De fortes ciclones a secas extremas, eventos climáticos extremos, induzidos pelo homem, tornaram-se, hoje, um fenômeno cotidiano. Conforme declarado no Relatório sobre a Lacuna de Emissões recentemente publicado, nos 10 anos de produção do relatório, a diferença entre o que deveríamos fazer para reduzir os impactos das mudanças climáticas e o que realmente estamos fazendo é grande, e não mudou.
Fatores sociais e econômicos afetam quais países e comunidades serão mais afetados e precisarão de maior ajuda humanitária. Agora, uma carta publicada na revista Science levanta preocupação sobre o impacto das mudanças climáticas sobre as pessoas com deficiência. Segundo a carta, emergências climáticas podem afetar desproporcionalmente as pessoas com deficiência por causa de suas vulnerabilidades inerentes e acesso limitado ao conhecimento.
"Há muito pouca pesquisa sobre o assunto", disse Aleksandra Kosanic, Pesquisadora de Geografia da Universidade de Konstanz, que tem paralisia cerebral, e principal autora da carta. "As pessoas com deficiência precisam ser consideradas e incluídas na conversa sobre as mudanças climáticas e seus riscos".
Para tal, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente está trabalhando em todo o mundo para responder e preparar-se para desastres e crises induzidas pelo homem. O trabalho de compartilhamento de conhecimento ajuda os países e as comunidades a encontrar maneiras de mitigar os riscos ambientais e enfrentar os desafios existentes. Os países que emergem de crises receberão informações sobre como fortalecer sua gestão ambiental.
Enquanto os países membros da ONU e a equipe do PNUMA se reúnem na Conferência sobre Mudança Climática da ONU (COP 25) em Madri e enquanto o mundo celebra o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência este mês, Kosanic nos apresenta três maneiras pelas quais as mudanças climáticas afetam as pessoas com deficiência:
1. Pessoas com deficiência provavelmente terão acesso limitado ao conhecimento, recursos e serviços para responder efetivamente às mudanças ambientais.
O principal relatório da ONU sobre deficiência e desenvolvimento mostra que as pessoas com deficiência e, em particular, os jovens com deficiência, estão ficando para trás da média no que tange ao acesso à educação superior. Quando você tem mais conhecimento, toma decisões com mais facilidade. Em eventos extremos como esse, pessoas com acesso a uma educação de qualidade, têm mais chances de sobreviver. Em países menos desenvolvidos mulheres podem não ser ensinadas a nadar, uma habilidade que pode ser crucial em um evento climático extremo. Isso é ainda mais importante se forem responsáveis por cuidar de uma pessoa com deficiência.
“As pessoas com deficiência precisam ser melhor incluídas no sistema educacional. Para isso, primeiro precisamos de universidades e escolas acessíveis. Precisamos educar a comunidade com deficiência sobre o que fazer se um evento climático acontecer”, disse Kosanic.
2. Pessoas com deficiências são mais vulneráveis aos efeitos de eventos climáticos extremos, perdas de serviços ecossistêmicos ou doenças infecciosas
Em situações de emergência climática, as pessoas com deficiência podem ser mais vulneráveis à contração de doenças infecciosas por causa de condições subjacentes, que podem impedir que elas se desloquem e acessem água e saneamento de forma independente. Por exemplo, verificou-se que o furacão Katrina impactou desproporcionalmente 155.000 pessoas com deficiências.
“Em uma emergência climática, se você estiver imóvel por causa de uma condição subjacente, estará mais propenso a contrair uma doença infecciosa transmitida pela água. Mas mesmo em eventos não extremos, como a poluição do ar, sua saúde pode ser comprometida a longo prazo”, afirmou Kosanic.
3. As pessoas com deficiência têm mais probabilidade de ter dificuldades durante processos de migração ou desocupação.
Em eventos climáticos devastadores como furacões, inundações e ciclones, pessoas com deficiência podem ter dificuldade em sair do local, devido a questões como mobilidade limitada ou sentidos prejudicados. Embora a maioria das equipes de resgate seja treinada para resgatar alguém com deficiência, a população com deficiência também deve poder instruir pessoas sobre o que fazer para ajudá-los. As autoridades da cidade precisam se comunicar com organizações de pessoas com deficiência para organizar a evacuação segura de grupos vulneráveis.
Com eventos climáticos extremos e desastres previstos a aumentar, é preciso fazer mais para planejar e proteger os mais vulneráveis em nossas sociedades. O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência lembra-nos a importância de pensar diferente enquanto trabalhamos para construir sociedades mais justas e inclusivas.