RELATÓRIO FRONTEIRAS 2022

Desde 2016, os Relatórios Fronteiras do PNUMA têm dado destaque às questões ambientais emergentes. A edição deste ano, Barulho, Chamas e Descompasso, aborda três preocupações: paisagens sonoras urbanas, incêndios florestais e mudanças fenológicas.

EXPLORAR Recomendamos o uso de fones de ouvido para uma melhor experiência

Escutar as cidades

É fácil ignorar a poluição sonora. Mas sons, como alarmes de trânsito, construção e segurança – coletivamente conhecidos como paisagens sonoras urbanas –, podem causar problemas de saúde física e mental a longo prazo. Para comprovar isso, ouça da perspectiva de quatro grandes cidades. Clique nos ícones para ouvir mais.

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Nova Iorque
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Mais de dois milhões de pessoas se deslocam por transporte público nas áreas metropolitanas de Nova Iorque. Nove em cada dez usuários de transporte coletivo na cidade de Nova York estão expostos a níveis de ruído que excedem o limite recomendado de 70 dB e correm o risco de sofrer perda auditiva irreversível.
Cidade de Ho Chi Minh
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Um estudo que acompanhou ciclistas que percorriam mais de 1.000 km na maior cidade do Vietnã revelou que estão expostos a níveis de ruído de mais de 78 dB, o que poderia prejudicar a audição.
Bogotá
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Um estudo sobre o canto do amanhecer do pássaro conhecido como tico-tico revelou que as aves começaram a cantar de manhã cedo em antecipação ao horário de pico do trânsito.
Toronto
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Dois estudos constataram que a exposição ao ruído do trânsito aumentou o risco de ataques cardíacos e de insuficiência cardíaca congestiva, e aumentou a incidência de diabetes mellitus em 8% e de hipertensão em 2%.

Escutar as cidades

É fácil ignorar a poluição sonora. Mas sons, como alarmes de trânsito, construção e segurança – coletivamente conhecidos como paisagens sonoras urbanas –, podem causar problemas de saúde física e mental a longo prazo. Para comprovar isso, ouça da perspectiva de quatro grandes cidades. Clique nos ícones para ouvir mais.

Qual é o problema?

A poluição sonora é uma questão global. Mais da metade dos residentes das grandes cidades europeias, por exemplo, vivem em áreas onde os níveis de ruído afetam negativamente a saúde. Sons ambientes de 60 dB são o suficiente para aumentar a freqüência cardíaca e a pressão arterial e causar uma perda de concentração e sono.

O layout das cidades e o projeto dos edifícios têm um papel fundamental na distribuição dos ruídos. Os moradores com menor renda, que vivem em habitações de má qualidade, estão mais expostos ao ruído do trânsito.

Como resolver esse problema?

Muitas das soluções são encontradas na natureza.

A vegetação em ambientes urbanos, como telhados preenchidos com plantas, pode absorver energia sonora e difundir o ruído. Cinturões de árvores, arbustos, paredes e telhados verdes permitem amplificar os sons naturais, atraindo a vida selvagem urbana.

Os espaços verdes urbanos, como os parques públicos, oferecem um alívio acústico aos habitantes da cidade. Sons naturais agradáveis, como os das folhas e dos pássaros, podem produzir efeitos psicológicos positivos, como a redução do estresse.

Os urbanistas precisam considerar os benefícios dos espaços verdes para a saúde e garantir que as árvores sejam utilizadas como barreiras sonoras naturais.

Atribuições:

Zena Kells: Produtora de áudio 

Escutar as cidades

Sergey Shepelev - Subway sax 3

Lance Eaton - Subway Arriving at Harvard Station

David A. Palomares - New York MTA L train arrives and departs subway station

freetousesounds - Subway Station, People Walking, Chatting, Train Arrives, Door Open,  Footsteps, Beeping, Gates Open, New York City, USA, Zoom H3VR, 9624

bmoreno - 0025 Metro_ticket_beep

edbles - metrocardswipe

SpliceSound - Subway, card swipe, double beep and turnstile

Speeder84XL - New York subway - 50 street (up town E-trains), 3D sound

Jeff L - Typical intersection in Saigon AKA Ho Chi Minh City

freetousesounds - Ultimate Sound Compilation Ho Chi Minh City

bertzooi - Traffic in Saigon

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Incêndios Florestais

A mudança climática e a atividade humana estão aumentando o risco de incêndios maiores e mais destrutivos que causam danos à propriedade, perda de vidas humanas, afetam nossa saúde e têm um impacto devastador sobre o meio ambiente. Aqui são destacados os relatos de apenas um país, mas os incêndios florestais afetam pessoas em todo o mundo. Clique nos rostos para ouvir histórias sobre o impacto dos incêndios florestais.

