A Assembléia da ONU para o Meio Ambiente, em Nairóbi, no Quênia, é o principal fórum mundial de tomada de decisão em questões ambientais. Neste ano, o evento será realizado de 11 a 15 de março e os ecossistemas estarão no topo da agenda.
O momento não poderia ser melhor. A Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas, declarada no início de março (1) pela Assembleia Geral da ONU, visa intensificar a restauração de ecossistemas degradados e destruídos como uma medida comprovada para combater a crise climática e melhorar a segurança alimentar, o fornecimento de água e a biodiversidade.
A degradação dos ecossistemas terrestres e marinhos compromete o bem-estar de 3,2 bilhões de pessoas e custa cerca de 10% da renda global anual em perda de espécies e serviços ecossistêmicos.
Ecossistemas-chave que fornecem inúmeros serviços essenciais à alimentação e à agricultura, incluindo fornecimento de água doce, proteção contra riscos e fornecimento de habitat para espécies como peixes e polinizadores, estão diminuindo rapidamente.
“Estamos satisfeitos que nossa visão para uma Década dedicada se tornou realidade”, disse Lina Pohl, ministra do Meio Ambiente e Recursos Naturais de El Salvador, uma líder regional de restauração.
“Precisamos promover um programa de restauração agressivo que construa resiliência, reduza a vulnerabilidade e aumente a capacidade dos sistemas de se adaptar às ameaças diárias e eventos extremos”, acrescentou.
A restauração de 350 milhões de hectares de terras degradadas até 2030 pode gerar US$ 9 trilhões em serviços ecossistêmicos e remover de 13 a 26 gigatons adicionais de gases do efeito estufa da atmosfera.
“A Década das Nações Unidas para a Restauração dos Ecossistemas ajudará os países a enfrentar os impactos da mudança climática e da perda da biodiversidade”, disse José Graziano da Silva, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
“Os ecossistemas estão sendo degradados a uma taxa sem precedentes. Nossos sistemas alimentares globais e a subsistência de muitos milhões de pessoas dependem de todos nós trabalhando juntos para restaurar ecossistemas saudáveis e sustentáveis para o presente e o futuro”, acrescentou Graziano.
“A ONU Meio Ambiente e a FAO estão honradas em liderar a implementação da Década com nossos parceiros”, disse Joyce Msuya, diretora-executiva interina da ONU Meio Ambiente.
“A degradação dos nossos ecossistemas teve um impacto devastador nas pessoas e no meio ambiente. Estamos empolgados com o fato de que o impulso para restaurar nosso ambiente natural vem ganhando ritmo, porque a natureza é nossa melhor aposta para enfrentar as mudanças climáticas e garantir o futuro.”
Apelo global à ação
A Década, um apelo global à ação, reunirá o apoio político, a pesquisa científica e o fortalecimento financeiro para ampliar a restauração de iniciativas-piloto bem-sucedidas para áreas cobrindo milhões de hectares. Pesquisas mostram que mais de 2 bilhões de hectares das paisagens desmatadas e degradadas do mundo oferecem potencial para restauração.
A Década acelerará as metas de restauração global existentes – como o Desafio de Bonn, que visa restaurar 350 milhões de hectares de ecossistemas degradados até 2030, uma área quase do tamanho da Índia.
Atualmente, 57 países, governos subnacionais e organizações privadas se comprometeram a trazer mais de 170 milhões de hectares em restauração. Esse esforço se baseia em esforços regionais, como a Iniciativa 20×20 na América Latina, que visa restaurar 20 milhões de hectares de terras degradadas até 2020, e a Iniciativa AFR100 de Restauração da Paisagem Africana de Floresta, cujo objetivo é restaurar 100 milhões de hectares de terras degradadas até 2030.
A restauração do ecossistema é definida como um processo de reversão da degradação dos ecossistemas, como paisagens, lagos e oceanos, para recuperar sua funcionalidade ecológica; em outras palavras, melhorar a produtividade e capacidade dos ecossistemas para atender às necessidades da sociedade. Isso pode ser feito permitindo a regeneração natural de ecossistemas superexplorados, por exemplo, ou plantando árvores e outras plantas.
A restauração de ecossistemas é fundamental para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, os ODS, principalmente aqueles sobre mudança climática, erradicação da pobreza, segurança alimentar, bem como conservação da água e da biodiversidade.
É também um pilar das convenções ambientais internacionais, como a Convenção de Ramsar sobre as zonas úmidas e as Convenções do Rio sobre biodiversidade, desertificação e mudança climática.
Atualmente, cerca de 20% da superfície do planeta apresenta declínio na produtividade, com perdas de fertilidade ligadas à erosão, ao esgotamento e à poluição em todas as partes do mundo.
Até 2050, a degradação e as mudanças climáticas poderão reduzir o rendimento das colheitas em 10% a nível mundial e até 50% em certas regiões.