ação incluem Afroz Shah, um advogado indiano que organizou o maior projeto de limpeza de praias do mundo em Mumbai (2016); a unidade anti-caça furtiva Black Mamba da África do Sul (2015); e Martha Isabel Ruiz Corzo, ativista de conservação comunitária do México (2013).
O aeroporto de Cochim, na região de Kerala, sudoeste da Índia, é o primeiro aeroporto do mundo inteiramente abastecido por energia solar. Todas as suas operações são feitas a partir de energia solar. O maior e mais movimentado aeroporto do estado de Kerala, na Índia, e o quarto aeroporto mais movimentado da Índia em termos de tráfego internacional, o Aeroporto Internacional de Cochim tornou-se o primeiro do mundo totalmente movido à energia solar em 2015 - um projeto pioneiro do Diretor Geral Vattavayalil Joseph Kurian.
Se uma imagem vale mais que mil palavras, para Maria Kolesnikova, Campeã da Terra deste ano na categoria Visão Empreendedora, uma imagem valeu um início de todo um movimento.
Era 2016 e Kolesnikova, uma profissional de Relações Públicas com 28 anos na época, era voluntária para a MoveGreen, uma organização ambiental liderada por jovens na República do Quirguistão.
Ali, uma pessoa mostrou a Kolesnikova uma foto de Bishkek, tirada de cima das montanhas que cercam a capital quirguistanêsa. "Só que não se podia ver a cidade", disse Maria. "Bishkek estava coberta por um manto cinza. Não sabíamos como chamar aquilo; mas sabíamos que era algo muito ruim”.
Bishkek, lar de cerca de 1 milhão de pessoas, está entre as cidades com o ar mais poluído no mundo. Durante o inverno, está sempre coberta por uma cúpula de neblina e fumaça que têm origem no meio ambiente — a cidade é, em média, 5 °C mais quente que o entorno — e na fumaça do carvão usado para aquecer a maioria das casas.
"Queríamos entender mais sobre o que estava no ar que respirávamos e quais dados a cidade coletava para tentar melhorar a situação", disse Kolesnikova. "Mas não encontrávamos dados relevantes atualizados - ou não estavam sendo coletados, ou não estavam sendo compartilhados. Então, decidimos produzir os dados nós mesmos.”
Um começo modesto
A MoveGreen começou com apenas três sensores que mediam a qualidade do ar, na prática, por meio do monitoramento, pela primeira vez na República do Quirguistão, dos níveis do material particulado fino (MP 2,5 ou PM 2,5, em inglês) — produzido pela queima de carvão e outros combustíveis, pela combustão e pela poeira. Em concentrações elevadas, as partículas finas podem causar inflamação nos pulmões e outras doenças respiratórias. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição atmosférica causa até 7 milhões de mortes por ano.
Quando as primeiras estatísticas chegaram, Kolesnikova e a equipe da Movegreen tomaram uma decisão corajosa. Lançaram a campanha “School Breathes Easily” (“Escola Respira Mais Fácil”, na tradução literal), levando a mensagem para uma população que estava pronta para escutá-la: as crianças em idade escolar de Bishkek. Mundialmente, 93% das crianças vivem em ambientes onde os níveis de poluição do ar estão acima das orientações da OMS. Cerca de 600 mil morrem prematuras por ano devido à poluição atmosférica, sendo que a exposição ao ar poluído também pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo e motor e colocar as crianças em maior risco de doenças crônicas numa fase posterior da vida.
Em Bishkek, os sensores que medem a qualidade do ar foram instalados em escolas para que as janelas nas salas de aulas sejam mantidas fechadas quando houver muita poluição. Os professores também usam os dados para avisar os pais sobre como evitar que seus filhos ficassem expostos às partículas finas. Hoje, existem mais de 100 sensores instalados na cidade e na região.
O sucesso da campanha nas escolas motivou Kolesnikova, que nessa época já estava no cargo de diretora da MoveGreen. Coletar os dados não era suficiente; era necessário um movimento para convencer tomadores de decisões a melhorar a qualidade do ar de Bishkek.
A Movegreen desenvolveu um aplicativo, disponível globalmente agora, chamado Aba.kg, um coletor e transmissor de dados em tempo real sobre a qualidade do ar. A plataforma agrega dados a cada 20 minutos das duas maiores cidades do Quirguistão, Bishkek e Osh, sobre a concentração de poluentes no ar, incluindo o dióxido de nitrogênio, o MP 2,5 e seu primo maior, o MP 10.
“Nossos dados já foram questionados, nossos métodos já foram questionados — por aqueles que dizem que dados monitorados por cidadãos não são confiáveis”, disse Kolesnikova. "Mas continuamos fazendo reuniões e insistindo, até que, agora, eles nos escutam. O resultado do nosso trabalho têm sido a conexão com o governo para melhorar o monitoramento ambiental em Bishkek e realizar um trabalho melhor de monitoramento e redução de emissões".
“O trabalho da Kolesnikova reflete como indivíduos e cidadãos podem impulsionar mudanças ambientais utilizando o poder da ciência e dos dados”, disse Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. “Muitas vezes, as pessoas se perguntam se há algo que possam fazer para combater a poluição, as mudanças climáticas e outras ameaças ao planeta. Maria Kolesnikova prova que sim. Sua dedicação é notável e mostra que todos e todas podemos desempenhar um papel para levar o planeta rumo a um futuro melhor”.
Planos futuros
Os planos da MoveGreen para os próximos meses incluem a convocação de políticas ao nível municipal e nacional para desenvolver projetos de lei que requerem sessões regulares de informação pública sobre os resultados das medições da qualidade do ar. A República do Quirguistão se comprometeu com metas globais para combater a mudança climática, entre elas, uma meta incondicional de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em mais de 16% até 2025.
Existem enormes oportunidades para fontes alternativas de energia; apenas 10% do potencial hidrelétrico do Quirguistão tem sido explorado e outras opções de energia renovável poderiam envolver o aumento do fornecimento de aquecimento e eletricidade provenientes de energia eólica ou solar e do biogás.
Segundo a ativista, se houvesse mais investimento em ciência no Quirguistão, o país conseguiria projetar suas próprias soluções e criar uma sociedade ecológica em harmonia com a natureza ao seu redor, inclusive com as montanhas tanto ama.
Como a poluição do ar não tem fronteiras, Kolesnikova e MoveGreen estão entrando em acordos regionais com outros países da Ásia Central. O objetivo da ativista é convencer os seis Estados da região a colaborar em formas de combater a poluição do ar em suas cidades emergentes. A implantação de sistemas e padrões para avaliar a qualidade do ar será fundamental. Um estudo recente do PNUMA constatou que apenas 57 países acompanham constantemente a qualidade do ar, enquanto 104 não dispõem de infraestrutura de monitoramento.
