A pesquisadora canadense Katharine Hayhoe foi agraciada como Campeã da Terra em 2019, a principal premiação ambiental das Nações Unidas, por seu forte compromisso em quantificar os efeitos da mudança climática e por seus incansáveis esforços para transformar atitudes públicas.
Uma das comunicadoras mais influentes do mundo sobre mudança climática, Hayhoe é uma cientista atmosférica que estuda o que a mudança climática significa para as pessoas e para os lugares onde vivem. Ela faz suas avaliações com base em observações de longo prazo, analisando cenários futuros e modelos globais além de desenvolver estratégias inovadoras que traduzem projeções futuras em informações relevantes que as partes interessadas possam usar para informar o planejamento futuro em alimentação, gestão hídrica, infraestrutura e muito mais.
Hayhoe atuou como principal autora de muitos relatórios climáticos importantes, incluindo a Segunda, Terceira e Quarta Avaliações Climáticas Nacionais do Programa de Pesquisa de Mudanças Globais dos EUA. Ela também liderou avaliações sobre impacto climático para uma vasta gama de Organizações, desde o Museu de História Natural do Smithsonian, passando pelo Earth Science Women's Network até o Young Evangelicals for Climate Action. Ela recebeu doutorado honorário da Colgate University e da Victoria College na Universidade de Toronto.
No entanto, Hayhoe pode ser mais conhecida por preencher a ampla e profunda lacuna entre cientistas e cristãos - trabalho que faz por ser cristã. Ao concluir sua graduação na Universidade de Toronto, ela fez aulas de ciências climáticas, o que alterou sua trajetória de vida para sempre. Ela aprendeu que a mudança climática é uma ameaça multiplicadora que afeta quase todos os aspectos da vida neste planeta - pobreza, fome, injustiça e crises humanitárias - e abandonou seus planos de tornar-se astrofísica e acabou fazendo um mestrado e um doutorado em ciência atmosférica na Universidade de Illinois para dar voz às experiências daqueles que sofrem com os impactos causados pelas mudanças climáticas.
Seu trabalho no engajamento público gira em torno do que ela vê como a coisa mais importante e que todos podem fazer para o combate a mudança climática - falar sobre isso. Ela faz isso de diversas maneiras, incluindo a hospedagem da série digital da PBS no YouTube, Global Weirding: Climate, Politics and Religion; em co-autoria de um livro sobre clima e valores cristãos com seu marido Andrew Farley, um pastor, autor e apresentador de rádio; participação em centenas de entrevistas, palestras, podcasts, documentários, aulas e muito mais nos EUA; envolvimento ativo com o público através das redes sociais e fóruns on-line; e, mais recentemente, ser autora de um livro sobre como falar sobre mudanças climáticas.
Como resultado, ela foi nomeada pelo Christianity Today como uma de suas 50 Mulheres a "ficar de olho", uma das 100 pessoas mais influentes da TIME em 2014, uma das 50 maiores líderes mundiais pela FORTUNE e listada entre os 100 Pensadores Globais de Política Externa, duas vezes, em 2014 e novamente em 2019. Ela também recebeu uma série de prêmios, incluindo o Prêmio de Comunicação Climática da União Geofísica Americana, o Prêmio Sierra Club de Serviços Eminentes e o Prêmio Stephen H. Schneider de Comunicação em Ciência do Clima Excepcional.
Embora grata pelo reconhecimento público que os prêmios transmitem, Hayhoe diz que o elemento mais importante de seu trabalho é o de transformar a mentalidade.
"O que mais significa para mim pessoalmente é quando uma pessoa me diz sinceramente que nunca havia se preocupado com a mudança climática antes, ou até mesmo pensado que era real: mas agora, por causa de algo que me ouviram dizer, mudaram de ideia. É isso que faz com que tudo valha a pena", escreveu ela em seu site.
Campeões da Terra é o principal prêmio ambiental global das Nações Unidas. Foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2005 para homenagear indivíduos de destaque cujas ações tiveram impacto positivo e transformador para o meio ambiente. De defensores ambientais a desenvolvedores de tecnologia, estas pessoas estão fazendo a diferença na proteção do nosso planeta para as próximas gerações.
Os vencedores anteriores do prêmio Campeões da Terra em ciência e inovação incluem a Impossible Foods e Beyond Meat em 2018 por produzir uma alternativa sustentável aos hambúrgueres de carne bovina; a designer australiana Leyla Acaroglu em 2016 por seu trabalho sustentável; e o principal químico atmosférico Sir Robert Watson em 2014.

Por transformar as boas ações de meio bilhão de pessoas em árvores reais, plantadas em algumas das regiões mais áridas da China, a Ant Forest recebeu o prêmio Campeões da Terra 2019 na categoria “Inspiração e Ação”.
Lançada pelo Ant Financial Services Group, afiliado do grupo Alibaba, a Ant Forest promove estilos de vida mais ecológicos, inspirando os usuários a reduzirem suas emissões de carbono no dia a dia. A Ant Forest recompensa o engajamento dos usuários com pontos de 'energia verde', que podem ser usados para plantar uma árvore real.
O objetivo é combater a desertificação, reduzir a poluição do ar e proteger o meio ambiente.
Os usuários da Ant Forest são incentivados a acompanhar sua pegada de baixo carbono por meio do registro de suas ações diárias, como pelo uso de transporte público ou o pelo pagamento de contas on-line. Para cada ação, eles recebem pontos de 'energia verde' e quando acumulam um certo número de pontos, uma árvore é plantada. Os usuários podem visualizar imagens de suas árvores em tempo real via satélite.
A plataforma Ant Forest também está explorando soluções inovadoras para aliviar a pobreza e melhorar a vida da população local, alavancando o poder da tecnologia digital.
Desde o seu lançamento em agosto de 2016, a Ant Forest e suas parceiras plantaram cerca de 122 milhões de árvores em algumas das áreas mais secas da China, incluindo regiões áridas do interior da Mongólia, Gansu, Chingai e Shanxi. As árvores cobrem uma área de 112.000 hectares e o projeto se tornou a maior iniciativa de plantação de árvores do setor privado da China.
