Permitam-me começar agradecendo ao Quênia e à Suécia, que serão os anfitriões da conferência Estocolmo+50 em junho. Também agradeço às copresidências: Canadá, Equador, Egito, Alemanha, Indonésia e Finlândia, pelo engajamento e liderança.
Como eu disse durante as celebrações do PNUMA aos 50 que deram seguimento a uma bem sucedida e inspiradora quinta Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente realizada na única sede da ONU no Sul Global — Nairóbi — no mês passado, o movimento ambiental percorreu um longo caminho desde seu nascimento na conferência de Estocolmo de 1972.
Por meio das conferências realizadas no Rio em 1992 e 2012, aproximamos o meio ambiente das agendas sociais e de desenvolvimento. 2015 foi o ano da integração dos três pilares na agenda de 2030. E, no entanto, ainda não chegamos lá. A importância de um meio ambiente saudável para sustentar as oportunidades de desenvolvimento atuais e futuras e o bem-estar humano não é totalmente reconhecida e tampouco atendida. Precisamos agir urgentemente para assegurar que essa interconexão seja contemplada em nossas políticas e ações
Portanto, sim, a conferência Estocolmo+50 nos dias 2 e 3 de junho será um momento para refletir novamente sobre essa jornada. Uma jornada na qual estamos começando a entender que devemos transformar nossas sociedades e economias visando proteger a Terra para que ela possa nos sustentar. Mas, acima de tudo, a conferência será um momento de olhar para frente e encontrar novas maneiras de realizar essa transformação.
Colegas, a Estocolmo+50 é um momento para refletir e fortalecer a união global quanto a questões que abordam nosso futuro comum.
Hoje, em alguns aspectos, não somos tão diferentes daqueles de 1972. Estamos disseminando mensagens sobre os vínculos entre desenvolvimento, pobreza, bem-estar humano e cuidados com o planeta. Mas há uma grande diferença: sabemos muito mais agora do que sabíamos na época.
A ciência tem revelado a magnitude da tripla crise planetária, a crise da mudança climática; a crise da perda da natureza e da biodiversidade; e a crise da poluição e dos resíduos. E a ciência tem delineado como essas crises têm atingido mais intensamente as comunidades vulneráveis. O IPCC nos diz que o aquecimento global tem causado injustiça climática e perturbações perigosas para o mundo natural. A IPBES nos diz que a natureza e a perda da biodiversidade estão minando os ODS. E cientistas e pesquisadores estão nos dizendo que a poluição e o desperdício estão matando dezenas de milhões de pessoas todos os anos.
Mas a ciência e o movimento ambiental também proporcionaram um entendimento das soluções. Eles despertaram uma vontade de agir, que contagiou todo o mundo. Temos um direito humano a um meio ambiente saudável e limpo. A juventude exige mudança. Governos, cidades e regiões estão entrando em ação. As empresas estão agindo. Os investidores estão agindo. Mesmo assim, não estamos fazendo o suficiente para enfrentar a tripla crise e garantir a estabilidade planetária. A Estocolmo+50 pode ser o momento em que assumiremos o compromisso de não apenas fazer o suficiente, e sim mais do que o suficiente.
Em um mundo já desigual, a Estocolmo+50 é uma chance de remodelar as interações nacionais e globais. Uma chance de entregar a equidade. Uma chance de ampliar um movimento global para um mundo mais solidário, um movimento que assume as preocupações da juventude e das pessoas vulneráveis. Um mundo que cria relações de confiança. Um mundo que transforma compromisso em ação.
Colegas, os dois dias da Estocolmo+50 serão organizados em torno de segmentos de plenários, três diálogos de liderança e eventos paralelos - com o foco em um planeta saudável para a prosperidade de todos e todas.
Buscamos resultados claros e concretos: recomendações e promessas de ação em todos os níveis. Em particular, os três diálogos de liderança devem proporcionar uma plataforma para o progresso. O primeiro diálogo focará na necessidade urgente de ações para se alcançar um planeta saudável e prosperidade para todos e todas. O segundo, na recuperação inclusiva e sustentável após a pandemia. E o terceiro, em como acelerar a implementação da dimensão ambiental do desenvolvimento sustentável no contexto da década da ação.
