1. Impactos físicos
Segundo agências de notícias, mais de 18 milhões de hectares foram queimados na temporada australiana de incêndios florestais 2019-2020 em meados de janeiro. Foram destruídos mais de 5,9 mil edifícios, incluindo mais de 2,8 mil casas. Além das mortes humanas, milhões de animais foram mortos.
2. Impactos ecológicos e na biodiversidade
Após a devastação inicial dos incêndios, os impactos ainda estão sendo observados. A estimativa é de que um bilhão de animais, e muitos outros morcegos e insetos, provavelmente morram nas próximas semanas e meses como resultado da perda de habitat e fontes de alimento.
Essa perda faz parte de um cenário muito maior de um mundo em que a biodiversidade está em declínio acentuado. O Pnuma destaca que o mundo está perdendo a vida selvagem em uma escala cada vez maior, com impactos em ecossistemas vitais para a produção global de alimentos.
A biodiversidade terrestre do mundo está concentrada nas florestas. Elas abrigam mais de 80% de todas as espécies terrestres de animais, plantas e insetos.
Por isso, quando as florestas queimam, a biodiversidade da qual os seres humanos dependem para sua sobrevivência a longo prazo também desaparece. Com mais de um milhão de espécies atualmente em extinção, se nada for feito, eventos climáticos extremos como "megaincêndios" se tornaram uma preocupação crescente para a sobrevivência das espécies.
https://unenvironment.s3.us-east-2.amazonaws.com/s3fs-public/inline-images/list2.jpg">3. Saúde pública
Como resultado da intensa fumaça e poluição do ar decorrentes dos incêndios, os relatórios de janeiro de 2020 indicaram que Canberra, capital da Austrália, teve o pior índice de qualidade do ar entre todas as grandes cidades do mundo.
Incêndios florestais produzem fumaça prejudicial que pode causar fatalidades. Eles geram partículas finas de poluição do ar, o que ameaça diretamente a saúde humana, mesmo durante exposições relativamente curtas.
Perto do fogo, a fumaça é um risco à saúde, pois contém uma mistura de gases e partículas perigosa que pode irritar os olhos e o sistema respiratório. Os efeitos da exposição e inalação de fumaça variam de irritação ocular e do trato respiratório a distúrbios mais graves, incluindo função pulmonar reduzida, bronquite, asma exacerbada e morte prematura.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, idosos, pessoas com doenças cardiorrespiratórias ou doenças crônicas, crianças e pessoas que trabalham ao ar livre são particularmente vulneráveis.
4. Os impactos que cruzam fronteiras
A fumaça dos incêndios florestais pode percorrer grandes distâncias. Ela é frequentemente empurrada para a estratosfera pelo calor dos incêndios.
Segundo a Organização Mundial de Meteorologia, OMM, a fumaça dos incêndios florestais na Austrália viajou pelo Pacífico e pode ter chegado à Antártica. Ela levou a uma perigosa qualidade do ar nas principais cidades do país e afetou a Nova Zelândia e cidades da América do Sul depois que a fumaça atingiu a Argentina e o Chile.
5. Custos para a saúde mental
Incêndios não causam apenas danos físicos. Muitas pessoas sofrem traumas mentais devido à evacuação de emergência e à perda de lares, animais de estimação, pertences, gado ou outras fontes de subsistência.
Na Austrália algumas comunidades se viram incapazes de evacuar rapidamente. A perda de eletricidade fez com que os postos de combustível parassem de funcionar e até mesmo, chegou a bloquear estradas, mantendo as pessoas presas em áreas de alto risco.
Algumas delas foram forçadas a buscar segurança nas praias e nos barcos, enquanto assistiam tempestades de fogo sem precedentes. Tais experiências podem ter impactos duradouros na saúde mental nas comunidades afetadas.
6. Custos econômicos
Os custos dos incêndios para a economia australiana ainda estão sendo analisado, mas está claro que a infraestrutura foi danificada e que os impactos se estendem a setores como agricultura e turismo. Algumas empresas e instituições foram forçadas a fechar suas portas durante períodos de níveis excessivos de poluição do ar.
7. Mudança climática
Os incêndios florestais não só foram mais prováveis e intensos devido às mudanças climáticas, como também aumentaram o problema. Até a temporada de incêndios de 2019–2020 na Austrália, pensava-se que as florestas do país reabsorvessem todo o carbono liberado nos incêndios em todo o país.