As unidades operacionais do Alibaba também incentivam os usuários a participarem da Ant Forest. Por exemplo, se usarem a plataforma de troca de objetos usados, Idle Fish, para reciclar itens antigos, poderão ganhar pontos de 'energia verde'.
O reconhecimento da Ant Forest como Campeã da Terra destaca a importância da restauração de ecossistemas na redução das emissões que intensificam a mudança climática. Em março, as Nações Unidas destacaram a necessidade urgente de proteger os sistemas naturais que sustentam a vida, declarando a Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas de 2021 a 2030.
A China é há muito tempo comprometida com o reflorestamento para melhorar o meio ambiente e combater as mudanças climáticas. As autoridades pretendem aumentar a área cobertas por florestas de 21,7% em 2016 para 23% em 2020. Desde 1978, o país constrói uma Grande Muralha Verde de 4.500 quilômetros, também conhecida como Three-North Shelterbelt Forest Program, ao longo das margens de seus desertos nórdicos para conter a expansão do deserto de Gobi e impedir a erosão e a degradação do solo.
O Prêmio Campeões da Terra é a maior homenagem ambiental das Nações Unidas. Foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2005 para celebrar figuras extraordinárias cujas ações tiveram um impacto positivo e transformador para o meio ambiente. De líderes mundiais a defensores ambientais e criadores de tecnologia, os prêmios reconhecem pioneiros que estão trabalhando para proteger nosso planeta para as próximas gerações.
A premiação já reconheceu inovações e geradores de mudança, especialmente no campo das energias renováveis.
Em 2018, o Programa de Renascimento Rural Verde de Zhejiang ganhou o prêmio na categoria "Inspiração e Ação" por seu trabalho de regeneração de cursos de água poluídos e terras danificadas. Também em 2018, o Aeroporto Internacional de Cochin, o primeiro aeroporto de energia solar do mundo, ganhou o prêmio "Visão Empreendedora", e em 2017, a Comunidade de Reflorestação Saihanba foi reconhecida na categoria "Inspiração e Ação" por transformar terras degradadas no extremo sul do interior da Mongólia em um paraíso exuberante.

Líder mundial em sustentabilidade, a Costa Rica foi escolhida como Campeã da Terra na categoria de Liderança Política devido ao seu papel pioneiro na proteção da natureza e ao seu compromisso com políticas ambiciosas para o combate à mudança climática.
Notavelmente, o país da América Central elaborou um plano detalhado para descarbonizar sua economia até 2050, em conformidade com o Acordo Climático de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. A nação espera servir de modelo para que outros países possam fazer o mesmo e reduzir as emissões causadoras da rápida e desastrosa mudança climática.
“O plano de descarbonização consiste em manter uma curva ascendente em termos de crescimento econômico do emprego e, ao mesmo tempo, gerar uma curva descendente no uso de combustíveis fósseis, a fim de parar de poluir. Como vamos conseguir isso? Por meio de transportes públicos limpos, cidades inteligentes e resilientes, gestão de resíduos, agricultura sustentável e melhorias logísticas”, afirmou o presidente Carlos Alvarado Quesada.
O plano inclui metas ousadas de médio e longo prazo para a reforma do transporte, da energia, do manejo de resíduos e do uso da terra. O objetivo é alcançar neutralidade de emissões até 2050, o que significa que o país não produzirá mais emissões do que aquelas que é capaz de compensar por meio de ações como a manutenção e a expansão de suas florestas.
O sucesso da Costa Rica, ao colocar as preocupações ambientais no centro de suas políticas públicas e econômicas, mostra que a sustentabilidade é não somente alcançável, mas economicamente viável. Autoridades afirmam que a Costa Rica pretende mudar o paradigma do desenvolvimento, antecipando um sistema de consumo e produção que gere um excedente ambiental e não um déficit.
“Em 2050, embora pareça muito distante, espero poder dizer ao meu filho, que hoje tem seis anos de idade e até lá terá a minha idade, que fizemos a coisa certa. Fizemos o que tinha de ser feito para que ele pudesse viver em um mundo melhor, fundamentalmente, porque enfrentamos os efeitos das mudanças climáticas”, afirmou o presidente Alvarado Quesada.
As credenciais ambientais da Costa Rica são impressionantes: mais de 95% de sua energia é renovável, sua cobertura florestal é de mais de 50%, depois de um trabalho meticuloso para reverter décadas de desmatamento, e cerca de metade das terras do país estão sob algum grau de proteção.
Em 2017, o país bateu um recorde de 300 dias utilizando apenas energia renovável. O objetivo é atingir 100% de eletricidade renovável até 2030. Prevê-se que setenta por cento de todos os ônibus e táxis sejam elétricos até 2030, com a eletrificação total projetada para 2050.
O papel inovador da Costa Rica na promoção de tecnologias limpas e sustentabilidade é ainda mais notável pelo fato do país, de cerca de 5 milhões de habitantes, produzir apenas 0,4% das emissões globais.
O prêmio Campeões da Terra reconhece as credenciais de sustentabilidade da Costa Rica e também destaca a necessidade urgente de encontrar soluções para as mudanças climáticas. No ano passado, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) comprovou que limitar o aquecimento global a 1,5 °C exigiria mudanças sem precedentes para reduzir as emissões de carbono em 45% em relação aos níveis de 2010 até 2030, atingindo a neutralidade de emissões por volta de 2050.
Campeões da Terra é o principal prêmio ambiental das Nações Unidas. Foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2005 para homenagear indivíduos de destaque cujas ações tiveram um impacto positivo e transformador para o meio ambiente. De defensores ambientais a desenvolvedores de tecnologia, os prêmios reconhecem pioneiros que estão trabalhando para proteger nosso planeta para as próximas gerações.
Os vencedores anteriores da região incluem Michelle Bachelet, ex-presidenta do Chile, por sua liderança exemplar na criação de áreas marinhas protegidas e por impulsionar as energias renováveis (2017); a ex-ministra do Meio Ambiente brasileira, Izabella Teixeira, por sua liderança visionária e papel fundamental na reversão do desmatamento do Amazon (2013); e o ecologista mexicano, José Sarukhán Kermez, por uma vida dedicada à liderança e inovação na conservação da biodiversidade no México e no mundo (2016).