Kolesnikova diz que é movida pelo desejo de fazer do mundo um lugar melhor. “Muitas vezes, você pode se sentir desmotivada como ativista — você trabalha tão duro, não quer mais continuar. Mas então você percebe, não. Alguém tem que assumir a responsabilidade pelo futuro. Por que não eu?”
Os Campeões e os Jovens Campeões da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconhecem indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador no meio ambiente. Entregue anualmente, o prêmio é a maior honraria ambiental da ONU.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos de 2021 a 2030 como a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com o apoio de parceiros, a Década foi concebida para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas no mundo inteiro. O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, cobrindo tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Um chamado global à ação, a convocação reúne apoio político, pesquisa científica e força financeiro para intensamente ampliar a restauração. Para saber mais, acesse: https://www.decadeonrestoration.org/pt-br/
O painel de controle da poluição do ar do PNUMA fornece dados em tempo real sobre a poluição do ar em todo o mundo, seu impacto na saúde humana e os esforços nacionais para lidar com esse problema
Quando a primeira-ministra de Barbados, Mia Amort Mottley, subiu ao palco na Assembleia Geral das Nações Unidas deste ano, ela não estava disposta a ser simpática. Diante de lideranças mundiais, denunciou os “poucos anônimos” que estão levando o mundo para uma catástrofe climática e ameaçam o futuro dos pequenos Estados insulares, como o seu próprio.
“Nosso mundo não sabe com o que está brincando, e se não controlarmos este incêndio, todos seremos queimados”, disse a primeira-ministra em setembro. Inspirando-se na letra de reggae do grande músico Bob Marley, ela acrescentou: “Who will get up and stand up for the rights of our people?” (“Quem se levantará e defenderá os direitos de nosso povo?”, na tradução literal).
O discurso comovente foi manchete em todo mundo e, para muitos, foi uma apresentação de quem é Mia Mottley. Mas a primeira-ministra de Barbados e Campeã da Terra na categoria Liderança Política esteve há anos se dedicando às campanhas contra a poluição, a mudança climática e o desmatamento, tornando Barbados um pioneiro no movimento global pelo meio ambiente.
“A primeira-ministra Mottley foi uma campeã para aqueles que são mais vulneráveis à tripla crise planetária da mudança climática, perda da natureza e da biodiversidade, e poluição e resíduos” disse Inger Anderson, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). “Seu ativismo apaixonado e suas conquistas políticas são exemplos primordiais de como as lideranças mundiais podem tomar medidas ousadas e urgentes em questões ambientais”.
Mottley foi eleita primeira-ministra em 2018 com mais de 70% dos votos populares, tornando-se a primeira mulher líder de Barbados desde a independência em 1966. Sob sua liderança, o país segue um plano ambicioso para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis até 2030. Sua ideia é que quase todas as casas da ilha tenham painéis solares e um veículo elétrico na frente.
Mottley, que afirma encontrar inspiração nas florestas que cobrem cerca de 20% de Barbados, também supervisionou uma estratégia nacional para plantar mais de 1 milhão de árvores, com a participação de toda a população. O plano visa promover a segurança alimentar e construir uma resiliência a um clima em mudança.
É um estímulo que não poderia ser mais oportuno, pois um novo relatório do PNUMA sugere que o mundo está caminhando para um aumento de temperatura de 2,7°C, o que poderia levar a mudanças catastróficas para os ecossistemas do planeta. Com a perseverança de Mottley, a América Latina e o Caribe se tornaram a primeira região do mundo a chegar a um acordo sobre o Plano de Ação para a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas, um esforço para prevenir e reverter a degradação dos espaços naturais em todo o mundo. Um relatório do PNUMA publicado em junho de 2021 constatou que para cada dólar investido na restauração de ecossistemas, são gerados até US$30 em benefícios econômicos.
Portanto, Mottley acredita que enfrentar o declínio ambiental é fundamental para impulsionar o desenvolvimento econômico e combater a pobreza. Lidar com desastres relacionados ao clima “afeta a capacidade de financiar avanços rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, disse ela. “Outras coisas importantes no dia-a-dia das pessoas como educação, saúde, rodovias, tudo é afetado porque se tem um espaço fiscal limitado para realizar ações que, não fossem esses desastres, você conseguiria”.
Ela também é uma voz defensora dos países em desenvolvimento vulneráveis à mudança climática, especialmente os pequenos estados insulares que têm a previsão de serem inundados pela elevação do nível do mar. Durante uma visita do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, a Barbados em outubro, ela enfatizou a importância de disponibilizar financiamento para que as nações em desenvolvimento se adaptem às mudanças climáticas. Nos países em desenvolvimento, o custo para combater os riscos relacionados ao clima, como secas, inundações e a elevação do nível do mar, é de US$ 70 bilhões por ano e pode chegar a US$ 300 bilhões anuais até 2030.
“Temos que reconhecer que, se não fizermos uma pausa nesta fase para resolver a estrutura de financiamento, teremos problemas”, disse Mottley.
Para ajudar Barbados a se adaptar à crise climática, a primeira-ministra liderou um programa nacional de resiliência denominado “De Telhados a Recifes” (“Roofs to Reefs”, em inglês). A iniciativa conta com o uso de ferramentas financeiras inovadoras para ampliar os gastos públicos em todas as áreas, desde o reforço da estrutura das casas até a restauração dos recifes de coral, que ajudam a proteger o litoral das tempestades. O De Telhados a Recifes tem sido elogiado como um modelo para outros países ameaçados pela mudança climática.
Mottley é também a copresidente do Grupo de Líderes Globais em Resistência Antimicrobiana, liderando um esforço internacional para combater a resistência antimicrobiana (RAM) — uma grande ameaça ao meio ambiente, à saúde humana e ao desenvolvimento econômico. A RAM é a capacidade de organismos de resistir à ação de medicamentos utilizados para o tratamento de doenças em humanos e em animais. O uso indevido e excessivo de agentes antimicrobianos, incluindo antibióticos, pode exacerbar a mudança climática, a perda da natureza e biodiversidade, e a poluição e resíduos.
Enquanto o mundo continua a se recuperar da devastação da pandemia de COVID-19, a primeira-ministra destaca que uma recuperação sustentável é essencial para a sobrevivência fiscal de seu país, que depende do turismo, bem como adverte que a continuidade dos negócios, da maneira como são conduzidos, aceleraria a crise climática.
“Penso que a combinação da pandemia e da crise climática nos proporcionou um momento político perfeito para que os seres humanos parem e examinem a fundo o que estão fazendo”, disse Mottley. “O que eu realmente quero deste mundo é que consigamos ter um senso de responsabilidade perante o nosso meio ambiente, e também perante as gerações futuras”.
