Muitos ecossistemas ao redor do mundo, das florestas aos recifes de coral, estão em declínio, vítimas da poluição, da mudança climática e da extração de recursos.
Mas as organizações baseadas na fé têm se emprenhado cada vez mais para ajudar a reparar os espaços naturais. Em muitos casos, lideranças religiosas se tornaram influenciadores ambientais, defendendo soluções baseadas na natureza que, segundo especialistas, são cruciais para salvar os ecossistemas que sustentam a sociedade humana.
"As comunidades religiosas, motivadas por valores espirituais e movidas por uma responsabilidade ética, exercem enorme influência social e política quando se trata de promover ações para restaurar os ecossistemas", diz Iyad Abumoghli, Diretora da Iniciativa Fé pela Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
"Os caminhos para os atores religiosos contribuírem para a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas 2021-2030 são explorados em nossa Estratégia para o Papel dos Atores da Fé na Restauração dos Ecossistemas", acrescenta ele.
Com vistas à Década da Restauração de Ecossistemas, que será lançada no final deste ano, aqui está um olhar sobre o que algumas organizações religiosas estão fazendo para proteger e restaurar áreas naturais.
Salvando as florestas da Etiópia
A Etiópia abriga 35.000 florestas pertencentes às igrejas ortodoxas de Tewahedo, às quais pertence mais da metade dos etíopes. Estes férteis oásis, que variam de 3 a 300 hectares, são remanescentes das florestas naturais que um dia cobriam a Etiópia.
A Igreja de Tewahedo e os moradores locais estão tentando diminuir a degradacão das florestas de propriedade da igreja, que veem como símbolos do céu na Terra. Em termos mais mundanos, eles também sequestram carbono, conservam água, reduzem a erosão do solo, fornecem medicamentos naturais e abastecem os habitantes locais com materiais de construção.
Plantar 1 milhão de árvores
Sikhs ao redor do mundo estão ocupados plantando 1 milhão de árvores para reverter o declínio ambiental. A iniciativa visa ajudar as pessoas a se reconectarem com a natureza como parte das celebrações que marcam 550 anos desde o nascimento do fundador do Sikhismo, Guru Nanak, cujos escritos falam sobre a necessidade de aprender lições da natureza.
Dezenas de milhares de árvores já foram plantadas, principalmente na Índia, mas também na Austrália, no Quênia, no Reino Unido e nos Estados Unidos.
A agricultura Yogue na Índia
Cerca de 1.000 agricultores(as), inspirados pela Brahma Kamaris, estão engajados(as) na "agricultura yogue sustentável". Isto requer um estilo de vida vegetariano, práticas tradicionais de agricultura orgânica, criação ética de animais e outras práticas sustentáveis, juntamente com a meditação.
Os primeiros dados coletados através de um estudo de campo em Gujarat sugerem que a agricultura iogica sustentável resultou em custos menores para os agricultores, reduziu a pressão sobre o meio ambiente, melhorou o bem-estar emocional dos agricultores e aumentou a resiliência da comunidade.
Protegendo lugares sagrados através do ecoturismo no Japão
Hakusan é um dos locais naturais sagrados mais antigos do Japão, datando de 717 quando foi fundado por um padre budista. Em 1962 foi designado como Parque Nacional Hakusan e em 1982 como uma reserva da biosfera.
Cerca de 50.000 pessoas por ano fazem uma peregrinação a Hakusan para visitar o santuário no topo da montanha e rezar por uma boa saúde e uma colheita abundante.
A flora, a fauna e as florestas da região são o lar de macacos, ursos, águias douradas e outros animais e têm um valor espiritual e prático. Os itens comestíveis incluem castanhas, samambaias e brotos de bambu, e os quatro principais rios são o lar de peixes como a truta da montanha iwana e a truta japonesa.
Jardim Botânico no Qatar
Em 2008, a Fundação do Qatar para Educação, Ciência e Desenvolvimento Comunitário criou um jardim botânico corânico em Doha. Ele compreende 60 espécies vegetais mencionadas no Alcorão, o Hadith (Ditos do Profeta Maomé) e o Sunnah (Tradições do Profeta Maomé). Estas espécies pertencem a três grupos principais: plantas do deserto, como a cabaça amarga; plantas mediterrâneas, como as azeitonas; e plantas tropicais, como o gengibre selvagem. O jardim procura ser um centro mundial de educação e pesquisa com o objetivo de promover a valorização e a responsabilidade pela preservação do mundo natural.
Plantando árvores nas Filipinas
O corte comercial de madeira nas Filipinas eliminou do país grande parte de sua biodiversidade natural e prejudicou o abastecimento natural de água doce. Montanhas degradadas, florestas esgotadas e bacias hidrográficas erodidas estão causando inundações que, juntamente com tufões, têm destruído vidas, animais, árvores, colheitas e infraestrutura.
A Mission East Asia National Support está embarcando em um projeto de redução de risco de desastres chamado Plante com Propósito (Plant with Purpose). "As árvores são uma parte importante da qualidade de vida - ambiental, cultural e econômica", diz a Missão. "Sua ajuda e as comunidades que estarão envolvidas deixarão um legado de árvores, uma apreciação do valor da cobertura verde, e fortes parcerias comunitárias para as gerações futuras".
Muitos cristãos acreditam que, como administradores de Deus do meio ambiente natural, são obrigados a plantar árvores que não só sustentam a subsistência local, mas também substituem árvores destruídas por tufões.
A Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas 2021-2030, liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), é um chamado à ação e uma plataforma global que reunirá apoio político, pesquisa científica e suporte financeiro para ampliar intensivamente a restauração de ecossistemas terrestres, costeiros e marinhos.
A Iniciativa Fé pela Terra do PNUMA, lançada em novembro de 2017, procura envolver e estabelecer parcerias com grupos baseados na fé para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs). A Fé pela Terra tem três objetivos principais: inspirar e capacitar as organizações religiosas e seus líderes a defenderem a proteção do meio ambiente, os investimentos e ativos das organizações baseadas na fé verde para apoiar a implementação dos SDGs, e ajudar essas organizações e seus líderes a se comunicarem efetivamente com os tomadores de decisão e o público.