Em 2010, a Costa Rica recebeu o prêmio Future Policy Award pelo World Future Council em reconhecimento à sua lei de biodiversidade de 1998, considerada modelo para outras nações.

Fridays for Future é um movimento estudantil global dinâmico que pressiona por ações imediatas sobre as mudanças climáticas por meio de campanhas de conscientização e ativismo. O movimento foi escolhido como Campeão da Terra na categoria Inspiração e Ação por seu papel em destacar os efeitos devastadores das mudanças climáticas.
Fridays for Future conta com milhões de ativistas engajados que insistem que suas vozes sejam ouvidas naquela que muitos consideram a questão determinante de sua geração. O movimento foi inspirado pela adolescente sueca Greta Thunberg, que protestou em frente ao parlamento sueco por três semanas no ano passado para chamar a atenção para a emergência climática.
Agora, todos os meses, estudantes de todo o mundo saem às ruas para exigir que os políticos façam mais para reconhecer e agir de acordo com a realidade e a gravidade das mudanças climáticas. Essas marchas atraíram mais de um milhão de jovens em mais de 100 países. Como diz Thunberg: “Todos são bem-vindos. Todo mundo é necessário”.
O movimento Fridays for Future aqueceu a discussão global sobre as mudanças climáticas em um momento em que a janela de oportunidade para evitar os piores efeitos do aumento da temperatura está se fechando rapidamente. As emissões globais estão atingindo níveis recordes e não mostram sinais de queda. O nível do mar está subindo, os recifes de coral estão morrendo e os eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais comuns e destrutivos em todo o mundo.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que entende a raiva dos jovens e que suas vozes lhe dão esperança para o futuro.
Em junho, Thunberg e o movimento Fridays for Future foram homenageados com o prêmio Embaixador de Consciência da Anistia Internacional, que comemora pessoas que demonstraram liderança e coragem únicas na defesa dos direitos humanos.
A paixão e a energia demonstradas pelos membros do movimento Fridays for Future trazem esperança de que os líderes globais possam ser persuadidos a agir pela redução das emissões de carbono nos próximos 12 anos e manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°C e até, como solicitado pela ciência mais recente, a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.
Campeões da Terra é o principal prêmio ambiental da ONU. Foi criado pelo PNUMA em 2005 para celebrar figuras de destaque cujas ações tiveram um impacto positivo e transformador para o meio ambiente. De líderes mundiais a defensores ambientais e inventores de tecnologia, os prêmios reconhecem pioneiros que estão trabalhando para proteger nosso planeta para as próximas gerações.
Os vencedores anteriores do prêmio Campeões da Terra na categoria Inspiração e Ação incluem Afroz Shah, um advogado indiano que organizou o maior projeto de limpeza de praias do mundo em Mumbai (2016); a unidade anti-caça furtiva Black Mamba da África do Sul (2015); e Martha Isabel Ruiz Corzo, ativista de conservação comunitária do México (2013).

Desde que a Patagonia foi fundada em 1973 pelo renomado ambientalista e empresário Yvon Chouinard, a marca de roupas de aventura dos EUA conquistou elogios por suas cadeias de abastecimento sustentáveis e pela defesa do meio ambiente. A empresa atualizou recentemente sua declaração de missão para refletir a urgência da crise ambiental: "Estamos no negócio para salvar nosso planeta".
A Patagonia foi escolhida como Campeã da Terra na categoria Visão Empreendedora, devido a uma combinação dinâmica de políticas que coloca a sustentabilidade no centro de seu modelo bem-sucedido de negócios.
De uma pequena fábrica de ferramentas para alpinistas, a Patagonia se tornou líder global em sustentabilidade. Seu esforço para preservar os ecossistemas do planeta percorre todo o negócio, dos materiais utilizados na fabricação de seus produtos à doação de dinheiro para causas ambientais.
A Patagonia se descreve como A Empresa Ativista e é clara sobre seus objetivos: “Na Patagonia, levamos em consideração que toda a vida na Terra está ameaçada de extinção. Nosso objetivo é usar os recursos que temos - nossos negócios, nossos investimentos, nossa voz e nossa imaginação - para fazer algo a respeito”.
Quase 70% dos produtos da Patagônia são feitos de materiais reciclados, incluindo garrafas plásticas, e o objetivo é usar 100% de materiais renováveis ou reciclados até 2025. A empresa também usa cânhamo e algodão orgânico. Ela está comprometida com a simplicidade, a utilidade e a durabilidade - um empreendimento inovador em um mundo onde a fast fashion é a norma para muitas empresas e consumidores.
A Patagonia criou o programa Worn Wear para incentivar os consumidores a consertarem e reciclarem seus produtos, contrapondo a cultura da moda rápida, que mantêm consumidores presos em um ciclo vicioso de consumo e desperdício.
A Patagônia também investe no futuro. Desde 1986, a empresa contribuiu com pelo menos 1% das vendas anuais para a preservação e restauração de áreas naturais. Em 2002, Chouinard e Craig Mathews, fundador da Blue Ribbon Flies, criaram uma organização sem fins lucrativos chamada 1% for the Planet, para incentivar outras empresas a fazerem o mesmo.
Graças ao seu compromisso de 1%, a Patagonia forneceu mais de US$ 100 milhões para organizações de base e ajudou a treinar milhares de jovens ativistas nos últimos 35 anos.
Em 2018, a Patagônia disse que daria mais US$ 10 milhões, economizados em um corte de impostos federais de 2017, a grupos de base que defendem o ar, a água e a terra do planeta, bem como aos envolvidos no movimento de agricultura orgânica regenerativa - uma abordagem holística ao cultivo que prioriza a saúde do solo e a captura de carbono da atmosfera.