A Estocolmo+50 nos proporciona essencialmente quatro oportunidades abrangentes. Podemos reconstruir relações de confiança para fortalecer a cooperação e a solidariedade. Podemos acelerar ações em todo o sistema para nos recuperarmos e progredirmos diante da pandemia. Podemos construir pontes entre todas as agendas globais que afetam nosso meio ambiente, economias e sociedades. Podemos repensar medidas de progresso e bem-estar para proporcionar uma nova bússola para o benefício coletivo.
Esses são os conceitos e áreas abrangentes, mas o que, concretamente, precisamos ver nascer na Estocolmo+50?
Bem, estamos procurando novas maneiras de abordar o consumo e a produção insustentáveis, que estão no centro da tripla crise planetária.
Estamos à procura de abordagens inovadoras de financiamento. Sim, precisamos alinhar a recuperação da COVID-19 às metas ambientais globais, mas também precisamos considerar abordagens progressivas para a reestruturação ou cancelamento da dívida — tais como a troca de dívidas por medidas de conservação da natureza.
Estamos procurando ações que transformem os subsídios prejudiciais, aqueles que patrocinam os combustíveis fósseis, por exemplo, em subsídios ambientais a favor das populações pobres.
Buscamos o reconhecimento real e o compromisso com o novo direito a um meio ambiente seguro e saudável.
Estamos procurando ações urgentes para um planeta saudável — e nesse sentido, podemos nos inspirar na UNEA 5.2, que coloca a poluição plástica no topo da agenda global, concordando em negociar um acordo global para acabar com esse problema persistente e difundido.
Procuramos aderir à Abordagem One Health, que trata a saúde humana, animal e planetária como uma só.
Sobretudo, a Estocolmo+50 deve incorporar o mundo inclusivo e pacífico que queremos construir por meio de um multilateralismo revigorado.
Neste momento, todos nós estamos preocupados com conflitos. Não apenas o que está se desenrolando na Europa, mas os conflitos, grandes e pequenos, em todo o mundo. As pessoas estão sofrendo e morrendo. E o meio ambiente está sofrendo, o que traz consequências muito tempo depois do fim de um conflito.
A Estocolmo+50 pode ser um momento de paz: deve demonstrar que o multilateralismo nos une e pode acabar com os conflitos que têm atrasado o mundo por muito tempo. Deve definir os parâmetros de igualdade, equidade e respeito em todas as áreas.
Estou falando de equidade e responsabilidade intergeracional, para que nossa juventude tenha uma voz ativa em seu próprio futuro.
Estou falando do empoderamento das mulheres em todos os níveis e setores da sociedade. Não apenas porque é justo, mas porque a quando se tem o melhor da liderança feminista ao máximo, ela é nutridora e abraça a paz.
Estou falando em respeitar, ouvir e capacitar os povos indígenas — que, como guardiões da natureza, fazem um trabalho muito melhor do que a maioria de nós.
Todas as vozes devem ser ouvidas na Estocolmo+50. Convido a todos a comparecer, engajar-se e moldar nosso futuro comum.
Para cumprir esse compromisso, estabeleci duas fontes de apoio financeiro na semana passada — uma para apoiar a participação dos delegados e delegadas dos países em desenvolvimento, e outra para apoiar a participação de diferentes grupos importantes e partes interessadas.
Gostaria de reiterar meu convite para receber suas generosas contribuições, a fim de trazer essas vozes para Estocolmo.
Colegas, nós herdamos uma Terra com problemas, isso é verdade. Mas é também uma Terra rica em oportunidades.
É tão fácil cair na ansiedade e no desespero quando olhamos para a forma como o mundo se transformou. Porém, precisamos nos lembrar que as coisas sempre pioram antes de melhorar.
O conhecimento e a tecnologia abriram tantas possibilidades a tantas pessoas. A ciência nos deu de bandeja as soluções para a tripla crise planetária. Dê uma chance à natureza, e ela se recuperará e então será nossa maior aliada.
Um novo amanhecer surge no horizonte. Mas devemos dirigir o mundo para ele, não para longe dele. A Estocolmo+50 será um momento para avançarmos juntos, em solidariedade e ação coletiva, para alcançarmos esse futuro mais brilhante.
Obrigada.