Os prêmios Campeões da Terra e Jovens Campeões da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconhecem indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador no meio ambiente. Com cerimônias anuais, os prêmios são a maior honraria ambiental da ONU.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos de 2021 a 2030 como a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com o apoio de parceiros, a Década foi concebida para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas no mundo inteiro. O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, cobrindo tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Um chamado global à ação, a convocação reúne apoio político, pesquisa científica e força financeiro para intensamente ampliar a restauração. Para saber mais, acesse: https://www.decadeonrestoration.org/pt-br/tipos-de-restauracao-de-ecoss…
Talvez tenha sido aquele macaco da vizinha que decidiu juntar-se a ela na aula de piano ou a festa de animais selvagens que aconteceu em uma escola primária em Kampala, Uganda. Mas desde pequena, a Dra. Gladys Kalema-Zikusoka, Campeã da Terra deste ano na categoria Ciência e Inovação, sabia que queria trabalhar com animais.
“Basicamente, os animais de estimação foram meus primeiros amigos”, disse Kalema-Zikusoka, veterinária de vida selvagem, que passaria três décadas ajudando a proteger alguns dos primatas mais raros do mundo, incluindo o gorila-das-montanhas, que está ameaçado de extinção. Grande parte de seu trabalho tem focado em comunidades vulneráveis da África Oriental que cercam áreas protegidas. Nesses grupos, ela auxiliou na melhora da rede de saúde e na geração de oportunidades, o que tornou muitas pessoas locais parceiras na conservação.
“Gladys Kalema-Zikusoka é uma pioneira na conservação comunitária da vida selvagem”, afirma Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. "Em muitos lugares, as pressões econômicas podem gerar tensões entre seres humanos e animais. Mas o trabalho de Gladys tem mostrado como as comunidades locais podem superar o conflito e assumir a liderança na proteção da natureza e da vida selvagem que as cercam, gerando benefícios para todas as espécies”.
Com apoio de sua família, Kalema-Zikusoka embarcou em uma aventura mundial para sua educação, colecionando diplomas de Uganda, do Reino Unido e dos Estados Unidos. No início dos seus 20 anos, ela retornou para Uganda para um estágio onde seria seu futuro local de trabalho, o Parque Nacional Impenetrável de Bwindi, localizado em uma região vulnerável e remota do sudoeste ugandense.
Era o início do turismo de gorilas em Bwindi e Kalema-Zikusoka, ainda uma jovem estudante de veterinária, percebeu que a conservação não era um processo fácil. “Havia pessoas focadas no turismo e pessoas focadas na conservação comunitária", lembra a veterinária. “Tinha administradores, guardas florestais e o Corpo da Paz, além de pousadas, e ao final do meu período lá, eu pude entender quão complexos o turismo e a conservação podem ser”.
Kalema-Zikusoka tornou-se a primeira veterinária de vida selvagem da Uganda Wildlife Authority (Autoridade da Vida Selvagem de Uganda, em tradução literal). Nesse órgão, começou a adotar uma nova abordagem para o trabalho com a vida selvagem — centrada em melhorar a vida e subsistência das vilas remotas de cercam Bwindi.
“[Isso faz com que] a humanidade possa dispor de uma melhor qualidade de vida e ser mais positiva sobre a conservação. Quando você demonstra às pessoas que se importa com elas e com sua saúde e bem-estar, você as ajuda a conviver melhor com a vida selvagem”.
Esse é o princípio por trás da organização fundada pela veterinária há quase 20 anos: a Conservation Through Public Health (Conservação por Meio da Saúde Pública, em tradução literal). A organização já expandiu seu modelo de saúde comunitária em áreas protegidas para o Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo, e também para duas áreas no Parque Nacional do Monte Elgon. Além de promover práticas de higiene e saneamento, o grupo também ajuda no planejamento familiar.
Considerar a interação entre seres humanos e vida selvagem, bem como a propagação de zoonoses entre as duas populações, foi fundamental para Kalema-Zikusoka quando assumiu um papel maior na orientação da resposta do governo ugandense à pandemia de COVID-19.
Os lockdowns globais prejudicaram a indústria do turismo no sudoeste de Uganda, o que forçou algumas pessoas a retornarem a uma ocupação particularmente problemática: a caça furtiva. Isso representou um risco para os avanços cuidadosos feitos na restauração da população de gorilas-das-montanhas em Bwindi, que tem crescido constantemente, atingindo mais de 400 primatas. Esse número representa quase metade da população da espécie ameaçada de extinção que ainda vivem na natureza.
A Conservação por Meio da Saúde Pública forneceu cultivos de rápido crescimento às famílias, permitindo-lhes ao menos cultivar alimentos suficientes para comerem. Uma mensagem importante também foi deixada para a comunidade. “Nós dissemos a eles: vocês precisam continuar a proteger a vida selvagem porque ela tem ajudado em tudo isto. Isto é o seu futuro”.
O conflito entre pessoas e animais é uma das principais ameaças à sobrevivência a longo prazo de algumas das espécies mais emblemáticas do mundo, de acordo com um relatório recente da World Wide Fund for Nature (WWF) e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Em muitos países como Uganda, o conflito, aliado aos riscos sanitários da COVID-19, fez com que espécies ameaçadas ficassem ainda mais perto da extinção.
Kalema-Zikusoka trabalhou com a equipe do parque nacional para incentivar os visitantes e guardas-florestais a usar máscaras, não apenas para impedir a transmissão COVID-19 entre eles, mas também para proteger os gorilas, que podem ser infectados por patógenos de origem humana. Esse trabalho resultou em protocolos destinados ao controle da propagação de zoonoses — contágios entre humanos e animais — e no treinamento de profissionais de saúde locais para combater a COVID-19. Agora, 21 países da África — incluindo os 13 Estados que abrigam populações decrescentes de grandes primatas — já assinaram as diretrizes.
“Estamos realmente adaptando o modelo de prevenção de zoonoses à prevenção de COVID-19”, disse Kalema-Zikusoka. A Conservação por Meio da Saúde Pública também analisa formas de diversificar as fontes de renda das comunidades locais que compartilham o espaço com a vida selvagem. O projeto mais recente da organização é o Café de Conservação dos Gorilas, um empreendimento social. A equipe ensina os agricultores das redondezas de Bwindi a cultivar grãos de café de alta qualidade com economia de água e fertilizantes orgânicos. “Agora, estamos trabalhando em investimentos que façam impacto”, afirma a veterinária. “Tudo se trata da importância do financiamento sustentável da conservação”.