A Patagônia está trabalhando com cerca de 100 pequenos agricultores que cultivam algodão usando práticas regenerativas na Índia, e planeja expandir esse número para 450. Os agricultores controlam pragas com armadilhas e arrancam ervas daninhas e colhem o algodão manualmente. A agricultura regenerativa há tempos tem sido uma prioridade para a Patagonia, tanto por meio de suas roupas quanto por sua linha de produtos alimentícios, Patagonia Provisions, que têm como objetivo remodelar a cadeia alimentar.
Como parte de sua agenda de defesa de questões ambientais, a empresa também criou o Patagonia Action Works, que conecta indivíduos comprometidos a organizações que trabalham com questões ambientais na mesma comunidade.
O Prêmio Campeões da Terra é a maior homenagem ambiental das Nações Unidas. Foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2005 para comemorar figuras de destaque cujas ações tiveram um impacto positivo e transformador para o meio ambiente. De líderes mundiais a defensores ambientais e inventores de tecnologia, os prêmios reconhecem pioneiros que estão trabalhando para proteger nosso planeta para as próximas gerações.
Os vencedores anteriores na categoria Visão Empresarial incluem o Aeroporto Internacional de Cochin, na Índia, o primeiro aeroporto de energia solar do mundo (2018); Paul Polman, ex-CEO da Unilever (2015); e o Green Building Council dos EUA, uma organização privada sem fins lucrativos que está transformando edifícios em todo o mundo (2014).
Em 2017, a Patagônia recebeu o prêmio Accenture Strategy de Economia Circular Multinacional no Fórum Econômico Mundial em Davos por impulsionar a inovação e o crescimento enquanto trabalha para reduzir a dependência de recursos naturais escassos.

Se uma imagem vale mais que mil palavras, para Maria Kolesnikova, Campeã da Terra deste ano na categoria Visão Empreendedora, uma imagem valeu um início de todo um movimento.
Era 2016 e Kolesnikova, uma profissional de Relações Públicas com 28 anos na época, era voluntária para a MoveGreen, uma organização ambiental liderada por jovens na República do Quirguistão.
Ali, uma pessoa mostrou a Kolesnikova uma foto de Bishkek, tirada de cima das montanhas que cercam a capital quirguistanêsa. "Só que não se podia ver a cidade", disse Maria. "Bishkek estava coberta por um manto cinza. Não sabíamos como chamar aquilo; mas sabíamos que era algo muito ruim”.
Bishkek, lar de cerca de 1 milhão de pessoas, está entre as cidades com o ar mais poluído no mundo. Durante o inverno, está sempre coberta por uma cúpula de neblina e fumaça que têm origem no meio ambiente — a cidade é, em média, 5 °C mais quente que o entorno — e na fumaça do carvão usado para aquecer a maioria das casas.
"Queríamos entender mais sobre o que estava no ar que respirávamos e quais dados a cidade coletava para tentar melhorar a situação", disse Kolesnikova. "Mas não encontrávamos dados relevantes atualizados - ou não estavam sendo coletados, ou não estavam sendo compartilhados. Então, decidimos produzir os dados nós mesmos.”
Um começo modesto
A MoveGreen começou com apenas três sensores que mediam a qualidade do ar, na prática, por meio do monitoramento, pela primeira vez na República do Quirguistão, dos níveis do material particulado fino (MP 2,5 ou PM 2,5, em inglês) — produzido pela queima de carvão e outros combustíveis, pela combustão e pela poeira. Em concentrações elevadas, as partículas finas podem causar inflamação nos pulmões e outras doenças respiratórias. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição atmosférica causa até 7 milhões de mortes por ano.
Quando as primeiras estatísticas chegaram, Kolesnikova e a equipe da Movegreen tomaram uma decisão corajosa. Lançaram a campanha “School Breathes Easily” (“Escola Respira Mais Fácil”, na tradução literal), levando a mensagem para uma população que estava pronta para escutá-la: as crianças em idade escolar de Bishkek. Mundialmente, 93% das crianças vivem em ambientes onde os níveis de poluição do ar estão acima das orientações da OMS. Cerca de 600 mil morrem prematuras por ano devido à poluição atmosférica, sendo que a exposição ao ar poluído também pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo e motor e colocar as crianças em maior risco de doenças crônicas numa fase posterior da vida.
Em Bishkek, os sensores que medem a qualidade do ar foram instalados em escolas para que as janelas nas salas de aulas sejam mantidas fechadas quando houver muita poluição. Os professores também usam os dados para avisar os pais sobre como evitar que seus filhos ficassem expostos às partículas finas. Hoje, existem mais de 100 sensores instalados na cidade e na região.
O sucesso da campanha nas escolas motivou Kolesnikova, que nessa época já estava no cargo de diretora da MoveGreen. Coletar os dados não era suficiente; era necessário um movimento para convencer tomadores de decisões a melhorar a qualidade do ar de Bishkek.
A Movegreen desenvolveu um aplicativo, disponível globalmente agora, chamado Aba.kg, um coletor e transmissor de dados em tempo real sobre a qualidade do ar. A plataforma agrega dados a cada 20 minutos das duas maiores cidades do Quirguistão, Bishkek e Osh, sobre a concentração de poluentes no ar, incluindo o dióxido de nitrogênio, o MP 2,5 e seu primo maior, o MP 10.
“Nossos dados já foram questionados, nossos métodos já foram questionados — por aqueles que dizem que dados monitorados por cidadãos não são confiáveis”, disse Kolesnikova. "Mas continuamos fazendo reuniões e insistindo, até que, agora, eles nos escutam. O resultado do nosso trabalho têm sido a conexão com o governo para melhorar o monitoramento ambiental em Bishkek e realizar um trabalho melhor de monitoramento e redução de emissões".
“O trabalho da Kolesnikova reflete como indivíduos e cidadãos podem impulsionar mudanças ambientais utilizando o poder da ciência e dos dados”, disse Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. “Muitas vezes, as pessoas se perguntam se há algo que possam fazer para combater a poluição, as mudanças climáticas e outras ameaças ao planeta. Maria Kolesnikova prova que sim. Sua dedicação é notável e mostra que todos e todas podemos desempenhar um papel para levar o planeta rumo a um futuro melhor”.