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Andrew Dowdy
Universidade de Melbourne, Austrália
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Andrew Dowdy, Universidade de Melbourne, Austrália - Andrew é o cientista principal do capítulo sobre incêndios florestais do Relatório Fronteiras 2022. A pesquisa de Andrew tem como foco fenômenos climáticos extremos e inclui escalas de tempo desde as condições de curto prazo até as influências da mudança climática a longo prazo.
Steve Noakes
Binna Burra Lodge, Gold Coast, Austrália
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Cercado por terras de interior tropicais, nunca se pensou que este patrimônio ecológico de 86 anos estaria ameaçada por incêndios florestais. Entretanto, em 2019, o inimaginável aconteceu.
Amber McDonald
Wollongong, Austrália
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Gravemente afetada pela fumaça do fogo, a filha de Amber nasceu prematura e com atrofia de crescimento. Foram necessários mais de dois anos para que Saga Snow atingisse marcos "normais" de desenvolvimento.

Incêndios Florestais

A mudança climática e a atividade humana estão aumentando o risco de incêndios maiores e mais destrutivos que causam danos à propriedade, perda de vidas humanas, afetam nossa saúde e têm um impacto devastador sobre o meio ambiente. Aqui são destacados os relatos de apenas um país, mas os incêndios florestais afetam pessoas em todo o mundo. Clique nos rostos para ouvir histórias sobre o impacto dos incêndios florestais.

O verão de 2021 no hemisfério norte foi marcado por incêndios catastróficos na Grécia, Itália, Turquia e América do Norte, um fenômeno que está se tornando cada vez mais comum à medida que a mudança climática se acelera.

Incêndios florestais naturais ocorrem quando três elementos se combinam:
Ignição: calor do sol ou um relâmpago para acende uma faísca.
Combustível: material combustível suficiente para alimentar o fogo.
Clima::condições como temperatura, vento e umidade relativa permitem que o fogo se propague.

Há três tipos de incêndios florestais::
Incêndios de Copa: ascendem do solo até a copa das árvores e podem se espalhar por meio das copas. A forma mais intensa e perigosa de incêndio florestal, são comuns em florestas de clima mediterrâneo e florestas boreais.
Incêndios superficiais: queimam por meio serrapilheira, resíduos orgânicos e vegetação no solo e são mais comuns em bosques e savanas.
Incêndios subterrâneos: decompõem camadas subsuperficiais orgânicas do solo e geralmente não produzem chamas visíveis. Difíceis de conter totalmente, elas podem queimar sem chamas durante o inverno e reaparecer na primavera.

Que danos causam os incêndios florestais?

Os incêndios florestais causam enormes danos à propriedade e à vida humana, pois emitem grandes quantidades de poluentes atmosféricos, tais como carbono negro, material particulado e gases de efeito estufa. Parte dessa fuligem pode ser transportada por longas distâncias e depositada em paisagens remotas, inclusive em geleiras. Isso pode reduzir a capacidade da superfície da Terra de refletir a luz solar, levando ao aquecimento.

Incêndios grandes e frequentes em florestas boreais e tropicais podem transformar sumidouros de carbono em fontes de gases de efeito estufa.

Incêndios florestais mais frequentes e mais intensos podem produzir uma mudança a longo prazo na composição das espécies vegetais e na estrutura dos ecossistemas florestais. Os incêndios recorrentes também podem se tornar mais comuns, reduzindo potencialmente a regeneração pós-incêndio. Dependendo do tipo de floresta original, os incêndios recorrentes podem possivelmente resultar em uma mudança para uma vegetação não florestal.

Qual é o papel da mudança climática?

A mudança climática está aumentando o risco de incêndios maiores e mais intensos. O clima quente e seco prolongado reduz a umidade da vegetação, aumentando o risco de ignição e propagação do fogo. Em contrapartida, uma precipitação elevada fora do normal aumenta o crescimento das plantas que depois servem como combustível na próxima estação seca.