Reconhecida mundialmente, Kalema-Zikusoka diz que tem esperança de que ela inspire outros jovens africanos a se profissionalizar na área de conservação. “Há uma falta de representação local de conservacionistas. Poucos vêm de lugares onde se encontra os animais ameaçados", disse a veterinária. “Precisamos de mais campeões e campeãs locais, porque essas são as pessoas que se tornarão responsáveis pelas decisões de suas comunidades e países”.
Os prêmios Campeões da Terra e Jovens Campeões da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconhecem indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador no meio ambiente. Entregue anualmente, o prêmio é a maior honraria ambiental da ONU.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos de 2021 a 2030 como a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com o apoio de parceiros, a Década foi concebida para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas no mundo inteiro. O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, cobrindo tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Um chamado global à ação, a convocação reúne apoio político, pesquisa científica e força financeiro para intensamente ampliar a restauração. Para saber mais, acesse: https://www.decadeonrestoration.org/pt-br/
Para a maioria das pessoas, nadadeiras, máscaras e roupas de neoprene são equipamentos recreativos. Porém, para o grupo sem fins lucrativos Mulheres do Mar da Melanésia, Campeãs da Terra deste ano na categoria Inspiração e Ação, esses são materiais de transformação.
Revestidas por equipamento de mergulho, a equipe de mais de 30 integrantes mapeia a saúde dos delicados recifes de corais que cercam a Melanésia, um conjunto de Estados insulares no sul do Pacífico. O objetivo: ensinar técnicas de mergulho e conhecimentos de biologia às mulheres para monitorem a saúde dos recifes e criem e restaurem áreas de proteção marinha.
“Lembro-me da primeira vez que estive em uma vila de pescadores para tentar recrutar algumas mulheres para o nosso programa”, recorda Israelah Atua, integrante da Mulheres do Mar. “Elas nem queriam nos ouvir. Mas nós as convencemos de que a conservação marinha é necessária para proteger nossa subsistência”.
As Mulheres do Mar da Melanésia trabalham no chamado Triângulo de Corais, uma área que cobre cerda de 5,7 milhões de km² entre a Grande Barreira de Corais e os arquipélagos da Melanésia e do sudeste Asiático. Rica em biodiversidade marinha, a região é um dos principais destinos para o turismo náutico, além de ser o lar de uma grande indústria pesqueira. Também é particularmente ameaçada pelo crescimento populacional e por níveis elevados de resíduos.
Os recifes de coral em todo o mundo são reféns das mudanças climáticas, da pesca excessiva e da poluição. De 2009 até hoje, quase 14% dos corais do mundo desapareceram, de acordo com um relatório recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Muitos dos que permanecem estão em perigo.
Recifes saudáveis são fundamentais para enfrentar os impactos da mudança climática, entre eles, a acidificação dos oceanos e os eventos extremos. Mas o relatório mostra que, a menos que sejam tomadas medidas drásticas para limitar o aquecimento global a 1,5°C, os corais vivos nos recifes poderão diminuir de 70 a 90% até 2050.
A boa notícia é que esses ecossistemas são resistentes e podem se recuperar caso o ambiente marinho seja protegido. A iniciativa Mulheres do Mar, dirigida pela Coral Sea Foundation, atua desde 2018 nas Ilhas Salomão e na Papua-Nova Guiné para promover a restauração dos recifes de coral e apoiar o estabelecimento de áreas de exclusão à pesca. Também apoia áreas marinhas protegidas nos dois países, para garantir a existência de peixes em abundância para a vida futura das comunidades.
As Mulheres do Mar simultaneamente mudam as narrativas do papel das mulheres na comunidade e as fornecem oportunidades de liderança.
“Ter uma mulher na comunidade que defenda o processo de estabelecimento das reservas marinhas e a conservação, em uma linguagem local, é importante para que as mensagens iniciais sobre a importância de áreas de proteção marinha sejam transmitidas”, disse Andy Lewis, diretor executivo da Coral Sea Foundation. “Nenhum trabalho de conservação pode ser feito nesses países sem o reconhecimento explícito da cultura indígena”.
Para as Mulheres do Mar, a combinação do conhecimento indígena com a ciência é essencial para o engajamento nas comunidades. O aprendizado que se obtém com a comunidade sobre onde os peixes estão presentes em certos períodos do ano, a relação entre a cor dos corais e os dados levantados com a pesquisa ou sobre como a maré pode mudar conforme a mudança climática é importante para ampliar o alcance do grupo e demonstrar o valor da preservação e das áreas marinhas protegidas.
Em compensação, dizem as Mulheres do Mar, elas desafiam as convenções indígenas sobre o papel da mulher no lar, na comunidade e na sociedade.
“Quando você treina uma mulher, você treina uma sociedade”, disse Evangelista Apelis, Mulher do Mar e codiretora do programa em Papua-Nova Guiné. “Estamos tentando instruir as mulheres, e envolvê-las, para que depois possam retornar e causar um impacto em suas próprias famílias e em sua sociedade também”.
As Mulheres do Mar passam por um rigoroso treinamento em biologia marinha, complementado por uma formação prática em técnicas de inspeção de recifes e ecologia de recifes de corais. Depois, aprendem a mergulhar.
“O que mais amo no meu trabalho é poder nadar e vivenciar a beleza do mundo subaquático”, afirma Apelis. “Antes de mergulhar, você imagina todo o tipo de coisa, mas a realidade é ainda mais hipnotizante — os peixes, os naufrágios… é como se tudo tivesse acabado de ganhar vida”. Todas as Mulheres do Mar são apoiadas por meio de certificação em mergulho reconhecida internacionalmente e são ensinadas a usar GPS, câmeras subaquáticas e vídeos para pesquisar as populações de peixes e corais nos recifes do Triângulo de Corais. O trabalho do grupo desde 2018 já resultou em propostas para mais de 20 novas áreas marinhas protegidas nas águas de Papua-Nova Guiné e das Ilhas Salomão.
“Os recifes de coral são um santuário para a vida marinha e sustentam a economia de diversas comunidades litorâneas", disse Inger Anderson, Diretora Executiva do PNUMA. “Os recifes de coral são vitais para o futuro do nosso planeta e o trabalho feito pelas Mulheres do Mar para proteger estes belos e diversos ecossistemas é absolutamente inspirador”.
Para Naomi Longa, líder de equipe da Mulheres do Mar na província de Papua-Nova Guiné, na Nova Bretanha Oriental, ajudar a criar reservas marinhas significa que ela não é apenas uma liderança em sua comunidade, mas também uma guia para o futuro. Como as pressões populacionais na terra aumentam a pressão sobre o mar, o programa de reservas marinhas é um investimento no bem-estar a longo prazo para as comunidades vulneráveis a tensões e impactos.
"Estamos, na verdade, conservando alimentos para gerações futuras", disse Longa. “Há espécies morrendo, portanto, essas que vivem em reservas marinhas podem ser as únicas remanescentes quando nossas gerações futuras nascerem”.