Planos futuros
Os planos da MoveGreen para os próximos meses incluem a convocação de políticas ao nível municipal e nacional para desenvolver projetos de lei que requerem sessões regulares de informação pública sobre os resultados das medições da qualidade do ar. A República do Quirguistão se comprometeu com metas globais para combater a mudança climática, entre elas, uma meta incondicional de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em mais de 16% até 2025.
Existem enormes oportunidades para fontes alternativas de energia; apenas 10% do potencial hidrelétrico do Quirguistão tem sido explorado e outras opções de energia renovável poderiam envolver o aumento do fornecimento de aquecimento e eletricidade provenientes de energia eólica ou solar e do biogás.
Segundo a ativista, se houvesse mais investimento em ciência no Quirguistão, o país conseguiria projetar suas próprias soluções e criar uma sociedade ecológica em harmonia com a natureza ao seu redor, inclusive com as montanhas tanto ama.
Como a poluição do ar não tem fronteiras, Kolesnikova e MoveGreen estão entrando em acordos regionais com outros países da Ásia Central. O objetivo da ativista é convencer os seis Estados da região a colaborar em formas de combater a poluição do ar em suas cidades emergentes. A implantação de sistemas e padrões para avaliar a qualidade do ar será fundamental. Um estudo recente do PNUMA constatou que apenas 57 países acompanham constantemente a qualidade do ar, enquanto 104 não dispõem de infraestrutura de monitoramento.
Kolesnikova diz que é movida pelo desejo de fazer do mundo um lugar melhor. “Muitas vezes, você pode se sentir desmotivada como ativista — você trabalha tão duro, não quer mais continuar. Mas então você percebe, não. Alguém tem que assumir a responsabilidade pelo futuro. Por que não eu?”
Os Campeões e os Jovens Campeões da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconhecem indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador no meio ambiente. Entregue anualmente, o prêmio é a maior honraria ambiental da ONU.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos de 2021 a 2030 como a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com o apoio de parceiros, a Década foi concebida para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas no mundo inteiro. O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, cobrindo tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Um chamado global à ação, a convocação reúne apoio político, pesquisa científica e força financeiro para intensamente ampliar a restauração. Para saber mais, acesse: https://www.decadeonrestoration.org/pt-br/
O painel de controle da poluição do ar do PNUMA fornece dados em tempo real sobre a poluição do ar em todo o mundo, seu impacto na saúde humana e os esforços nacionais para lidar com esse problema

O aeroporto de Cochim, na região de Kerala, sudoeste da Índia, é o primeiro aeroporto do mundo inteiramente abastecido por energia solar. Todas as suas operações são feitas a partir de energia solar. O maior e mais movimentado aeroporto do estado de Kerala, na Índia, e o quarto aeroporto mais movimentado da Índia em termos de tráfego internacional, o Aeroporto Internacional de Cochim tornou-se o primeiro do mundo totalmente movido à energia solar em 2015 - um projeto pioneiro do Diretor Geral Vattavayalil Joseph Kurian.

Talvez tenha sido aquele macaco da vizinha que decidiu juntar-se a ela na aula de piano ou a festa de animais selvagens que aconteceu em uma escola primária em Kampala, Uganda. Mas desde pequena, a Dra. Gladys Kalema-Zikusoka, Campeã da Terra deste ano na categoria Ciência e Inovação, sabia que queria trabalhar com animais.
“Basicamente, os animais de estimação foram meus primeiros amigos”, disse Kalema-Zikusoka, veterinária de vida selvagem, que passaria três décadas ajudando a proteger alguns dos primatas mais raros do mundo, incluindo o gorila-das-montanhas, que está ameaçado de extinção. Grande parte de seu trabalho tem focado em comunidades vulneráveis da África Oriental que cercam áreas protegidas. Nesses grupos, ela auxiliou na melhora da rede de saúde e na geração de oportunidades, o que tornou muitas pessoas locais parceiras na conservação.
“Gladys Kalema-Zikusoka é uma pioneira na conservação comunitária da vida selvagem”, afirma Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. "Em muitos lugares, as pressões econômicas podem gerar tensões entre seres humanos e animais. Mas o trabalho de Gladys tem mostrado como as comunidades locais podem superar o conflito e assumir a liderança na proteção da natureza e da vida selvagem que as cercam, gerando benefícios para todas as espécies”.
Com apoio de sua família, Kalema-Zikusoka embarcou em uma aventura mundial para sua educação, colecionando diplomas de Uganda, do Reino Unido e dos Estados Unidos. No início dos seus 20 anos, ela retornou para Uganda para um estágio onde seria seu futuro local de trabalho, o Parque Nacional Impenetrável de Bwindi, localizado em uma região vulnerável e remota do sudoeste ugandense.
Era o início do turismo de gorilas em Bwindi e Kalema-Zikusoka, ainda uma jovem estudante de veterinária, percebeu que a conservação não era um processo fácil. “Havia pessoas focadas no turismo e pessoas focadas na conservação comunitária", lembra a veterinária. “Tinha administradores, guardas florestais e o Corpo da Paz, além de pousadas, e ao final do meu período lá, eu pude entender quão complexos o turismo e a conservação podem ser”.
Kalema-Zikusoka tornou-se a primeira veterinária de vida selvagem da Uganda Wildlife Authority (Autoridade da Vida Selvagem de Uganda, em tradução literal). Nesse órgão, começou a adotar uma nova abordagem para o trabalho com a vida selvagem — centrada em melhorar a vida e subsistência das vilas remotas de cercam Bwindi.
“[Isso faz com que] a humanidade possa dispor de uma melhor qualidade de vida e ser mais positiva sobre a conservação. Quando você demonstra às pessoas que se importa com elas e com sua saúde e bem-estar, você as ajuda a conviver melhor com a vida selvagem”.
Esse é o princípio por trás da organização fundada pela veterinária há quase 20 anos: a Conservation Through Public Health (Conservação por Meio da Saúde Pública, em tradução literal). A organização já expandiu seu modelo de saúde comunitária em áreas protegidas para o Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo, e também para duas áreas no Parque Nacional do Monte Elgon. Além de promover práticas de higiene e saneamento, o grupo também ajuda no planejamento familiar.