A mudança climática também está causando raios mais frequentes, que são o motor predominante dos incêndios florestais nas florestas boreais da América do Norte e do norte da Sibéria.

Contra-ataque

O desenvolvimento de capacidades financeiras e técnicas para gerenciar adequadamente os incêndios é fundamental, especialmente nos países emergentes. Nas últimas décadas, tem surgindo um crescente reconhecimento da necessidade do manejo indígena de incêndios para prevenir que esses eventos atinjam níveis maiores e mais destrutivos nos ecossistemas de savana e nas pradarias.

Na América do Sul, por exemplo, alguns países incorporaram elementos indígenas em suas estratégias de combate aos incêndios florestais. Em 2014, o Brasil lançou no Cerrado um programa de manejo de incêndios florestais liderado por uma comunidade indígena, que reduziu a área queimada pelos incêndios em até 57% e mitigou 36% das emissões de gases de efeito estufa associadas. Mais de 2.000 brigadistas de incendios locais, de comunidades tradicionais e indígenas estão sendo contratados e treinados anualmente.

O que mais pode ser feito?

Adoção de novas ferramentas e tecnologias:
A Austrália é um exemplo de como as tecnologias emergentes podem servir de alavancas para evitar incêndios florestais. A abordagem australiana se concentra na construção de resiliência e capacidade antes da ocorrência de desastres. O país desenvolveu habilidade de previsão de longo prazo para condições climáticas favoráveis a incêndios florestais. As projeções de mudanças climáticas são fornecidas a grupos de gestão de emergência, incluindo agências e administradores de incêndios florestais.

Globalmente, melhorias nas capacidades de detecção remota - satélites, radar terrestre, detecção de raios e manipulação de dados - podem nos ajudar a monitorar e melhor gerenciar os incêndios florestais.

Atribuições:

Zena Kells: Produtora de áudio 

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Mudanças Fenológicas

A Fenologia refere-se ao estudo de eventos sazonais em ciclos de vida biológicos. Em suma, a sincronia é crucial no mundo natural: por exemplo, quando aves migratórias voam ou quando as plantas florescem. Clique nos animais para ouvir como seu ciclo de vida está sendo impactado.

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Aves migratórias europeias
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Uma análise da época de chegada de 117 espécies de aves migratórias europeias na primavera ao longo de cinco décadas sugere níveis crescentes de desajustes fenológicos aos eventos dessa estação, o que contribuiu para a diminuição da população de algumas espécies migrantes, particularmente daquelas que invernam na África subsaariana.
Cegonha-branca
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A cegonha-branca é uma ave migratória de vida longa que passa o inverno todo na África. Descobriu-se que elas passaram a adiantar o tempo de chegada aos locais de reprodução em diferentes partes da Europa e a nidificar mais cedo para evitar o desencontro com o suprimento de alimentos. A reprodução precoce expõe os filhotes a condições climáticas desfavoráveis, tais como vento e chuvas fortes. Com a previsão de que os eventos climáticos extremos se tornarão mais frequentes devido às mudanças climáticas, a mortalidade dos filhotes de cegonha-branca pode aumentar no futuro.
Baleia-jubarte
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As baleias comum e jubarte adiantaram a chegada ao Golfo de São Lourenço, no Canadá, em um dia por ano nos últimos 27 anos, a fim de acompanhar uma ruptura anterior do gelo e o aumento da temperatura da superfície do mar, o que desencadeia a floração do plâncton.