Os prêmios Campeões da Terra e Jovens Campeões da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconhecem indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador no meio ambiente. Entregue anualmente, o prêmio é a maior honraria ambiental da ONU.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos de 2021 a 2030 como a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com o apoio de parceiros, a Década foi concebida para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas no mundo inteiro. O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, cobrindo tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Um chamado global à ação, a convocação reúne apoio político, pesquisa científica e força financeiro para intensamente ampliar a restauração. Para saber mais, acesse: https://www.decadeonrestoration.org/pt-br/
Ainda quando criança, David Attenborough passava grande parte do seu tempo livre atravessando pedreiras abandonadas na zona rural inglesa, com um martelo na mão. Sua presa: amonites e moluscos em forma de espiral fossilizados que viveram na época dos dinossauros.
Para aquele jovem Attenborough, os fósseis eram como tesouros enterrados, ele ficava maravilhado em ser o primeiro a encontrá-los em dezenas de milhões de anos.
O mundo natural o manteve fascinado pelo resto de sua vida.
Hoje, Attenborough, com 95 anos, é sem dúvida o apresentador sobre história natural mais conhecido do mundo. Durante uma carreira que teve início no berço da televisão, o naturalista escreveu e apresentou alguns dos documentários mais influentes sobre o estado do planeta, incluindo a série de nove partes "Life", que durou uma década.
Com o que o New York Times chamou de sua "voice-of-God-narration" (uma “narração na voz de Deus" na tradução literal) e uma curiosidade insaciável, o apresentador passou 70 anos revelando a beleza do mundo natural — e expondo as ameaças que a natureza enfrenta. Ao longo do caminho, ele tem mostrado a centenas de milhões de telespectadores uma perspectiva de um futuro mais sustentável.
“Se o mundo deve, de fato, ser salvo, então Attenborough terá atuado mais para salvação do que qualquer outra pessoa que já tenha vivido”, escreveu o ambientalista e escritor Simon Barnes.
As Nações Unidas reconheceram o impacto abrangente de Attenborough no movimento ambiental global, entregando-lhe o Prêmio Campeões da Terra na categoria Realizações em Vida. Este prêmio é a maior honraria ambiental da ONU e celebra aquelas pessoas que dedicaram suas vidas ao combate de crises como a mudança climática, a perda de espécies e a poluição.
“Você tem sido uma inspiração extraordinária para tantas pessoas”, disse Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), ao entregar o prêmio a Attenborough.
"Você defendeu o planeta muito antes de qualquer outra pessoa e você continua nos provocando".
Além de seu trabalho na mídia, Attenborough é uma das vozes líderes do movimento ambientalista global. Ele participou de cúpulas históricas, como a Conferência sobre Mudanças Climáticas de Paris em 2015, na qual reivindicou um esforço global unificado para combater as ameaças à Terra.
Ele também tem colaborado com o PNUMA há pelo menos quatro décadas, cedendo sua voz a uma série de campanhas e curtas-metragens que têm dado destaque aos esforços da organização para combater a crise climática, a perda da biodiversidade e a poluição. Esse trabalho é motivado pela crença de que nenhum país sozinho pode resolver os males ambientais do planeta.
“Vivemos em uma era na qual apenas o nacionalismo não é suficiente”, afirmou Attenborough ao aceitar o prêmio Campeões da Terra do PNUMA na categoria Realizações em Vida. "Precisamos sentir que somos todos cidadãos deste único planeta. Se agirmos juntos, podemos resolver esses problemas.”
Attenborough se formou em ciências naturais na Universidade de Cambridge em 1947, mas logo descobriu que não tinha disposição para uma vida de pesquisa. Assim, entrou na empresa de comunicação British Broadcasting Corporation (BBC) no momento em que as televisões chegavam aos lares.
Sua primeira aparição na TV ocorreu em 21 de dezembro de 1954, no Zoo Quest, uma série que apresentou as criaturas exóticas aos britânicos curiosos, como orangotangos e dragões de Komodo.
Sendo talentoso tanto como administrador quanto como apresentador, Attenborough viria a ascender na emissora nacional britânica até obter o comando do canal BBC Two. Foi então que iniciou produções como a série Monty Python's Flying Circus, entre outras.
Mas a administração do canal realmente não era ideal para ele. Por isso, em 1973 Attenborough deixou a equipe executiva para voltar a fazer filmes.
O resultado foi a produção da série marcante de 1979, Life on Earth, uma obra épica que traçou a história da vida na Terra, desde os primeiros microorganismos até o surgimento da humanidade.
A série precisou de três anos para ser produzida e Attenborough viajou quase 2.500 km durante as filmagens. Com seu escopo e ambição, a série redefiniu os registros da história natural e obteve uma audiência de cerca de 500 milhões de pessoas.
Durante as três décadas seguintes, Attenborough escreveu e apresentou mais oito grandes documentários, concentrando a atenção do mundo no que chamou de “a maravilha espetacular” da natureza.
Mas à medida que sua carreira progrediu, o apresentador passou a testemunhar a decadência do mundo natural. Com o crescimento da presença da humanidade, a natureza desapareceu. A atividade humana alterou três quartos da superfície da Terra e colocou 1 milhão de espécies sob risco de extinção.
“Embora sejamos imensamente poderosos hoje, é igualmente evidente que seremos ainda mais poderosos amanhã”, afirmou ele na conclusão da série de documentários "The Living Planet" de 1984. “É evidente que poderíamos devastar o mundo. A sobrevivência contínua [da Terra] agora está nas nossas mãos”.
Os filmes de Attenborough mostraram ao mundo que a natureza não é infinita, que ela é delicada e precisa de proteção — e que a humanidade se distanciava perigosamente dela.
No ano passado, em meados dos seus 90 anos, ele discursou aos líderes mundiais na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática em Glasgow, Escócia.
“Já estamos em apuros”, alertou. “É assim que nossa história termina? Um conto sobre como as espécies mais espertas foram condenadas por aquela característica demasiada humana de não ver o panorama geral por visar objetivos de curto prazo”.
Mas então, como de costume, as palavras de Attenborough foram tocadas pelo otimismo. Um tema recorrente de seus filmes é que, apesar do estado lamentável do planeta, a humanidade ainda pode reparar os danos causados.
“Nem tudo é desgraça e tristeza”, declarou em A Life on Our Planet de 2020, com um olhar retrospectivo sobre sua carreira. “Há uma chance que nos permite fazer reparações, completar nossa jornada de desenvolvimento e mais uma vez nos tornarmos uma espécie em equilíbrio com a natureza. Tudo o que precisamos é da vontade de alcançar isso".