Considerar a interação entre seres humanos e vida selvagem, bem como a propagação de zoonoses entre as duas populações, foi fundamental para Kalema-Zikusoka quando assumiu um papel maior na orientação da resposta do governo ugandense à pandemia de COVID-19.
Os lockdowns globais prejudicaram a indústria do turismo no sudoeste de Uganda, o que forçou algumas pessoas a retornarem a uma ocupação particularmente problemática: a caça furtiva. Isso representou um risco para os avanços cuidadosos feitos na restauração da população de gorilas-das-montanhas em Bwindi, que tem crescido constantemente, atingindo mais de 400 primatas. Esse número representa quase metade da população da espécie ameaçada de extinção que ainda vivem na natureza.
A Conservação por Meio da Saúde Pública forneceu cultivos de rápido crescimento às famílias, permitindo-lhes ao menos cultivar alimentos suficientes para comerem. Uma mensagem importante também foi deixada para a comunidade. “Nós dissemos a eles: vocês precisam continuar a proteger a vida selvagem porque ela tem ajudado em tudo isto. Isto é o seu futuro”.
O conflito entre pessoas e animais é uma das principais ameaças à sobrevivência a longo prazo de algumas das espécies mais emblemáticas do mundo, de acordo com um relatório recente da World Wide Fund for Nature (WWF) e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Em muitos países como Uganda, o conflito, aliado aos riscos sanitários da COVID-19, fez com que espécies ameaçadas ficassem ainda mais perto da extinção.
Kalema-Zikusoka trabalhou com a equipe do parque nacional para incentivar os visitantes e guardas-florestais a usar máscaras, não apenas para impedir a transmissão COVID-19 entre eles, mas também para proteger os gorilas, que podem ser infectados por patógenos de origem humana. Esse trabalho resultou em protocolos destinados ao controle da propagação de zoonoses — contágios entre humanos e animais — e no treinamento de profissionais de saúde locais para combater a COVID-19. Agora, 21 países da África — incluindo os 13 Estados que abrigam populações decrescentes de grandes primatas — já assinaram as diretrizes.
“Estamos realmente adaptando o modelo de prevenção de zoonoses à prevenção de COVID-19”, disse Kalema-Zikusoka. A Conservação por Meio da Saúde Pública também analisa formas de diversificar as fontes de renda das comunidades locais que compartilham o espaço com a vida selvagem. O projeto mais recente da organização é o Café de Conservação dos Gorilas, um empreendimento social. A equipe ensina os agricultores das redondezas de Bwindi a cultivar grãos de café de alta qualidade com economia de água e fertilizantes orgânicos. “Agora, estamos trabalhando em investimentos que façam impacto”, afirma a veterinária. “Tudo se trata da importância do financiamento sustentável da conservação”.
Reconhecida mundialmente, Kalema-Zikusoka diz que tem esperança de que ela inspire outros jovens africanos a se profissionalizar na área de conservação. “Há uma falta de representação local de conservacionistas. Poucos vêm de lugares onde se encontra os animais ameaçados", disse a veterinária. “Precisamos de mais campeões e campeãs locais, porque essas são as pessoas que se tornarão responsáveis pelas decisões de suas comunidades e países”.
Os prêmios Campeões da Terra e Jovens Campeões da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconhecem indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador no meio ambiente. Entregue anualmente, o prêmio é a maior honraria ambiental da ONU.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos de 2021 a 2030 como a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com o apoio de parceiros, a Década foi concebida para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas no mundo inteiro. O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, cobrindo tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Um chamado global à ação, a convocação reúne apoio político, pesquisa científica e força financeiro para intensamente ampliar a restauração. Para saber mais, acesse: https://www.decadeonrestoration.org/pt-br/

Para a maioria das pessoas, nadadeiras, máscaras e roupas de neoprene são equipamentos recreativos. Porém, para o grupo sem fins lucrativos Mulheres do Mar da Melanésia, Campeãs da Terra deste ano na categoria Inspiração e Ação, esses são materiais de transformação.
Revestidas por equipamento de mergulho, a equipe de mais de 30 integrantes mapeia a saúde dos delicados recifes de corais que cercam a Melanésia, um conjunto de Estados insulares no sul do Pacífico. O objetivo: ensinar técnicas de mergulho e conhecimentos de biologia às mulheres para monitorem a saúde dos recifes e criem e restaurem áreas de proteção marinha.
“Lembro-me da primeira vez que estive em uma vila de pescadores para tentar recrutar algumas mulheres para o nosso programa”, recorda Israelah Atua, integrante da Mulheres do Mar. “Elas nem queriam nos ouvir. Mas nós as convencemos de que a conservação marinha é necessária para proteger nossa subsistência”.
As Mulheres do Mar da Melanésia trabalham no chamado Triângulo de Corais, uma área que cobre cerda de 5,7 milhões de km² entre a Grande Barreira de Corais e os arquipélagos da Melanésia e do sudeste Asiático. Rica em biodiversidade marinha, a região é um dos principais destinos para o turismo náutico, além de ser o lar de uma grande indústria pesqueira. Também é particularmente ameaçada pelo crescimento populacional e por níveis elevados de resíduos.
Os recifes de coral em todo o mundo são reféns das mudanças climáticas, da pesca excessiva e da poluição. De 2009 até hoje, quase 14% dos corais do mundo desapareceram, de acordo com um relatório recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Muitos dos que permanecem estão em perigo.
Recifes saudáveis são fundamentais para enfrentar os impactos da mudança climática, entre eles, a acidificação dos oceanos e os eventos extremos. Mas o relatório mostra que, a menos que sejam tomadas medidas drásticas para limitar o aquecimento global a 1,5°C, os corais vivos nos recifes poderão diminuir de 70 a 90% até 2050.