Isso significaria que as florestas alcançaram zero emissões líquidas. No entanto, o aquecimento global está fazendo com que os incêndios queimem áreas verdes com mais intensidade e frequência e de acordo com o programa de monitoramento Copernicus, os incêndios florestais de 2019-2020 já emitiram 400 megatoneladas de dióxido de carbono na atmosfera.
Este índice equivale às emissões médias anuais de dióxido de carbono da Austrália nos últimos três meses. Isso aumentará as emissões anuais de gases de efeito estufa da Austrália, contribuindo para o aquecimento global e aumentará a probabilidade de mega-incêndioss recorrentes que liberarão ainda mais emissões. Este é um feedback climático profundamente preocupante.
8. Custo ambiental: poluição
As cinzas dos incêndios chegaram às áreas de recreação das escolas, nos quintais e estão sendo levadas pelas praias da Austrália, pelas fontes de água doce e bacias hidrográficas. Os locais de captações de água potável ficam tipicamente em áreas de floresta e, portanto, são vulneráveis à poluição por incêndios florestais.
A cinza do fogo contém nutrientes, como nitrogênio e fósforo, e o aumento das concentrações de nutrientes podem estimular o crescimento de cianobactérias, comumente conhecidas como algas verde-azuladas.
As cianobactérias produzem produtos químicos que podem causar uma série de problemas de qualidade da água, incluindo mau sabor e odor e, às vezes, produtos químicos tóxicos. Durante um incêndio, nuvens de fumaça, cinzas e outros detritos são levados pelo vento e se espalham.
Às vezes eles chegam ao oceano, onde acrescentam nutrientes. Quando os solos queimados atingem córregos e rios, eles fertilizam as plantas aquáticas e as algas. Os nutrientes extras podem ter benefícios. Mas, eles também podem fertilizar demais e causar excesso de crescimento de algas.
As algas absorvem oxigênio da água para crescer e esgotam o oxigênio dissolvido quando morrem e se decompõem, o que pode asfixiar peixes e outras formas de vida marinha, com impactos localizados na biodiversidade. O mesmo pode ser verdade em ambientes oceânicos, onde a fumaça demonstrou ter um impacto negativo nos ecossistemas marinhos em vários incidentes anteriores: a neblina dos incêndios florestais registrados na Indonésia matou os recifes de corais no final dos anos 90, de acordo com um estudo na Science. uma rica fumaça subia pela costa e fertilizava a água, causando uma enorme explosão de plâncton. A maré vermelha asfixiou os recifes de coral ao redor das Ilhas Mentawai, ao sudoeste de Sumatra.
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9. Impactos agrícolas
Os incêndios florestais queimaram pastagens, mataram o gado e destruíram os vinhedos. O crescimento e recuperação dessas áreas pode aumentar o uso recursos hídricos, que já são prejudicados pela seca.
relatórios indicam que o suprimento de laticínios do país provavelmente será o mais atingido. As regiões de Victoria e Nova Gales do Sul, os principais estados produtores de leite da Austrália, sofreram a maior perda de terras agrícolas e danos à infraestrutura.
A produção de carne, lã e mel também pode ser afetada. Cerca de 13% do rebanho nacional de ovinos está em regiões que foram significativamente impactadas e outros 17% em regiões parcialmente impactadas, segundo a Meat & Livestock Australia.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em seu relatório de 2019 sobre Mudanças Climáticas and Land e Terras, destacou que as mudanças climáticas já afetaram a segurança alimentar e o setor agrícola devido ao aquecimento, mudança nos padrões de precipitação e maior frequência de alguns eventos extremos. Em algumas áreas áridas, o aumento da temperatura do ar na superfície da terra, a evapotranspiração e a diminuição da quantidade de precipitação, em interação com a variabilidade climática e as atividades humanas, contribuíram para a desertificação. Essas áreas incluem a Austrália.
https://unenvironment.s3.us-east-2.amazonaws.com/s3fs-public/inline-images/list9.jpg">10. Mudanças nas atitudes do público
Embora os australianos estejam sujeitos a campanhas de desinformação e tentativas direcionadas para minar a ligação entre as mudanças climáticas e os incêndios florestais mais intensos, esta temporada de incêndios florestais deu aos australianos e ao mundo que observava o que estava acontecendo no país uma visão das catástrofes humanitárias, ecológicas e econômicas de um clima mais quente e em mudança.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e outras agências das Nações Unidas continuarão usando suas plataformas digitais para compartilhar informações e fatos precisos sobre a ciência das mudanças climáticas e como a probabilidade e a intensidade de situações extremas e trágicas de eventos climáticos como este está aumentando.