A baleia-comum percorre curtas distâncias na sua migração, os indivíduos da espécie se deslocam apenas algumas centenas de quilômetros da província de Nova Escócia, no Canadá, para evitar o mar coberto de gelo. As implicações da mudança da fenologia da migração poderiam ser mais severas para as espécies migrantes de longas distâncias como baleias jubarte que precisam viajar milhares de quilômetros de e para seus locais de reprodução nas Índias Ocidentais.
Borboleta-monarca
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A borboleta-monarca norte-americana é conhecida por sua jornada de 4.300 km entre as áreas de verão onde reproduzem, no sul do Canadá e norte dos Estados Unidos, e os locais onde passam o inverno, no centro do México. A duração reduzida do dia e a temperatura mais baixa no outono costumam levá-la a voar para o sul. Uma análise da migração ao longo de 29 anos mostra que essas espécies atrasaram a migração em 6 dias por década devido às temperaturas mais quentes do que o normal.
Gansos bernaca
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Por volta de abril, os gansos conhecidos como bernaca (Branta leucopsis) geralmente fazem uma longa viagem desde sua área de inverno na costa do Mar do Norte até os locais de reprodução no norte da Rússia e em Svalbard, na Noruega. Em sintonia com as mudanças climáticas, eles se ajustaram à migração anterior para evitar desajustes com os alimentos no destino. Normalmente eles precisam parar ao longo do Mar Báltico para se alimentar e obter reservas nutricionais suficientes para a produção de ovos antes de continuar até seu destino. Para acelerar a viagem, eles estão sendo obrigados a pular os locais de parada. Apesar da chegada antecipada, esses gansos não conseguem adiantar as datas de deposição de ovos porque, primeiro, precisam construir estoques de alimentos nos locais de reprodução. Como resultado, os ovos eclodem tarde e sofrem com a redução da taxa de sobrevivência.
Tartarugas Migratórias
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Uma série de tartarugas marinhas migratórias responderam ao aquecimento da temperatura da água do mar mudando a época de nidificação. Foi constatado que as populações da tartaruga-cabeçuda têm nidificado mais cedo, enquanto as populações da tartaruga-de-couro têm atrasado a nidificação. Entretanto, as mudanças observadas na fenologia dos ninhos são provavelmente insuficientes para acompanhar as condições ambientais ideais em um clima em rápida mudança. As temperaturas da praia durante a incubação influenciam o sucesso da eclosão e determinam diretamente o sexo dos animais - com temperaturas mais altas, os animais nascem do sexo feminino. O sucesso da eclosão e a proporção de sexo desequilibrado terão implicações para as populações de tartarugas marinhas.

Mudanças Fenológicas

A Fenologia refere-se ao estudo de eventos sazonais em ciclos de vida biológicos. Em suma, a sincronia é crucial no mundo natural: por exemplo, quando aves migratórias voam ou quando as plantas florescem. Clique nos animais para ouvir como seu ciclo de vida está sendo impactado.

Grande parte da fenologia depende da temperatura, e é por isso que as mudanças fenológicas nas últimas décadas estão entre as consequências mais visíveis da mudança climática. Os desajustes fenológicos estão alterando uma série de eventos do ciclo de vida, incluindo a migração, reprodução, hibernação, floração, desenvolvimento larval e taxas de crescimento.

Conforme nosso planeta aquece, as mudanças fenológicas estão ocorrendo mais rapidamente nos ambientes marinhos do que nos ecossistemas terrestres, o que afeta várias espécies. Os padrões migratórios do salmão do atlântico e da truta-marrom dependem da temperatura. Diferentes respostas fenológicas às mudanças climáticas entre ecossistemas de água doce e terrestres podem afetar animais que são dependentes de ambos os ecossistemas, como muitos insetos, anfíbios ou aves. Isso poderia causar rupturas em suas teias alimentares e, em última instância, a perda de biodiversidade.

Outras aves, como o arau-comum (Uria aalge), precisam sincronizar com precisão a sua reprodução com a migração costeira de suas presas principais, os pequenos peixes forrageiros. 

Mamíferos como a rena também enfrentam desafios quando o nascimento na primavera não coincide mais com o pico de fornecimento de alimentos.

O que pode ser feito?

Medidas de conservação e manejo de ecossistemas poderiam ser tomadas para incentivar a microevolução, na qual as espécies evoluem para atender às novas condições.

A criação de zonas de fauna selvagem melhora a conectividade entre o habitat e a biodiversidade, o que pode ajudar na sobrevivência dessas espécies a curto prazo. Quanto mais diversidade genética uma espécie tiver, maiores as chances de esta se adaptar com sucesso às mudanças climáticas.

Ainda assim, a maneira mais impactante de diminuir os descompassos fenológicos é com a redução drástica das emissões de CO2, mitigando assim o impacto da mudança climática sobre os sistemas ecológicos e a biodiversidade global.

Atribuições:

Zena Kells: Produtora de áudio 

Mudanças Fenológicas

Jeremy Minns - XC101564, tico-tico, Zonotrichia capensis costaricensis  

David Ricardo Rodríguez Villamil - XC338156, tico-tico, Zonotrichia capensis costaricensis 

Richard E. Webster - XC334951, tico-tico, Zonotrichi​a capensis septentrionalis  

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