A boa notícia é que esses ecossistemas são resistentes e podem se recuperar caso o ambiente marinho seja protegido. A iniciativa Mulheres do Mar, dirigida pela Coral Sea Foundation, atua desde 2018 nas Ilhas Salomão e na Papua-Nova Guiné para promover a restauração dos recifes de coral e apoiar o estabelecimento de áreas de exclusão à pesca. Também apoia áreas marinhas protegidas nos dois países, para garantir a existência de peixes em abundância para a vida futura das comunidades.
As Mulheres do Mar simultaneamente mudam as narrativas do papel das mulheres na comunidade e as fornecem oportunidades de liderança.
“Ter uma mulher na comunidade que defenda o processo de estabelecimento das reservas marinhas e a conservação, em uma linguagem local, é importante para que as mensagens iniciais sobre a importância de áreas de proteção marinha sejam transmitidas”, disse Andy Lewis, diretor executivo da Coral Sea Foundation. “Nenhum trabalho de conservação pode ser feito nesses países sem o reconhecimento explícito da cultura indígena”.
Para as Mulheres do Mar, a combinação do conhecimento indígena com a ciência é essencial para o engajamento nas comunidades. O aprendizado que se obtém com a comunidade sobre onde os peixes estão presentes em certos períodos do ano, a relação entre a cor dos corais e os dados levantados com a pesquisa ou sobre como a maré pode mudar conforme a mudança climática é importante para ampliar o alcance do grupo e demonstrar o valor da preservação e das áreas marinhas protegidas.
Em compensação, dizem as Mulheres do Mar, elas desafiam as convenções indígenas sobre o papel da mulher no lar, na comunidade e na sociedade.
“Quando você treina uma mulher, você treina uma sociedade”, disse Evangelista Apelis, Mulher do Mar e codiretora do programa em Papua-Nova Guiné. “Estamos tentando instruir as mulheres, e envolvê-las, para que depois possam retornar e causar um impacto em suas próprias famílias e em sua sociedade também”.
As Mulheres do Mar passam por um rigoroso treinamento em biologia marinha, complementado por uma formação prática em técnicas de inspeção de recifes e ecologia de recifes de corais. Depois, aprendem a mergulhar.
“O que mais amo no meu trabalho é poder nadar e vivenciar a beleza do mundo subaquático”, afirma Apelis. “Antes de mergulhar, você imagina todo o tipo de coisa, mas a realidade é ainda mais hipnotizante — os peixes, os naufrágios… é como se tudo tivesse acabado de ganhar vida”. Todas as Mulheres do Mar são apoiadas por meio de certificação em mergulho reconhecida internacionalmente e são ensinadas a usar GPS, câmeras subaquáticas e vídeos para pesquisar as populações de peixes e corais nos recifes do Triângulo de Corais. O trabalho do grupo desde 2018 já resultou em propostas para mais de 20 novas áreas marinhas protegidas nas águas de Papua-Nova Guiné e das Ilhas Salomão.
“Os recifes de coral são um santuário para a vida marinha e sustentam a economia de diversas comunidades litorâneas", disse Inger Anderson, Diretora Executiva do PNUMA. “Os recifes de coral são vitais para o futuro do nosso planeta e o trabalho feito pelas Mulheres do Mar para proteger estes belos e diversos ecossistemas é absolutamente inspirador”.
Para Naomi Longa, líder de equipe da Mulheres do Mar na província de Papua-Nova Guiné, na Nova Bretanha Oriental, ajudar a criar reservas marinhas significa que ela não é apenas uma liderança em sua comunidade, mas também uma guia para o futuro. Como as pressões populacionais na terra aumentam a pressão sobre o mar, o programa de reservas marinhas é um investimento no bem-estar a longo prazo para as comunidades vulneráveis a tensões e impactos.
"Estamos, na verdade, conservando alimentos para gerações futuras", disse Longa. “Há espécies morrendo, portanto, essas que vivem em reservas marinhas podem ser as únicas remanescentes quando nossas gerações futuras nascerem”.
Os prêmios Campeões da Terra e Jovens Campeões da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconhecem indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador no meio ambiente. Entregue anualmente, o prêmio é a maior honraria ambiental da ONU.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos de 2021 a 2030 como a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com o apoio de parceiros, a Década foi concebida para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas no mundo inteiro. O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, cobrindo tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Um chamado global à ação, a convocação reúne apoio político, pesquisa científica e força financeiro para intensamente ampliar a restauração. Para saber mais, acesse: https://www.decadeonrestoration.org/pt-br/

Ainda quando criança, David Attenborough passava grande parte do seu tempo livre atravessando pedreiras abandonadas na zona rural inglesa, com um martelo na mão. Sua presa: amonites e moluscos em forma de espiral fossilizados que viveram na época dos dinossauros.
Para aquele jovem Attenborough, os fósseis eram como tesouros enterrados, ele ficava maravilhado em ser o primeiro a encontrá-los em dezenas de milhões de anos.
O mundo natural o manteve fascinado pelo resto de sua vida.
Hoje, Attenborough, com 95 anos, é sem dúvida o apresentador sobre história natural mais conhecido do mundo. Durante uma carreira que teve início no berço da televisão, o naturalista escreveu e apresentou alguns dos documentários mais influentes sobre o estado do planeta, incluindo a série de nove partes "Life", que durou uma década.
Com o que o New York Times chamou de sua "voice-of-God-narration" (uma “narração na voz de Deus" na tradução literal) e uma curiosidade insaciável, o apresentador passou 70 anos revelando a beleza do mundo natural — e expondo as ameaças que a natureza enfrenta. Ao longo do caminho, ele tem mostrado a centenas de milhões de telespectadores uma perspectiva de um futuro mais sustentável.
“Se o mundo deve, de fato, ser salvo, então Attenborough terá atuado mais para salvação do que qualquer outra pessoa que já tenha vivido”, escreveu o ambientalista e escritor Simon Barnes.
As Nações Unidas reconheceram o impacto abrangente de Attenborough no movimento ambiental global, entregando-lhe o Prêmio Campeões da Terra na categoria Realizações em Vida. Este prêmio é a maior honraria ambiental da ONU e celebra aquelas pessoas que dedicaram suas vidas ao combate de crises como a mudança climática, a perda de espécies e a poluição.