Neste mesmo filme, ele propôs uma fórmula para fazer as pazes com a natureza. O objetivo era elevar o padrão de vida nos países mais pobres para conter o crescimento populacional, dedicando-se à energia limpa, como a energia solar e eólica, à alimentação mais baseada em vegetais, que é mais leve para o planeta, e ao abandono dos combustíveis fósseis.
“Se cuidarmos da natureza, a natureza cuidará de nós”, disse. “Agora é hora de nossa espécie parar de apenas crescer e estabelecer uma vida em nosso planeta em equilíbrio com a natureza, para começar a prosperar”.
O trabalho e ativismo de Attenborough foram condecorados (duas vezes) e seu nome cunhou a designação de dezenas de espécies, desde attenborosaurus (um réptil nadador pré-histórico) até nepenthes attenboroughii (uma planta carnívora).
Nos últimos anos, Attenborough continuou a dar sua voz aos documentários de história natural, com duas indicações ao Emmy em 2021 na categoria de narração. (Em sua carreira, ganhou três Emmys e oito BAFTAs).
Há décadas, Attenborough tem sido procurado por líderes mundiais que buscam por soluções para as crises que o mundo natural enfrenta — e talvez queiram um pouco do entusiasmo do naturalista.
Em 2015, ele visitou a Casa Branca para uma conversa com o Presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Obama perguntou a Attenborough o que desencadeou seu "profundo fascínio" pelo mundo natural.
"Nunca conheci uma criança que não estivesse interessada na história natural", respondeu ele, talvez relembrando seus dias de caça aos fósseis no interior da Inglaterra. "Então, a pergunta é: como alguém pode perder esse interesse?"
A enorme explosão que atingiu o porto de Beirute em agosto de 2020 deixou para trás um emaranhado de concreto, metal e vidro quebrado. A força da explosão de um estoque de nitrato de amônio foi sentida a mais de 20 km de distância.
Com a capital libanesa enfrentando um enorme esforço de limpeza, a arcenciel foi um dos muitos grupos sem fins lucrativos a intervir, recolhendo 9.000 toneladas de vidro quebrado dos bairros destruídos.
Esse vidro foi esmagado, derretido e remodelado para uso futuro.
“Após a explosão de Beirute, tivemos vários projetos para ajudar a reabilitar bairros e coletar cacos de vidro”, disse Marc-Henri Karam, que lidera os programas ambientais da arcenciel.
O esforço foi emblemático e demonstra o papel da arcenciel, Campeã da Terra em Inspiração e Ação deste ano, na administração de resíduos do Líbano nas últimas duas décadas.
Em um país que tem lutado com a gestão de resíduos, a organização fundada em 1985 e liderada por voluntários, lançou programas para reciclar tudo, desde resíduos médicos até roupas. Com anos de experiência como entidade líder no tratamento de resíduos hospitalares, ela também ajudou o Líbano a desenvolver sua primeira lei de gestão de resíduos.
“Identificamos muitos problemas que afetam o meio ambiente e principalmente a comunidade e a saúde da sociedade”, disse Robin Richa, Gerente Geral da arcenciel. “Tentamos ser estratégicos na identificação de atividades com as quais podemos gerar um impacto sustentável.”
Administrando resíduos
A arcenciel foi criada para apoiar as pessoas feridas na guerra civil do Líbano. Seu ethos de servir a sociedade se estendeu até suas atividades atuais, que se concentram em ajudar pessoas marginalizadas a contribuir para suas comunidades, ao mesmo tempo em que incentiva a sustentabilidade ambiental e a conservação dos recursos naturais.
Por meio de seu programa de Agricultura e Meio Ambiente Sustentável, a arcenciel oferece serviços de gestão de resíduos sólidos, expertise e ativismo no Líbano, um país que precisa de todo o apoio possível para descartar o lixo de forma segura e sistemática. Em 2003, a organização começou a tratar resíduos hospitalares que, se deixados sem tratamento em lixões e aterros sanitários a céu aberto, podem causar infecção, transmitir doenças, contaminar a água e poluir os ecossistemas.
Hoje, a arcenciel trata 87% do lixo hospitalar do Líbano, usando máquinas de esterilização a vapor para convertê-lo em lixo doméstico. Sua atuação se tornou ainda mais urgente durante a pandemia de COVID-19, que gerou dezenas de milhares de toneladas de resíduos médicos adicionais globalmente – de seringas, agulhas e kits de teste a máscaras, luvas e equipamentos de proteção individual. Só em 2020, a arcenciel tratou 996 toneladas de lixo hospitalar.
“Estamos reduzindo o risco de infecções e de resíduos infecciosos em aterros sanitários. O impacto é um solo mais limpo, águas subterrâneas mais limpas e melhor saúde para todos”, disse Karam.
“Reduzir o desperdício e promover a reciclagem é fundamental para desmantelar a cultura do descartável que está poluindo nosso planeta e levando à emergência climática”, disse Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. “A liderança da arcenciel na gestão de resíduos é inspiradora. A organização está ajudando a construir um ambiente saudável para as gerações futuras.”
Resposta à crise
A gestão de resíduos ambientalmente segura é fundamental para proteger os ecossistemas e, em última análise, a saúde pública, que são os objetivos centrais da Década da Restauração de Ecossistemas das Nações Unidas.
A arcenciel ajudou a melhorar a gestão de resíduos em dois dos maiores campos de refugiados palestinos do Líbano e em três campos de refugiados sírios na região de Bekaa. Em Bekaa, a organização mostrou aos moradores como coletar, separar e reciclar o lixo, melhorando as condições de vida e proporcionando renda aos refugiados.
Responder a crises tem sido uma marca distintiva do trabalho da arcenciel. Em 2015, quando o fechamento do aterro sanitário de Naameh fez com que o lixo se acumulasse nas ruas de Beirute e do Monte Líbano, a arcenciel mais que duplicou a quantidade de material reciclado, coletando 852 toneladas de resíduos. Também publicou um manual de gestão eficaz de resíduos, treinou municípios para administrar seus próprios centros de gestão de resíduos e conscientizou o público sobre o assunto.
A filosofia de reutilização e reciclagem da organização também se estende a móveis e roupas antigas. Qualquer coisa que possa ser recuperada é salva do aterro, reabilitada e revendida.
Precedente legal
A arcenciel ajudou o Líbano a desenvolver sua primeira lei sobre gestão de resíduos sólidos, aprovada em 2018, e elaborou uma estratégia nacional de tratamento de resíduos, que passou a ser utilizada pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Ministério da Agricultura.
“A lei obriga os hospitais a tratarem seus resíduos, e essa é uma das nossas maiores conquistas”, disse Karam.