“Você tem sido uma inspiração extraordinária para tantas pessoas”, disse Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), ao entregar o prêmio a Attenborough.
"Você defendeu o planeta muito antes de qualquer outra pessoa e você continua nos provocando".
Além de seu trabalho na mídia, Attenborough é uma das vozes líderes do movimento ambientalista global. Ele participou de cúpulas históricas, como a Conferência sobre Mudanças Climáticas de Paris em 2015, na qual reivindicou um esforço global unificado para combater as ameaças à Terra.
Ele também tem colaborado com o PNUMA há pelo menos quatro décadas, cedendo sua voz a uma série de campanhas e curtas-metragens que têm dado destaque aos esforços da organização para combater a crise climática, a perda da biodiversidade e a poluição. Esse trabalho é motivado pela crença de que nenhum país sozinho pode resolver os males ambientais do planeta.
“Vivemos em uma era na qual apenas o nacionalismo não é suficiente”, afirmou Attenborough ao aceitar o prêmio Campeões da Terra do PNUMA na categoria Realizações em Vida. "Precisamos sentir que somos todos cidadãos deste único planeta. Se agirmos juntos, podemos resolver esses problemas.”
Attenborough se formou em ciências naturais na Universidade de Cambridge em 1947, mas logo descobriu que não tinha disposição para uma vida de pesquisa. Assim, entrou na empresa de comunicação British Broadcasting Corporation (BBC) no momento em que as televisões chegavam aos lares.
Sua primeira aparição na TV ocorreu em 21 de dezembro de 1954, no Zoo Quest, uma série que apresentou as criaturas exóticas aos britânicos curiosos, como orangotangos e dragões de Komodo.
Sendo talentoso tanto como administrador quanto como apresentador, Attenborough viria a ascender na emissora nacional britânica até obter o comando do canal BBC Two. Foi então que iniciou produções como a série Monty Python's Flying Circus, entre outras.
Mas a administração do canal realmente não era ideal para ele. Por isso, em 1973 Attenborough deixou a equipe executiva para voltar a fazer filmes.
O resultado foi a produção da série marcante de 1979, Life on Earth, uma obra épica que traçou a história da vida na Terra, desde os primeiros microorganismos até o surgimento da humanidade.
A série precisou de três anos para ser produzida e Attenborough viajou quase 2.500 km durante as filmagens. Com seu escopo e ambição, a série redefiniu os registros da história natural e obteve uma audiência de cerca de 500 milhões de pessoas.
Durante as três décadas seguintes, Attenborough escreveu e apresentou mais oito grandes documentários, concentrando a atenção do mundo no que chamou de “a maravilha espetacular” da natureza.
Mas à medida que sua carreira progrediu, o apresentador passou a testemunhar a decadência do mundo natural. Com o crescimento da presença da humanidade, a natureza desapareceu. A atividade humana alterou três quartos da superfície da Terra e colocou 1 milhão de espécies sob risco de extinção.
“Embora sejamos imensamente poderosos hoje, é igualmente evidente que seremos ainda mais poderosos amanhã”, afirmou ele na conclusão da série de documentários "The Living Planet" de 1984. “É evidente que poderíamos devastar o mundo. A sobrevivência contínua [da Terra] agora está nas nossas mãos”.
Os filmes de Attenborough mostraram ao mundo que a natureza não é infinita, que ela é delicada e precisa de proteção — e que a humanidade se distanciava perigosamente dela.
No ano passado, em meados dos seus 90 anos, ele discursou aos líderes mundiais na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática em Glasgow, Escócia.
“Já estamos em apuros”, alertou. “É assim que nossa história termina? Um conto sobre como as espécies mais espertas foram condenadas por aquela característica demasiada humana de não ver o panorama geral por visar objetivos de curto prazo”.
Mas então, como de costume, as palavras de Attenborough foram tocadas pelo otimismo. Um tema recorrente de seus filmes é que, apesar do estado lamentável do planeta, a humanidade ainda pode reparar os danos causados.
“Nem tudo é desgraça e tristeza”, declarou em A Life on Our Planet de 2020, com um olhar retrospectivo sobre sua carreira. “Há uma chance que nos permite fazer reparações, completar nossa jornada de desenvolvimento e mais uma vez nos tornarmos uma espécie em equilíbrio com a natureza. Tudo o que precisamos é da vontade de alcançar isso".
Neste mesmo filme, ele propôs uma fórmula para fazer as pazes com a natureza. O objetivo era elevar o padrão de vida nos países mais pobres para conter o crescimento populacional, dedicando-se à energia limpa, como a energia solar e eólica, à alimentação mais baseada em vegetais, que é mais leve para o planeta, e ao abandono dos combustíveis fósseis.
“Se cuidarmos da natureza, a natureza cuidará de nós”, disse. “Agora é hora de nossa espécie parar de apenas crescer e estabelecer uma vida em nosso planeta em equilíbrio com a natureza, para começar a prosperar”.
O trabalho e ativismo de Attenborough foram condecorados (duas vezes) e seu nome cunhou a designação de dezenas de espécies, desde attenborosaurus (um réptil nadador pré-histórico) até nepenthes attenboroughii (uma planta carnívora).
Nos últimos anos, Attenborough continuou a dar sua voz aos documentários de história natural, com duas indicações ao Emmy em 2021 na categoria de narração. (Em sua carreira, ganhou três Emmys e oito BAFTAs).
Há décadas, Attenborough tem sido procurado por líderes mundiais que buscam por soluções para as crises que o mundo natural enfrenta — e talvez queiram um pouco do entusiasmo do naturalista.
Em 2015, ele visitou a Casa Branca para uma conversa com o Presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Obama perguntou a Attenborough o que desencadeou seu "profundo fascínio" pelo mundo natural.
"Nunca conheci uma criança que não estivesse interessada na história natural", respondeu ele, talvez relembrando seus dias de caça aos fósseis no interior da Inglaterra. "Então, a pergunta é: como alguém pode perder esse interesse?"