Construindo para o futuro
No Domaine de Taanayel, um terreno de 2,3 quilômetros quadrados na região de Bekaa, a arcenciel construiu uma fazenda que funciona quase exclusivamente com energia solar, como parte de um esforço para promover a agricultura sustentável. Para reduzir a erosão do solo e o consumo de água, a arcenciel utiliza a fertirrigação, processo pelo qual o fertilizante líquido é distribuído às plantas de forma mais dirigida por meio do sistema de irrigação. A Domaine também é a única da região a produzir biopesticidas, que geram menos resíduos tóxicos do que os pesticidas químicos convencionais. Um ecolodge no local ajuda a promover o turismo responsável, com respeito pelo meio ambiente local e seus ecossistemas.
Embora as sucessivas crises do Líbano tenham apresentado muitos desafios, a equipe da arcenciel diz que está determinada a continuar seu trabalho para proteger o meio ambiente nas próximas gerações.
“Construir algo para o futuro é o que nos motiva”, disse Richa.
O interesse de Constantino Aucca Chutas pela conservação começou há três décadas com o trabalho de campo que ele fez como estudante de biologia em Cusco, Peru.
Na época, as encostas deslumbrantes dos Andes peruanos que cercavam a cidade estavam sob a pressão da extração ilegal de madeira e das fazendas em expansão.
“A conservação tornou-se uma necessidade”, disse Aucca recentemente durante uma entrevista ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Seu chamado para defender a natureza se fortaleceu por insistência de seus avós, agricultores indígenas quíchuas. “Eles me disseram, olha, seu nome é Aucca, significa guerreiro. Por favor, tente fazer algo por nós agricultores.”
Aucca passou os últimos 30 anos honrando esse pedido e está liderando as comunidades locais em um esforço para proteger as florestas na América do Sul, que são essenciais para combater as mudanças climáticas e abrigam espécies únicas de plantas e animais.
A "Asociación de Ecosistemas Andinos", que Aucca fundou em 2000, plantou mais de 3 milhões de árvores no Peru e protegeu ou restaurou 30.000 hectares de terra
Por seus esforços, Aucca foi nomeado Campeão da Terra na categoria Inspiração e Ação, a maior distinção ambiental das Nações Unidas.
A América Latina e o Caribe detêm alguns dos ecossistemas florestais com maior biodiversidade do mundo, mas mais de 40% das florestas da região foram desmatadas ou degradadas para dar lugar a projetos de mineração, agricultura e infraestrutura.
A conservação liderada pela comunidade de Aucca ajudou as comunidades indígenas, um grupo tradicionalmente marginalizado, a garantir direitos legais sobre suas terras e estabelecer áreas protegidas para suas florestas nativas.
“O trabalho pioneiro de Constantino Aucca Chutas nos lembra que as comunidades indígenas estão na vanguarda da conservação”, disse Inger Andersen, Diretora Executiva do PNUMA. “Elas estão entre os melhores guardiões do mundo natural, suas contribuições para a restauração dos ecossistemas são inestimáveis e chegam em um momento que não poderia ser mais urgente para o planeta.”
Restaurando 'florestas de nuvens'
A "Asociación de Ecosistemas Andinos" mobilizou milhares de pessoas em Cusco para proteger e restaurar as antigas florestas de Polylepis, que uma vez dominaram os altos Andes. Crescendo até 5.000 metros acima do nível do mar, mais elevadas do que qualquer floresta do mundo, essas árvores de “nuvem” desempenham um papel vital na luta contra as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade.
Eles abrigam animais selvagens ameaçados de extinção, armazenam carbono, fixam solos e são uma fonte de água para as comunidades agrícolas que vivem nas proximidades. Do alto, as florestas de Polylepis absorvem a névoa e retêm grandes quantidades de água das nuvens, que é gradualmente descarregada através da cobertura de musgo, mantendo o fluxo dos córregos das montanhas.
Vastas áreas dos Andes já foram cobertas por árvores Polylepis, mas apenas 500.000 hectares permanecem de pé hoje, já que décadas de desmatamento para lenha, pastagem de gado, extração de madeira e estradas cobram seu preço. A perda dessas florestas montanhosas gera escassez de água, afetando a vida e os meios de subsistência de milhões de pessoas.
Para garantir a sobrevivência das futuras gerações de agricultores indígenas, a associação de Aucca organiza festivais de plantio de árvores em Cusco todos os anos. O dia começa com rituais ancestrais derivados da rica herança inca da região. Músicos sopram conchas e batem tambores em homenagem à natureza enquanto os aldeões sobem trilhas íngremes nas montanhas para plantar árvores, alguns carregando feixes de mudas nas costas – outros, bebês.
“Quando plantamos uma árvore, devolvemos algo à Mãe Terra. Estamos convencidos de que quanto mais árvores plantarmos, mais as pessoas ficarão felizes. É uma celebração, um dia de felicidade”, disse Aucca.
Retribuindo às comunidades locais
Em troca de seus esforços para restaurar os habitats ameaçados e conservar pássaros e outros animais selvagens, as comunidades locais recebem ajuda da "Acción Andina" para garantir o título de suas terras, o que proporciona proteção legal contra a exploração por empresas madeireiras, mineradoras e petrolíferas.
Aucca e sua equipe também criaram áreas protegidas, trouxeram médicos e dentistas para aldeias remotas nas montanhas e forneceram painéis solares e fogões de barro a comunidades para melhorar sua qualidade de vida.
A visão de Aucca para a regeneração do ecossistema vai além de seu Peru natal. Em 2018, a "Asociación de Ecosistemas Andinos" e a organização americana sem fins lucrativos Global Forest Generation estabeleceram a "Acción Andina" para ampliar o modelo de reflorestamento liderado pela comunidade em outros países andinos.
Como presidente da "Acción Andina", Aucca agora supervisiona os planos de proteger e restaurar 1 milhão de hectares de florestas criticamente importantes na Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia e Equador, bem como no Peru, nos próximos 25 anos. Seu trabalho exemplifica o apelo da Década da Restauração de Ecossistemas das Nações Unidas a uma ação global para prevenir, deter e reverter a degradação dos ecossistemas.
O bem comum
Estudos mostram que a restauração de 20 milhões de hectares de ecossistemas degradados na região da América Latina e Caribe pode render US$ 23 bilhões em benefícios em 50 anos. Ecossistemas prósperos também são essenciais para manter o aquecimento global abaixo de 2 °C e ajudar sociedades e economias a se adaptarem às mudanças climáticas.
No coração do trabalho de Aucca está uma profunda conexão com sua herança inca e os princípios incas de “Ayni” e “Minka”, um profundo compromisso de trabalhar juntos para o bem comum, que passa por planos de aumentar o reflorestamento também em outros países andinos.
“Uma vez, na América do Sul, fomos o maior império, unidos por uma cultura, a cultura inca”, disse Aucca. “Foi a primeira vez que todos nos reunimos. A vez seguinte em que nos reunimos para criar um movimento foi para nos libertarmos do jugo espanhol, para buscar nossa independência. Agora estamos juntos pela terceira vez. Por quê? Para proteger uma pequena árvore.”
Quando, em 2019, o Tesouro do Reino Unido se aproximou de Sir Partha Dasgupta para realizar uma revisão da economia da biodiversidade, tomando uma iniciativa considerada inédita para um ministério de finanças, o eminente economista da Universidade de Cambridge não pensou duas vezes antes de dizer “sim”.
Nos 18 meses seguintes, Dasgupta e sua equipe combinaram evidências científicas, econômicas e históricas com modelagem matemática rigorosa para produzir A Economia da Biodiversidade: Revisão de Dasgupta.
Publicado em fevereiro de 2021, o relatório histórico mostra que o crescimento econômico teve um custo devastador para a natureza. Deixa claro que a humanidade está destruindo seu bem mais precioso – o mundo natural – ao viver além das possibilidades do planeta e destaca estimativas recentes de que seria necessário 1,6 planeta Terra para manter os padrões de vida atuais.
“Quando você lê as previsões econômicas, elas falam sobre investimentos em fábricas, taxas de emprego, crescimento [do produto interno bruto]. Elas nunca mencionam o que está acontecendo com os ecossistemas”, disse Dasgupta, o Campeão do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) do Prêmio Terra em Ciência e Inovação deste ano. “É realmente urgente que pensemos nisso agora”, disse ele.
O relatório foi a culminação de quatro décadas de trabalho, nas quais Dasgupta procurou ultrapassar os limites da economia tradicional e expor a conexão entre a saúde do planeta e a estabilidade das economias.
A Economia da Biodiversidade é a base de um campo em expansão conhecido como contabilidade do capital natural, no qual os pesquisadores tentam avaliar o valor da natureza. Esses números podem ajudar os governos a entender melhor os custos econômicos de longo prazo da extração de madeira, mineração e outras indústrias potencialmente destrutivas, reforçando a defesa do mundo natural.
“As contribuições inovadoras de Sir Partha Dasgupta para a economia ao longo das décadas despertaram o mundo para o valor da natureza e a necessidade de proteger os ecossistemas que enriquecem nossas economias, nosso bem-estar e nossas vidas”, disse Inger Andersen, Diretora Executiva do PNUMA.
Economia como parte de uma 'tapeçaria'
Dasgupta nasceu em 1942 no que é hoje a capital do Bangladesh, Dhaka. (Na época, a cidade fazia parte da Índia.) Seu pai, o renomado economista Amiya Kumar Dasgupta, teve uma enorme influência sobre ele e sua jornada acadêmica. Depois de concluir o bacharelado em física em Delhi, Dasgupta mudou-se para o Reino Unido, onde estudou matemática e, mais tarde, obteve um doutorado em economia.
Por meio de suas importantes contribuições para a economia, pelas quais foi nomeado cavaleiro em 2002, Dasgupta ajudou a moldar o debate global sobre desenvolvimento sustentável e uso de recursos naturais.
“É uma ideia muito bonita pensar que ao redor de você há fábricas da natureza, produzindo bens e serviços – pássaros que polinizam, esquilos enterrando nozes e todas as coisas sob nossos pés”, disse Dasgupta.
“É uma tapeçaria desconcertante de coisas que estão acontecendo, muitas das quais são inobserváveis. E, no entanto, elas estão criando a atmosfera na qual os humanos e todos os organismos vivos podem sobreviver. A maneira como medimos o sucesso ou o fracasso econômico, toda a gramática da economia, precisa ser construída com essa tapeçaria em mente.”
Carinho pela natureza
Dasgupta esboça seu interesse pela ideia de viver de forma sustentável em um mundo de recursos naturais limitados em seu artigo de 1969, agora clássico, Sobre o conceito de população ideal. Na década de 1970, o economista sueco Karl-Göran Mäler o encorajou a desenvolver suas ideias sobre as conexões entre a pobreza rural e o estado do meio ambiente e dos recursos naturais nos países mais pobres do mundo, um assunto notavelmente ausente da economia do desenvolvimento dominante na época.
Isso levou a novas explorações das relações entre população, recursos naturais, pobreza e meio ambiente, graças as quais Dasgupta se tornou aclamado.
"Me diverti muito trabalhando nesse campo", disse ele. “Uma razão pela qual foi divertido é que eu não tinha competição. Ninguém mais estava trabalhando nisso.”
Pradarias, florestas e lagos de água doce são alguns dos ecossistemas favoritos de Dasgupta. Ele acredita que as crianças devem estudar a natureza desde cedo e que a matéria deve ser tão obrigatória quanto a leitura, a escrita e a aritmética. “Essa é uma forma de gerar afeto pela natureza. Se você tem afeto pela natureza, é menos provável que ela seja destruída”, diz ele.
Riqueza inclusiva
Dasgupta é um apaixonado pela ideia de substituir o produto interno bruto (PIB), como medida da saúde econômica dos países, porque conta apenas parte da história. Em vez disso, ele defende o conceito de “riqueza inclusiva”, que capta não só o capital financeiro e produzido, mas também as competências da força de trabalho (capital humano), a coesão da sociedade (capital social) e o valor do meio ambiente (capital natural).
Essa ideia está incorporada no programa apoiado pelas Nações Unidas Sistema de Contabilidade Econômica Ambiental, que permite que os países rastreiem os ativos ambientais, seu uso na economia e os fluxos de retorno de resíduos e emissões.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) desenvolveu o Índice de Riqueza Inclusiva. Já calculado para cerca de 163 países, o índice indica que a riqueza inclusiva cresceu em média 1,8% de 1992 a 2019, um índice muito inferior à taxa do PIB, em grande parte devido a declínios no capital natural.
A natureza como ativo patrimonial
Ecoando a urgência da Década da Restauração de Ecossistemas das Nações Unidas para prevenir, deter e reverter a degradação dos ecossistemas, o projeto Economia da Biodiversidade de Dasgupta adverte que ecossistemas críticos, de recifes de coral a florestas tropicais, estão chegando a pontos de inflexão perigosos, com consequências catastróficas para as economias e o bem-estar das pessoas.
O relatório de 600 páginas pede uma reavaliação fundamental da relação da humanidade com a natureza e como ela é valorizada, argumentando que a não inclusão de “serviços ecossistêmicos” nos balanços nacionais só serviu para intensificar a exploração do mundo natural.
“[Trata-se] de introduzir a natureza como um ativo patrimonial no pensamento econômico e mostrar como as possibilidades econômicas dependem inteiramente dessa entidade finita”, diz Dasgupta.